REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
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INTRODUÇÃO
A
adolescência é um período caracterizado por experimentações, quando o indivíduo
procura descobrir sua identidade no mundo. Nesse processo, o adolescente tente
a adotar comportamentos de saúde influenciados pelo denominado pensamento mágico,
que o faz acreditar que nada de ruim poderá lhe ocorrer(1-2). Diante
disso, o público adolescente constitui-se como público vulnerável, com maior
pré-disposição a comportamentos de risco para diversos problemas de saúde, tais
como condutas sexuais inadequadas, incluindo a relação sem uso do preservativo(3).
Dados
justificam a preocupação da saúde pública com os adolescentes, visto que o
boletim epidemiológico aponta que desde o ano de 2006 o número de novos casos
de adolescente de 15 a 19 anos infectado com o vírus da imunodeficiência
adquirida (HIV)/aids tem aumentado, onde em 2006, eram 2,4/100.000 habitantes;
já em 2016, 6,7/100.000 habitantes, o que leva a concluir que os adolescentes
têm adotado comportamentos inadequados frente às práticas sexuais(4).
Para alcançar a redução do número de novos casos de adolescentes infectados com
HIV/aids é preciso garantir conhecimento sobre a transmissão de infecções
sexualmente transmissíveis (IST), como a do HIV/aids(5).
A
aquisição de conhecimento não garante a modificação do comportamento; porém, é
um pré-requisito para isto. Desse modo, quando o adolescente têm conhecimento
adequado sobre sua sexualidade, tem mais oportunidades de ter práticas sexuais
seguras, ao contrário dos que detêm conhecimento insuficiente, que são expostos
facilmente a situações de risco(5-6). O conhecimento é considerado,
ainda, um fator importante na alteração comportamental do indivíduo. Embora os
adolescentes tenham acesso a informações sobre a sexualidade em diversas
fontes, como amigos, escola, televisão, Internet(7), nem sempre a
informação é adequada.
Existem
lacunas em relação ao conhecimento dos adolescentes sobre prevenção, mesmo
estes considerando seu conhecimento satisfatório. Estudos apontam a necessidade
informar os adolescentes quanto à promoção de sua saúde e a prevenção de
doenças, principalmente as transmissíveis(8). Para realizar esse
compartilhamento de informação se faz necessário que o informante (profissional
capacitado) se insira nos ambientes nos quais estes indivíduos convivem,
podendo ser ambientes físicos como os virtuais, nos casos das redes sociais.
Destarte,
é imprescindível a criação de estratégias inovadoras que despertem o interesse
por parte dos adolescentes a participarem das ações e se tornarem protagonistas
de seu cuidado.
Diante
dessa situação e da motivação do papel da Enfermagem na educação em saúde,
surgiu o interesse no presente estudo, partindo do pressuposto de que uma
estratégia do tipo discussão em ambiente virtual (Whatsapp®), denominada nesta pesquisa como Grupo Virtual
de Saúde (GVSau), poderia ser favorável para a promoção de conhecimento e
atitudes adequadas para o uso adequado do preservativo por adolescentes
escolares. Nesse âmbito, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar a estratégia
educativa Grupo Virtual de Saúde (GVSau) como um recurso de promoção do uso
adequado do preservativo por adolescentes escolares.
MÉTODO
Estudo
quase experimental do tipo antes e depois, de abordagem mista, realizado em uma
escola de integração de ensino médio e profissionalizante de tempo integral,
situada na região do Maciço de Baturité, Ceará, Brasil. No ano de 2018 haviam
360 alunos matriculados com a faixa etária desejada, nos diversos cursos
técnicos: Comércio, Enfermagem, Informática e Redes de Computadores.
A amostra inicial foi composta por 68 adolescentes escolares e se deu por adesão voluntária. Foram incluídos adolescentes de 14 a 17 anos, regularmente matriculados e que possuíssem telefone celular compatível com o aplicativo Whatsapp®. Houve perda do seguimento por parte de seis adolescentes, os quais voluntariamente desistiram da participação, e foram excluídos três, por não compartilharem nenhuma mensagem no decorrer da intervenção educativa. A amostra final foi, portanto, composta por 59 participantes.
