REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
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INTRODUO
Como forma de qualificar assistncia
no pr-natal e parto, o Ministrio da Sade (MS) a partir da portaria n 1.459
de 2011, criou uma rede de assistncia denominada Rede Cegonha, com vistas a incrementar as gestantes o direito de
participar de seu plano de cuidados, buscando humanizar a gravidez, o parto e o
puerprio e, alm disso, assegurar s crianas, o direito ao nascimento seguro
e crescimento saudvel(1).
Nesta direo,
a Poltica Nacional de Ateno
Sade
Materna no Brasil menciona a atuao do enfermeiro como provedor do acolhimento
ao binmio me-beb.
Ele responsvel por criar
aes humanas e educativas para essa clientela, proporcionando maior confiana
e reconhecimento de necessidades(2).
Assim, cabe ao enfermeiro a responsabilidade de orientar sobre o parto,
amamentao, cuidados com o recm-nascido e puerprio, a fim de evitar
enfermidades que possam afetar a sade
materno-infantil(3).
Para
incentivar a implantao dessas medidas no Paran, em
2012, foi instituda a Rede Me Paranaense, que visa fazer: captao precoce da
gestante; acompanhamento no pr-natal, com
no mnimo sete consultas; realizao de
exames laboratoriais/imagem;
estratificao de gestantes e crianas no
grupo de Risco Habitual, Intermedirio e Alto Risco; atendimento em servios de
Ateno Primria Sade
ou em ambulatrio especializado conforme o risco apresentado; garantia do parto
por meio de um sistema de vinculao ao hospital
definido pela estratificao de risco; ateno humanizada no ciclo gravdico-puerperal(4).
Um
estudo realizado no sudoeste do Paran, verificou a necessidade de promover
intervenes em sade
para monitorar o cumprimento dos protocolos assistenciais preconizados para o pr-natal aps
a implantao da Rede Me Paranaense(5).
Em outro estudo que envolveu municpios da regio oeste do estado, foram
encontrados resultados insatisfatrios com
relao ao incio precoce do pr-natal, realizao de testes rpidos de HIV e sfilis, imunizao, consultas odontolgicas,
alm de atrasos dos registros no sistema de informao(6).
Para a assistncia
criana nesta mesma regio, outros pesquisadores apontaram que os testes de
triagem neonatal foram realizados para a maioria das
crianas, contudo, a imunizao, a estratificao de risco e o registro das
atividades dos enfermeiros ainda apresentaram falhas(7).
O
estudo de avaliao documental em trs Regionais de Sade, tambm no estado do
Paran, identificou que aps a implantao da Rede
Me Paranaense, a 10 e 17 Regionais de Sade (Cascavel e Londrina,
respectivamente) apresentaram melhores resultados na ateno materna e
infantil, enquanto que, a 9 Regional de Sade (Foz do Iguau) no
mostrou valores adequados, inferindo a existncia,
naquele momento, da necessidade de melhorar a qualificao dos profissionais e
do sistema de informaes(8).
Diante
disso, abordar a ateno no pr-natal e nascimento no Paran torna-se
relevante, considerando que ainda existem lacunas
assistenciais, mesmo aps a implantao da rede e, por conseguinte, pouco se
sabe sobre a perspectiva da mulher neste contexto e quais aspectos que de fato
so relevantes para a sua assistncia durante a gestao.
Neste escopo, o objetivo deste estudo foi analisar as
aes para ateno
pr-natal na perspectiva da Rede Me Paranaense, na tica
da mulher/usuria.
Mtodo
Pesquisa
descritiva, transversal, desenvolvida em um municpio de trplice fronteira
pertencente a 9 Regional de Sade do Paran, que
possuiu 405 estabelecimentos de sade,
desses 64 so de natureza administrativa
pblica e 28 so unidades de Ateno Primria Sade,
dos quais oito do modelo tradicional Unidades Bsicas de Sade e 20 com
Estratgia Sade da Famlia. Alm
disso, o municpio conta com o Centro Materno
Infantil, que realiza atendimentos a gestantes brasileiras que residem no
Paraguai, denominadas brasiguaias, considerando que estas no podem comprovar
residncia no pas, mas por serem de nacionalidade brasileira, tm o direito de ser inseridas em todas as aes do pr-natal e
parto, conforme preconiza a Rede Me Paranaense.