A pesquisa
foi desenvolvida em quatro fases:
Fluxograma 1: As quatro etapas
da pesquisa
O
convite para participar do estudo foi realizado em sala de aula, ocasião na
qual foi apresentado o projeto a todos os adolescentes, permitindo o igual
acesso de todos. Aos que apresentaram interesse, foi oferecido o Termo de
assentimento para assinatura do adolescente e o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) para assinatura de seus pais e/ou responsável legal.
Posteriormente ao recebimento de todos os termos preenchidos, aplicou-se o
pré-teste a partir de um instrumento(9), sobre Conhecimento, Atitude
e Práticas (CAP) acerca do uso do preservativo, o qual foi adaptado aos
objetivos deste estudo, sendo incluída uma seção referente ao perfil dos
adolescentes.
Na
etapa seguinte, foram apresentados os cinco passos adotados no Arco de Maguerez(10),
os quais foram utilizados na intervenção educativa. Realizada a apresentação,
criou-se um grupo com todos os participantes e foi simulado como se daria a
dinâmica da intervenção. Após a realização desta simulação, os grupos foram
criados, respeitando os princípios da metodologia do Problem Based
Learning (PBL), a qual
aconselha que cada grupo de discussão deve ser formado por 6 a 15 pessoas,
oportunizando a todos expor suas considerações(11-12).
Para
a intervenção educativa, foram criados cinco grupos no Whatsapp®, denominados
de Grupo Virtual de Saúde (GVSau), dois grupos do sexo masculino (ambos com 11
participantes) e três do sexo feminino (dois GVSau com 12 adolescentes e um com
13). A divisão dos grupos por sexo foi estabelecida a fim de minimizar
eventuais constrangimentos advindos da exposição de questões particulares
relacionadas ao gênero.
Cada
grupo foi conduzido por um profissional da Enfermagem do sexo correspondente
aos participantes. Os GVSau tiveram duração de três semanas, cada situação
relacionada a uma variável (Conhecimento, Atitude e Prática) foi discutida
durante oito dias.
A
cada dia, os adolescentes eram conduzidos a desenvolver uma tarefa, seguindo os
cinco passos da metodologia problematizadora. No primeiro dia (segunda-feira),
a situação era lançada por cada facilitador em forma de imagem nos GVSau, este
dia e no seguinte (terça-feira), eram dedicados a leitura e compreensão da
situação problema; na quarta-feira, os facilitadores/enfermeiros faziam
pequenas instigações, motivando os adolescentes a identificarem os
pontos-chaves do problema; na quinta-feira, os adolescentes deveriam apresentar
as hipóteses de solução; após isso, da sexta-feira ao domingo, juntos, os
adolescentes criaram propostas para solucionar o caso, as quais eram
reafirmadas pelos facilitadores. A discussão resultou em 946 mensagens de
textos compartilhadas pelos participantes.
Após
as três semanas de intervenção, esperou-se um intervalo de 90 dias para
reaplicar o questionário. Este tempo é suficiente para avaliar mudanças das
variáveis conhecimento e atitudes(13).
Os
dados quantitativos foram avaliados em categorias pré-estabelecidas (Conhecimentos
e Atitudes) e, seguindo as indicações do estudo(9), depois foram
organizados em tabelas e processados no programa estatístico Epi info® (versão
7). Foram calculadas as frequências absolutas e relativas e a comparação de
grupos por meio do teste Qui-quadrado de Pearson e Exato de Fisher. Para a
avaliação da eficiência da intervenção do antes e depois, foi aplicado
especificamente o teste Qui-quadrado de McNemar para comparar a frequência dos
dados pareados para cada variável, onde cada participante era o seu próprio
controle. Foram considerados estatisticamente significativos os resultados com
nível descritivo (p-valor) inferior a 0,05.
Já
para os dados qualitativos foram utilizados os critérios de análise de conteúdo(14),
com base nos quais todos os textos foram lidos e relidos e
organizados/agrupados conforme as categorias preestabelecidas (conhecimento e atitude),
tais registros foram selecionados de acordo com sua relevância no reforço aos
dados quantitativos, assim como também por terem sido elementos disparadores
nas discussões, o qual representa uma visão geral do grupo.
O
projeto teve aprovação do Comitê de Ética da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (CEP/UNILAB) sob o número do parecer
1.800.088 e CAAE 60565216.8.0000.5576 e financiamento da Fundação Cearense de
Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Os adolescentes que
aceitaram fazer parte da pesquisa receberam, em sala de aula, o Termo de
Assentimento (TA) e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os
adolescentes foram orientados a apresentarem os documentos em casa para leitura
de seus pais, bem como a convidarem os mesmos a entrarem em contato com os
pesquisadores caso houvesse alguma dúvida. Após obtenção da assinatura do TCLE
pelos pais/responsáveis e do TA pelos adolescentes, a coleta de dados foi
iniciada. Os participantes foram renomeados
para manter seu anonimato, utilizando P (participante), número de ordem (1), G
(GVSau) o qual fizeram parte e F se do sexo feminino ou M se masculino
acompanhado de sua idade. Exemplo: (P1, G1, F16).
RESULTADOS
Dos
participantes do estudo, 44 (64,7%) eram do sexo feminino e 24 (35,3%) do sexo
masculino. Em relação às idades, houve uma variação de 14,4 a 17,6 anos, com
média de 15,7 anos (DP=0,71). Quanto a série em que estudavam 48 (70,6%) eram
do primeiro ano do ensino médio, 15 (22,1%) do segundo ano e cinco (7,4%) do
terceiro ano. A respeito do estado conjugal, 53 (77,9%) responderam ser
solteiro e o restante 15 (22,1%) estavam namorando, quanto à orientação sexual,
64 (94,1%) afirmaram ser heterossexuais e apenas quatro (5,9%) bissexuais, a
média da idade da sexarca foi de 14,8 anos (DP=1,09). Ao serem questionados
quanto sua etnia, a cor autodeclarada mais apresentada foi a parda 52 (76,5%),
seguida da branca com 10 (14,7%). A renda familiar mencionada foi de até um
salário mínimo 44 (64,7%).
A
Tabela 1 apresenta o resultado da avaliação do conhecimento, antes da
intervenção educativa, de acordo com as variáveis preditoras.
Tabela
1 - Avaliação do conhecimento (pré-teste). Redenção,
Ceará, Brasil, 2018
VARIÁVEL
DESFECHO VARIÁVEIS
PREDITORAS |
Conhecimento |
Estatística [p-valor] |
||
Adequado [%] |
Inadequado [%] |
Total |
||
Sexo |
|
|
|
|
Masculino |
10 [41,7] |
14 [58,3] |
24 |
0,4171 |
Feminino |
14 [31,8] |
30 [68,2] |
44 |
|
Orientação Sexual |
|
|
|
|
Heterossexual |
21 [32,8] |
43 [67,2] |
64 |
0,1223 |
Bissexual |
03 [75,0] |
01 [25,0] |
04 |
|
Estado Conjugal |
|
|
|
|
Solteiro |
17 [32,1] |
36 [67,9] |
53 |
0,2961 |
Namorando |
07 [46,7] |
08 [53,3] |
15 |
|
Curso
Profissionalizante |
|
|
|
|
Saúde |
08 [44,4] |
10 [55,6] |
18 |
0,0921 |
Comércio |
05 [19,2] |
21 [80,8] |
26 |
|
Informática |
11 [45,8] |
13 [54,2] |
24 |
|
Religião |
|
|
|
|
Católica |
14 [31,8] |
30 [68,2] |
44 |
0,4171 |
Evangélica |
10 [41,7] |
14 [58,3] |
24 |
|
Renda Familiar |
|
|
|
|
Até um salário |
19 [43,2] |
25 [56,8] |
44 |
0,0651 |
Mais de um salário |
05 [20,8] |
19 [79,2] |
24 |
1Qui-quadrado de
Pearson, 2Razão de verossimilhança.