Foi realizado o clculo amostral da populao
a ser estudada no municpio, com base no nmero de partos no ano de 2016.
Considerou-se uma margem de erro da pesquisa de 5%,
um nvel de confiana de 95%, e definiu-se um acrscimo de 10% como margem de
segurana para atender o nmero amostral. A partir de clculo amostral, a populao do
estudo foi constituda por 292 mulheres/usurias, atendidas na maternidade de referncia na cidade estudada,
preferencialmente pelo Sistema nico de Sade (SUS), no intuito de verificar a
assistncia pr-natal e o seguimento na Ateno Primria Sade.
Os
critrios de incluso
foram mulheres que realizaram o parto na maternidade
em estudo, residentes na rea urbana, acima de 18 anos ou menores de idade
acompanhada de seus responsveis. Foram excludas mulheres com qualquer agravo
e/ou problema de sade, de acordo com o pronturio da mesma, que poderia
impedir sua participao.
Realizou-se
a coleta de dados, em 2017-2018,
no hospital de referncia para gestao de alto risco e neonatologia, o qual
pertence a uma fundao que presta atendimento para o SUS, convnios e
particulares. Alunos do curso de enfermagem, juntamente
com os pesquisadores responsveis foram treinados e participaram da coleta.
A
pesquisa com as mes foi realizada por meio da aplicao de um questionrio, baseado em indicadores previstos na Rede Me Paranaense, contendo: i)
variveis socioeconmicas/demogrficas: raa/cor, situao
conjugal, ocupao, escolaridade; ii) histrico obsttrico: gestao
anterior, intervalo interpartal < 1 ano, histria obsttrica
anotada; iii) descrio da assistncia pr-natal: consultas pr-natal, local de
pr-natal, inicio do pr-natal, profissional 1
consulta, estratificao de risco, informada sobre o risco, profissional que
informou, consultas odontolgicas, citologia onctica, exames das mamas,
classificao pr-natal, exames laboratoriais, participao em grupo de gestante, busca por informaes sobre a gestao, informao
para procurar hospital, visita a maternidade; iiii) Fontes de informao: internet, me/sogra, amiga, televiso,
livros/revistas, enfermeiro, mdico.
Para
a classificao do pr-natal, seguiu os seguintes
parmetros(9): a) Adequado (incio
das consultas anterior a 14 semanas gestacionais; seis ou mais consultas; cinco
ou mais registros para Altura Uterina (AU), Idade Gestacional (IG), Presso
Arterial (PA) e peso materno; quatro ou mais registros
para Batimentos Cardacos Fetais (BCF); dois ou mais registros para
apresentao fetal; um registro para tipagem sangunea, hemoglobina e
hematcrito; dois registros para glicemia, exame para
deteco de sfilis
gestacional (VDRL) e urina tipo I); b) Inadequado
(incio aps 27 semanas de
gestao; duas ou menos consultas; duas ou menos anotaes de AU, IG, PA, peso
e BCF; nenhum registro da apresentao fetal ou nenhuma anotao de exame
laboratorial. c) Intermedirio
(as demais associaes).
Os dados foram analisados com o software livre R verso 3.5.2,
mediante estatstica descritiva (frequncia e proporo) e anlitica
(associao), o teste utilizado tanto para anlise das distribuies das
propores quanto para anlise das associaes entre as variveis estudadas foi o qui-quadrado (X2), o erro tipo I foi
fixado a 5% (p<0,05) como estatisticamente significativo.
Com
respeito aos aspectos ticos, a pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica
em Pesquisa com Seres Humanos, sob CAAE n 67574517.1.1001.5231.
Resultados
Participaram da pesquisa 292 purperas, com
mdia de idade de 25,8 anos, sendo a mnima 10 e mxima 43 anos. A maioria das
participantes so brancas (52,7%), tem o ensino fundamental completo (31,1%),
com companheiro fixo (88,7%) e no exercem profisso
remunerada (53,4%). A raa/cor,
situao conjugal e escolaridade mostraram resultados com significncia
estatstica (p<0,001) (Tabela 1).