Fonte: próprios
autores.
A
Tabela 2 apresenta o resultado da avaliação da atitude, antes da intervenção
educativa, de acordo com as variáveis preditoras.
Tabela 2 - Avaliação da
atitude (pré-teste). Redenção, Ceará, Brasil, 2018
VARIÁVEL DESFECHO VARIÁVEIS
PREDITORAS |
Avaliação da atitude |
Estatística [p-valor] |
||
Adequado [%] |
Inadequado [%] |
Total |
||
Sexo |
|
|
|
|
Masculino |
9 [37,5] |
15 [62,5] |
24 |
0,6491 |
Feminino |
19 [43,2] |
25 [56,8] |
44 |
|
Orientação Sexual |
|
|
|
|
Heterossexual |
26 [40,6] |
38 [59,4] |
64 |
0,5483 |
Bissexual |
2 [50,0] |
2 [50,0] |
4 |
|
Estado Conjugal |
|
|
|
|
Solteiro |
22 [41,5] |
31 [58,5] |
53 |
0,9161 |
Namorando |
6 [40,0] |
9 [60,0] |
15 |
|
Curso
Profissionalizante |
|
|
|
|
Saúde |
9 [50,0] |
9 [50,0] |
18 |
0,1711 |
Comércio |
7 [26,9] |
19 [73,1] |
26 |
|
Informática |
12 [50,0] |
12 [50,0] |
24 |
|
Religião |
|
|
|
|
Católica |
20 [45,5] |
24 [54,5] |
44 |
0,3321 |
Evangélica |
8 [33,3] |
18 [66,7] |
24 |
|
Renda Familiar |
|
|
|
|
Até um salário |
20 [45,5] |
24 [54,5] |
44 |
0,3321 |
Mais de um salário |
8 [33,3] |
18 [66,7] |
24 |
1Qui-quadrado de
Pearson, 2Teste Exato de Fisher.
Fonte: próprios autores.
Em
relação à avaliação das variáveis conhecimento (Tabela 1) e atitude (Tabela 2)
antes da intervenção educativa e as variáveis sociodemográficas não houve
diferença estatística significativa entre as variáveis preditoras e as de
desfecho. Dessa forma, constatou-se a inadequação do conhecimento e da atitude
relacionado ao uso do preservativo.
Os
dados apresentados nas tabelas também foram confirmados nas mensagens
compartilhadas nos GVSau, segundo as quais ou nas quais a maioria dos
adolescentes relataram não saber quais os cuidados que devem ter com o
preservativo, conforme expresso nas unidades de contexto a seguir:
“Cuidado em esticar bem o preservativo
antes do uso e verificar se o mesmo se encontra com algum tipo de furo”. (P1,
G2, M15)
“Não sei nenhum cuidado que se deve
ter com o preservativo (P4, G5, F17)
Cuidado ao colocar, ao tirar e
principalmente onde vai colocar depois de usado”. (P6, G3, F16)
Ainda
quanto à variável conhecimento, ressalta-se a fonte de informação dos
adolescentes sobre o uso do preservativo, identificando-se que 62 (91,2%) dos
relatos demonstram que os adolescentes conheceram o preservativo no contexto
escolar, outras fontes foram elencadas, a saber: internet, nove (13,2%); TV,
sete (10,3%); família, cinco (7,4%), amigos, quatro (5,9%) e Unidade de Atenção
primária à Saúde (UAPS), três (4,4%).
Fato
a ser destacado na variável atitude, é que os adolescentes apresentam pensamento
positivo ao apresentarem a importância de utilizar corretamente o preservativo
em todas as práticas sexuais (anal, oral e vaginal):
“A
camisinha é indicada em todos os tipos de práticas sexuais, no caso da oral e
anal muitas pessoas não utilizam por não acharem necessário, como se a
camisinha fosse prevenir somente gravidez”. (P5, G4, M15)
“O objetivo de usar a
camisinha não é somente prevenir a gravidez, é também evitar qualquer IST, seja
em qualquer tipo de prática sexual”. (P7, G4, F17)
“É necessário utilizar a
camisinha em todas práticas sexuais, pois tanto no sexo oral, anal e vaginal
estamos expostos às ISTs”. (P4, G2, M14)
A
Tabela 3 ilustra a descrição da relação significativa nas variáveis
conhecimento (p=0,007) e atitude (p = 0,009) antes e após intervenção
educativa.
Tabela
3 - Comparação dos conhecimentos e atitudes de
adolescentes escolares antes e após do GVSau. Redenção - Ceará, Brasil, 2018
Avaliação
do Conhecimento |
Pós-Teste |
[p-valor]1 |
||||
Adequado |
Inadequado |
Total |
||||
Pré-Teste |
|
|
|
|
||
Adequado
[%] |
19 [82,6] |
04 [17,4] |
23 [100,0] |
0,007 |
||
Inadequado
[%] |
17 [47,2] |
19 [56,8] |
36 [100,0] |
|||
Total
[%] |
36 [61,0] |
23 [39,0] |
59 [100,0] |
|
||
Avaliação da Atitude |
Pós-Teste |
|
||||
Adequado |
Inadequado |
Total [%] |
||||
Pré-Teste |
|
|
|
|
||
Adequado
[%] |
19 [76,0] |
06 [24,0] |
25 [100,0] |
0,009 |
||
Inadequado
[%] |
20 [58,8] |
14 [41,2] |
34 [100,0] |
|||
Total
[%] |
39 [66,1] |
20 [33,9] |
59 [100,0] |
|
||
1Teste
Qui-quadrado de McNemar.
Fonte: próprios
autores.
Uma
visão geral dos dados proporciona a identificação de um acréscimo em relação ao
conhecimento nas respostas adequadas e redução nas inadequadas em 22,1%;
enquanto na atitude este índice foi de 23,8%. Sendo assim, constata-se que a
estratégia educativa GVSau contribuiu para a aquisição de conhecimento e
atitude adequados quanto ao uso do preservativo.
Considerando
que, para a Avaliação de Conhecimento, a proporção total de respostas adequadas
foi de 23/59 (38,98%) no pré-teste e passou para 36/59 (61,02%) no pós-teste,
observa-se uma diferença de 22,04% de incremento significativo nos acertos de
questões do instrumento (p = 0,007)
após a intervenção. Uma tendência positiva também pode ser observada no caso da
Avaliação da Atitude, com um índice de conversão de 25/59 (42,4%) para 39/59
(66,1%) de respostas adequadas (23,7%) entre o pré e o pós-teste (p = 0,009). Sendo assim, constata-se que
a estratégia educativa GVSau contribuiu para a aquisição de conhecimento e
atitude adequados quanto ao uso do preservativo.
O
acréscimo no conhecimento e atitude adequados após a intervenção também foi
evidenciado nos depoimentos a seguir:
A camisinha deve ser
colocada desde o início da relação sexual até o fim. Sempre tomando os devidos
cuidados para que a sua função seja a desejada, evitando gravidez indesejada e
IST’s (P6, G3, F16)
Não abrir a embalagem com
o dente; colocar a camisinha de maneira correta e o cuidado para que a
camisinha não esteja furada. (P4, G5, F17)
A camisinha deve ser colocada
desde o início da relação sexual. É possível ter pequenas e imperceptíveis
porções de espermatozoides que são liberadas antes da ejaculação propriamente
dita (P6, G3, F16)
DISCUSSÃO
Os
adolescentes participantes do estudo, em sua maioria meninas que ainda não
haviam vivenciado a sexarca, apresentavam conhecimento e atitude inadequados
acerca do uso do preservativo. Ressalta-se que o ambiente escolar foi o mais
citado e a Unidade Básica de Saúde foi a menos citada como fonte destas
informações pelos adolescentes. A intervenção educativa com base em metodologia
ativa via Whatsapp®
promoveu aquisição de conhecimento adequado (p = 0,007) e atitude adequada (p
= 0,009) acerca do uso do preservativo.