Ainda na mesma tabela, gestaes anteriores,
perodo interpartal superior a um ano e registro do histrico
obsttrico foram estatisticamente significantes nesta pesquisa (p<0,001).
Tabela 1 - Caractersticas das gestantes de acordo com
a raa/cor, situao conjugal, ocupao, escolaridade, gestao anterior,
intervalo interpartal, anotao do histrico
obsttrico no carto de sade da gestante, Foz do Iguau - PR, 2017-2018
Varivel |
Categorias |
n |
% |
Valor-p |
Raa/Cor |
Amarela |
1 |
0,3 |
<0,001 |
|
Branca |
154 |
52,7 |
|
|
Ignorado |
2 |
0,7 |
|
|
Negra |
24 |
8,2 |
|
|
Parda |
111 |
38,1 |
|
Situao
Conjugal |
Com
companheiro |
259 |
88,7 |
<0,001 |
|
Sem
companheiro |
33 |
11,3 |
|
|
|
|
|
|
Ocupao |
Remunerada |
136 |
46,6 |
0,242 |
|
No
remunerada |
156 |
53,4 |
|
Escolaridade |
At
fundamental |
90 |
31,1 |
<0,001 |
|
At
nvel mdio |
169 |
57,7 |
|
|
At
nvel superior |
28 |
9,5 |
|
|
Sem
escolaridade |
5 |
1,7 |
|
Gestao
Anterior |
Sim |
183 |
62,7 |
<0,001 |
|
No
|
109 |
37,3 |
|
Intervalo
interpartal <1 ano |
Sim |
17 |
5,8 |
<0,001 |
|
No |
275 |
94,2 |
|
Histria
obsttrica anotada |
No |
19 |
6,5 |
<0,001 |
|
Sim |
173 |
59,3 |
|
|
No
se aplica |
100 |
34,2 |
|
Fonte: Autoria prpria.
De
acordo com a Tabela 2, todas as
mulheres participantes deste estudo realizaram o
pr-natal. Verificou-se significncia estatstica (p<0,001) para
mulheres que realizaram seis
ou mais consultas (81,2%) e para as que realizaram as consultas em UBS (91,1%),
no entanto, poucas mulheres (3,4%), estratificadas no
grupo risco intermedirio ou alto risco, buscaram atendimento no ambulatrio
especializado.
Do
mesmo modo, encontrou-se significncia estatstica (p<0,001) para o
incio do pr-natal antes de 14 semanas de gestao (79,4%), primeira consulta
realizada pelo enfermeiro (89,0%) e gestantes
estratificadas como risco habitual (61,0%). Importante destacar que para 8,6%
das gestantes o risco no foi estratificado. Menos da metade das gestantes
(40,3%) foram informadas sobre o risco apresentado, sendo que o enfermeiro foi o profissional que mais as informou
(40,8%), com significncia estatstica para ambos (p<0,001).
Tabela 2 - Caracterizao
do atendimento pr-natal de acordo com nmero de consultas, local do pr-natal, incio
do pr-natal, profissional que realizou a 1
consulta, estratificao de risco, se gestante informada e profissional que
informou o risco gestacional, Foz do Iguau -
PR, 2017-2018
Varivel |
Categorias |
n |
% |
Valor-p |
Consultas de pr-natal |
6 ou mais 3 a 5 0 a 2 No |
237 43 9 3 |
81,2 14,7 3,1 1,0 |
<0,001 |
Local de pr-natal |
Ambulatrio especializado Unidade Bsica de Sade Unidade Bsica de Sade/ambulatrio especializado Unidade Bsica de Sade/Consultrio privado |
4 267 6 15 |
1,3 91,5 2,1 5,1 |
<0,001 |
Inicio do Pr-natal |
<14 semamas 14 a 27 semanas >27 semanas No informado |
232 49 7 4 |
79,4 16,8 2,4 1,4 |
<0,001 |
Profissional 1 consulta |
Enfermeiro Clnico Geral Ginecologista/Obstetra No sabe informar Tcnica/Auxiliar enfermagem |
260 8 13 8 3 |
89,1 2,7 4,5 2,7 1,0 |
<0,001 |
Estratificao de risco |
No realizado Alto Risco Risco Intermedirio Risco Habitual |
25 55 34 178 |
8,6 18,8 11,6 61,0 |
<0,001 |
Informada sobre o risco |
Sim No |
175 117 |
40,3 59,7 |
<0,001 |
Profissional que informou |
Enfermeiro Mdico Enfermeiro + Mdico No informada No sabe dizer quem |
119 50 3 116 4 |
40,8 17,1 1,0 39,7 1,4 |
<0,001 |
Fonte: Autoria prpria.