Praticamente
todos os adolescentes (92,7%) deste estudo ainda não tiveram sua sexarca.
Resultado semelhante foi encontrado em outras pesquisas, nas quais destaca-se a
importância em educar esses sujeitos antes de iniciarem sua prática sexual, com
o intuito de prevenir as IST, bem como a gravidez na adolescência, colocando
ainda a necessidade de educar a família desses adolescentes, para assim
ajudá-los na transição da fase da infância para a adulta de forma saudável(15).
A participação ativa da família na adolescência garante segurança aos
adolescentes, proporcionando assim muitas vezes o distanciamento destes
indivíduos das zonas de vulnerabilidade.
Por
outro lado, outros adolescentes tiveram sua primeira relação sexual em média
aos 14,8 anos de forma precoce, essa idade é similar à de vários outros
estudos, que apontam que esse fato se dá entre os 13 e 15 anos(16-17).
Vários fatores contribuem para essa precocidade, a questão da autoafirmação de
sua masculinidade, a influência negativa sofrida pelos amigos, questões
culturais, sociais e de gênero(18,19).
Dentre
os comportamentos de risco para a gravidez na adolescência e a exposição às
IST, encontra-se o início precoce da relação sexual. A vulnerabilidade se
agrava ainda mais quando o adolescente faz uso de drogas, sejam elas lícitas ou
ilícitas(18-19). O problema principal não está na primeira relação
sexual precoce, mas sim no fato de o adolescente não ter conhecimento suficiente
para adotar atitudes e práticas sexuais seguras.
Estudo
realizado em Teresina, Piauí, com 258 adolescentes gestantes de 13 a 19 anos,
revela os adolescentes são carentes de informações quanto aos métodos
contraceptivos(20). Esses achados se assemelham aos deste estudo, no
qual mesmo todos os adolescentes conhecendo os preservativos, muitos apresentam
conhecimento e atitude inadequados, uma vez que não sabem os cuidados
necessários para o devido uso do preservativo. O fato de ouvir falar sobre o preservativo
não garante ao adolescente conhecimento adequado para que tenha pensamento e
prática adequados.
A
escola se destacou neste estudo por ser o local em que o adolescente mais teve
contato com a informação sobre o preservativo. Resultado que corroboram com o
estudo(21), que também destaca o ambiente escolar como o mais citado
pelos adolescentes como o local que tiveram seu primeiro contato com
informações sobre preservativos, isso porque este ambiente é considerado a
segunda casa dos adolescentes, por passarem grande parte seu tempo.
Além
do ambiente escolar, a internet também se destaca, principalmente em suas redes
sociais virtuais como no Facebook®,
Instagran®, Whatsaap®, sendo estes ambientes
favoráveis à disseminação de informações. Um estudo destaca que o ambiente
virtual proporciona um ideal espaço para a troca de experiências, podendo ser
utilizado para a discussão de assuntos relacionados a saúde sexual, pois os
adolescentes se sentem à vontade para discutir temas que são estigmatizados e
rodeados de tabus(21).
Por
outro lado, os achados deste estudo revelam que os adolescentes pouco buscam
informações nas Unidades de Assistência Primária à Saúde (UAPS). Um estudo(22)
explica esse achado em sua pesquisa com 122 adolescentes, os quais referiram
não procurar as UAPS devido à falta de um ambiente acolhedor para que possam
apresentar seus anseios, devido à falta de profissionais capacitados para
realizar a abordagem das necessidades dos adolescentes, assim como também pela
compreensão de muitos adolescentes ao entender que somente há a necessidade de
buscar assistência na presença de uma morbidade.