A tabela 3 a seguir apresenta as aes
desenvolvidas
no pr-natal, e foram demonstrado resultados estatisticamente significantes
(p<0,001) para a falta de consultas odontolgicas (72,9%), citologia
onctica (62,7%), exame das mamas (42,8%) e pr-natal classificado como
intermedirio (73,3%). Por outro lado, resultados favorveis foram observados
para a realizao dos exames laboratoriais (97,9%).
Tabela 3
Aes desenvolvidas
no pr-natal: consultas odontolgicas,
citologia onctica, exame das mamas, classificao do pr-natal e exames
laboratoriais,Foz do Iguau - PR, 2017-2018
Varivel |
Categorias |
N |
% |
Valor-p |
Consultas odontolgicas |
Sim |
79 |
27,1 |
<0,001 |
|
No |
213 |
72,9 |
|
Citologia Onctica |
Antes da gravidez |
81 |
27,7 |
<0,001 |
|
No fez |
183 |
62,7 |
|
|
Sim |
28 |
9,6 |
|
Exames das mamas |
No |
125 |
42,8 |
<0,001 |
|
Sem registro
|
4 |
1,4 |
|
|
Sim |
163 |
55,8 |
|
Classificao pr natal |
Adequado |
6 |
2,0 |
<0,001 |
|
Intermedirio |
214 |
73,3 |
|
|
Inadequado |
72 |
24,7 |
|
Exames laboratoriais |
Sim |
286 |
97,9 |
<0,001 |
|
No |
4 |
1,4 |
|
|
No registrado |
2 |
0,7 |
|
Fonte: Autoria prpria.
Com respeito as aes
de educao em sade, verificou-se que a maioria das participantes (88,4%) no
participaram de grupos de gestantes, mas mesmo assim,
buscaram informaes sobre a gestao (70,5%), com dados com significncia
estatstica (p<0,001). Quanto as fontes de informao, a maioria das
gestantes priorizou a busca pela internet (70,5%). Resultado estatisticamente
significante tambm foi observado quanto a informao
para buscar a maternidade diante de agravos (96,6%), contudo mais da metade das
participantes (61,6%) no visitaram a maternidade antes da realizao do parto
(Tabela 4).
Tabela
4 Caractersticas
relacionadas as informaes e fontes procuradas por
gestantes: internet, me/sogra, amiga, televiso,
livros/revistas, enfermeiro, mdico, Foz
do Iguau - PR, 2017-2018
Variveis |
Categorias |
n |
% |
Valor-p |
Participou de grupo
de gestante |
Sim |
34 |
11,6 |
<0,001 |
|
No |
258 |
88,4 |
|
Buscou informao na gravidez |
Sim |
206 |
70,5 |
<0,001 |
|
No |
86 |
29,5 |
|
Informaes na internet |
Sim |
183 |
62,7 |
<0,001 |
|
No |
109 |
37,3 |
|
Informaes com me/sogra |
Sim |
57 |
19,5 |
<0,001 |
|
No |
235 |
80,5 |
|
Informaes com amiga |
Sim |
38 |
13,0 |
<0,001 |
|
No |
254 |
87,0 |
|
Informaes na televiso |
Sim |
16 |
5,5 |
<0,001 |
|
No |
276 |
94,5 |
|
Informaes em livros/revistas |
Sim |
11 |
3,8 |
<0,001 |
|
No |
281 |
96,2 |
|
Informaes com enfermeiro |
Sim |
40 |
13,7 |
<0,001 |
|
No |
252 |
86,3 |
|
Informaes com mdico |
Sim |
61 |
20,9 |
<0,001 |
|
No |
231 |
79,1 |
|
Informada a procurar o hospital |
Sim |
282 |
96,6 |
<0,001 |
|
No |
10 |
3,4 |
|
Visitou a maternidade |
Sim |
112 |
38,4 |
<0,001 |
|
No |
180 |
61,6
|
|
Fonte: Autoria prpria.
Conforme o referencial
adotado, foi possvel classificar os pr-natais realizados, essa avaliao
identificou que seis (2,0%) purperas tiveram pr-natal classificado como
Adequado, 72 (24,7%) purperas tiveram pr-natal classificado como Intemdirio
e 214 (72,3%) como Inadequado. A distribuio dessa varivel foi significativa
isoladamente (p<0,001). Na sequncia, testou-se quais varaveis poderiam estar
associadas a esta condio.
O teste
Qui-quadrado realizado para verificao de associao entre variveis
categricas, evidenciou relao do pr-natal classificado como intermedirio
para a escolaridade de ensino mdio completo/incompleto (p<0,001), pr-natal
realizado na UBS (p<0,001), continuidadeo do pr-natal na UBS de origem
(p<0,009) e a no informao sobre o risco gestacional (p<0,002), de
acordo com a Tabela 5.
Ainda na mesma
tabela, apresenta-se as variveis com dados significativos para a falta de
realizao da ultrassom morfolgica (p<0,002) e para a busca por informaes
sobre a gravidez (p<0,005) relacionados ao grau de classificao do
pr-natal.
Tabela
5 Relao da classificao
do pr-natal com a escolaridade materna, pr-natal em
acompanhamento no local de origem, profissional que informou sobre o risco,
ultrassom morfolgica e busca por informaes,
Foz do Iguau - PR, 2017-2018
Varivel |
Adequado n1 (%) |
Intermedirio n2 (%) |
Inadequado n3 (%) |
Valor-p |
|||
Escolaridade |
|
||||||
Fundamental completo/incompleto |
5 |
1,7 |
66 |
23 |
19 |
6,6 |
0,001 |
Mdio completo/incompleto |
0 |
0,0 |
120 |
41,8 |
49 |
17,1 |
|
Superior completo/incompleto |
1 |
0,3 |
23 |
8 |
4 |
1,4 |
|
Local de pr-natal |
|
||||||
Ambulatrio especializado Unidade Bsica de Sade Unidade Bsica de Sade/Ambulatrio especializado Unidade Bsica de Sade/Privado |
1 4 1 0 |
0,3 1,4 0,3 0,0 |
2 193 5 14 |
0,7 66,1 1,7 4,8 |
1 70 0 1 |
0,3 24 0,0 0,3 |
0,001 |
Acompanhamento Unidade Bsica de Sade de origem |
|
||||||
Sem registro |
0 |
0,0 |
0 |
0,0 |
1 |
0,3 |
0,009 |
No se aplica |
2 |
0,7 |
152 |
52,1 |
41 |
14 |
|
No |
0 |
0,0 |
9 |
3,1 |
0 |
0,0 |
|
Sim, continuou |
4 |
1,4 |
53 |
18,2 |
30 |
10,3 |
|
Profissional informou o risco |
|
||||||
Enfermeiro Enfermeiro + Mdico Mdico No foi informada No sabe informa |
1 0 3 1 1 |
0,3 0,0 1,0 0,3 0,3 |
81 3 33 94 3 |
27,7 1,0 11,3 32,2 1,0 |
37 0 14 21 0 |
12,7 0,0 4,8 7,2 0,0 |
0,002 |
Ultrassom morfolgica |
|
||||||
Sem registro No Sim |
0 3 3 |
0,0 1,0 1,0 |
7 141 66 |
2,4 48,3 22,6 |
1 30 41 |
0,3 10,3 14 |
0,002 |
Buscou informao |
|
||||||
No Sim |
0 6 |
0,0 2,1 |
55 159 |
18,8 54,5 |
31 41 |
10,6 14,0 |
0,005 |
Fonte: Autoria prpria.