O
fato de os adolescentes não terem conhecimentos adequados pode induzi-los a
adotarem atitudes errôneas. Em estudo realizado com 208 jovens, verificou-se
que 40% referiram não haver a necessidade de usar preservativo quando o
relacionamento é estável e outros 20% afirmaram que quando seu parceiro pede
para usar o preservativo se sentem constrangidas(23). O agir dos
adolescentes é por impulso, pois mesmo tendo conhecimento adequado, tomam
atitudes impensadas(20).
Percebe-se
que os adolescentes não apresentam conhecimento suficiente para tomar atitudes
adequadas, pelo simples fato de o adolescente não saber os cuidados essenciais
que se deve tomar com o preservativo, isso corrobora com outros estudos que
demonstram a necessidade de adoção de práticas educativas voltadas para esse
público, antes mesmo que estes tenham relação sexual(23).
Para
que haja uma adequação desse conhecimento e dessa atitude, se requer a adoção
de estratégias educativas que contribuam com essa mudança, assim como o GVSau.
Quando a intervenção é fundamentada nas características do público-alvo, se
torna mais eficiente, podendo dessa forma promover conhecimentos e atitudes
favoráveis à saúde(23). Estudo reafirma, ao ser construído um jogo
educativo com 1176 adolescentes de 12 a 16 anos, que houve aumento do
conhecimento e da atitude após a intervenção educativa(24).
Dessa
mesma forma, o GVSau possibilitou aos adolescentes conhecimentos acerca do
preservativo o que pode diretamente modificar sua atitude, mostrando que é
preciso haver associação direta entre o conhecimento e a atitude relacionado ao
uso do preservativo, pois, se não houver, poderá acarretar na não adesão na
prática. Estudos mostram que na maioria das vezes os adolescentes têm
conhecimento quanto à necessidade do uso do preservativo; porém, possuem
atitudes inadequadas, ao considerar pouco necessário o uso do preservativo em
todos tipos de relação sexual (anal, oral e vaginal), bem como em relação ao
momento de utilizá-lo, as vezes atribuindo seu uso apenas no momento da
ejaculação(25).
Nota-se
que se faz premente criar estratégias que visem adequar tanto o conhecimento
como a atitude, que consequentemente mudará a prática. Visto que ao final da
intervenção educativa houve mudanças no conhecimento e na atitude dos
adolescentes ao apresentarem conhecimentos adequados quanto ao uso do
preservativo.
Apesar
da relevância dos dados apresentados, o estudo limitou-se a avaliar as
variáveis conhecimento e atitude, devendo ser incluída, em estudos futuros, a
variável prática. Sugere-se, ainda, que essa estratégia seja utilizada com
adolescentes sexualmente ativos, com o intuito de avaliar se a estratégia é
capaz de modificar o comportamento dos indivíduos. Outra importante limitação é
o fato deste estudo não permitir uma generalização, por não conseguir uma
amostragem probabilística.
CONCLUSÃO
A
estratégia GVSau apresentou efeitos positivos no âmbito da promoção de conhecimentos
e atitudes adequados ao uso do preservativo pelos adolescentes escolares. Dessa
forma, aconselha-se utilizar esta estratégia quando se há a intenção de
modificar o conhecimento e a atitude dos indivíduos. Destaca-se a importância
de se utilizar a tríade adotada neste estudo: uma ferramenta educativa e
atrativa (Whatsapp), um método
educativo eficaz (Arco de Maguerez) e um conteúdo recomendado pelas políticas
públicas, o qual seja de interesse e necessidade dos participantes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao programa de Pós-Graduação de
Enfermagem da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira e a todos os doutores e colegas mestres por todo o conhecimento
adquirido nesse tempo, bem como ao financiamento da Fundação Cearense de Apoio
ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Declaramos que não há conflitos de
interesse.
REFERÊNCIAS
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psicossocial e inserção social pela via da educação. Rev. Bras. Psico. e Educ.
[Internet]. 2019 [cited 2020 Dez 03]; 21(1):62–77. Available from:https://doi.org/10.30715/doxa.v21i1.12096
2.
Amorim
GI, Sousa CAA, Pimenta APE. Involvement of
adolescents from northern Portugal with alcohol. Texto contexto - enferm [Internet].
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