Discusso
Com
respeito as caractersticas
sociodemogrficas, a idade adequada para
gestar (19 e 34 anos), raa/cor branca, nvel mdio de escolaridade, ter um
companheiro fixo e no exercer trabalho remunerado, foram
aspectos identificados para a maioria das participantes e que contemplam uma
gestao de risco habitual, segundo a Rede Me Paranaense. Importante apontar
que os extremos de idade (10 e 43 anos) identificados exigem cautela por parte
dos profissionais, considerando que os agravos a
sade materna e fetal fazem parte, especialmente, destes segmentos etrios(10).
Do mesmo modo, embora poucas participantes se autodeclararam de raa negra/cor preta, esta varivel considerada fator
de risco para desenvolvimento de comorbidades e para
o acesso aos servios de sade,
quando comparada a raa branca(4,11).
Como
a maioria das gestantes possuia um companheiro, ressalta-se que a situao
conjugal no ciclo gravdico puerperal pode fortalecer o vnculo entre o casal e o recm-nascido, o que importante para estimular o
parceiro a atuar desde o pr-natal at o nascimento da criana, bem como
participar dos primeiros cuidados com a mesma e auxiliar na amamentao (12).
No
tocante ao histrico obsttrico,
ter o registro de tudo o que aconteceu em gestaes
anteriores, quais exames foram feitos, presena de agravos e caractersticas do
nascimento do filho anterior, relevante para a ateno pr-natal e garante
segurana para a me e o beb, incluindo um perodo adequado para o corpo feminino se recuperar para uma prxima gestao. Uma
pesquisa identificou que o perodo reportado como adequado tem sido de dois a
quatro anos(13).
Esta
investigao apresentou aspectos favorveis para o nmero de consultas, exames
laboratoriais, estratificao de risco e incio do
pr-natal, contudo, foram evidenciadas lacunas na magnitude do cuidado levando
a falhas para a acompanhamento pr-natal, classificando-o como intermedirio,
na perspectiva da mulher usuria. Dados semelhantes
foram identificados na pesquisa realizada com gestantes na regio Sul e
Nordeste do Brasil(14-15).
notrio
que a reduo da mortalidade materna e infantil no Brasil est diretamente
relacionada s aes
desenvolvidas para o cuidado no pr-natal e nascimento,
todavia, a incidncia de agravos decorrente de uma (des)assistncia em termos
de qualidade no que diz respeito continuidade do cuidado, da promoo da sade,
da preveno de danos e educao em sade(4,15).
Apesar do alto nmero de consultas de pr-natal, os
dados aqui apresentados coadunam com os resultados de uma reviso da literatura
realizada no Brasil, onde os ndices de cobertura foram altos, mas a presena
de falhas na continuidade e pouca qualidade dispensada foram excepcionalmente
preditores para o aumento de agravos a sade materna
e infantil(16).
Alm disso, o registro das aes, seja da histria pregressa
ou da gestao atual, extremamente necessrio, visto que se refere a uma forma de garantir a
continuidade do cuidado e de proporcionar o bom
acompanhamento por profissionais mais qualificados(17).
Neste
cenrio, relevante
destacar o protagonismo do enfermeiro para ateno
pr-natal por meio da consulta de enfermagem, a qual se refere a uma ao
realizada privativamente pelo enfermeiro e tem como
objetivo oportunizar condies para a promoo da sade
da gestante e melhoria na qualidade de vida da mulher(2-3).
Sendo assim, cabe ao enfermeiro a abertura do pr-natal, estratificao do
risco gestacional e acompanhamento, conjuntamente
realizao de outras aes de promoo, preveno
e educao em sade(15).
Segundo
a Rede Me Paranaense, a gestante de Risco Habitual aquela mulher que no
apresenta caractersticas individuais, sociodemogrficas, de histria
reprodutiva anterior e de agravos sua sade;
Risco Intermedirio envolvem mulheres com caractersticas individuais,
sociodemogrficas, de gestaes anteriores, que possam comprometer sua sade
atual; Alto Risco, esto inseridas nesse grupo as gestantes com doenas prvias
e ou com agravos na gestao atual, e que possa
comprometer a sade fsica
de me e beb(4).
preconizado ao enfermeiro, o acompanhamento da gestante de risco habitual,
enquanto que gestantes de risco intermedirio e de alto risco devem ser
vinculadas as unidades especializadas para o
seguimento mdico, no entanto, estas gestantes, embora acompanhadas por
profissionais especialistas, elas
devem retornar a sua unidade de sade de origem para a continuidade de seus
cuidados a nvel primrio,
considerando que este servio
a porta de entrada para o pr-natal e para
todas suas aes, independentemente do momento ou do nmero de vezes que
precisar dos servios(4,7).
A
magnitude do seguimento pr-natal envolve um conjunto de exames laboratoriais e
de imagens, procedimentos clnicos, intervenes
educativas realizadas durante as consultas e ou de forma coletiva, todas quais
buscando monitorar a evoluo da gravidez, detectar antecipadamente e tratar as
intercorrncias mais recorrentes, contudo outras aes se fazem importantes para a completude da ateno pr-natal(4,15).
Diversas
mudanas fisiolgicas so percebidas
na gestante, deste modo, justifica-se a
necessidade de pelo menos duas consultas odontolgicas durante a gravidez, para
que ela receba orientaes e tratamentos oportunos de
desconfortos e possa prevenir agravos como as infeces. Pesquisadores
descrevem que a procura por consultas odontolgicas no perodo gestacional
ainda se encontra insipiente e poucos estudos so realizados para verificar a
baixa adeso(18),
contudo, o nvel educacional, nacionalidade, autocuidado e
conhecimento sobre sade oral so fatores determinantes para a adeso ao
cuidado em mulheres grvidas(19).
E
com respeito a citologia onctica, embora no seja um exame de rotina pr-natal,
fundamental que este seja realizado, considerando a oportunidade de visita ao
servio de sade
criada pelo acompanhamento pr-natal(4).
Com relao
s aes
educativas no pr-natal, um importante alicerce para a promoo da
sade, verifica-se uma tendncia a restrio dessas aes apenas durante as
consultas individuais, com o simples repasse de algumas informaes sobre
gravidez, parto e cuidados com o beb. Assim, embasadas em uma abordagem pouco
atraente, as gestantes acabam por recorrer a busca
por informaes em outros meios, principalmente pela internet, amigos e
familiares.
fundamental o despertar dos profissionais para o
exerccio da educao em sade por outras metodologias, nesta
direo, compreende-se que a promoo da sade
torna-se uma importante vertente para a preveno de
doenas e complicaes no processo de adoecimento, alm de ser um meio de
transmisso de informaes em sade mediante processos educativos, por
exemplo, com o uso de roda
de conversa ou de grupo focal(20).
A generalizao
deste estudo no
indicada, considerando que os resultados retratam um municpio e no
o estado, embora teoricamente todos devam seguir a linha guia da Rede Me
Paranaense, estudos de aprofundamento ainda
so necessrios para verificao da completa implantao e funcionamento adequado.
Concluses
Os resultados mostraram que as participantes
tinham idade mdia de 25,8 anos, brancas, nvel mdio de escolaridade, com
companheiro fixo e no exerciam profisso remunerada. Entre as mulheres com gestaes anteriores, o perodo interpartal foi superior a
um ano e havia o registro do histrico obsttrico no carto de sade da
gestante.
As
consultas de pr-natal foram iniciadas precocemente, em nmero adequado
(superior a seis), realizadas em UBS,
sendo o enfermeiro o profissional que realizou a
primeira consulta e as gestantes estratificadas como risco habitual. Menos da
metade das gestantes foram informadas sobre o risco apresentado, e dentre as
que receberam a informao, o enfermeiro foi o profissional
que mais as informou.
O presente estudo mostra fragilidades na
ateno pr-natal, no que diz respeito a magnitude e qualidade das consultas e
na educao em sade, sendo deste modo, classificado como intermedirio. Foram
observadas falhas na realizao de consultas
odontolgicas, da citologia onctica, informao sobre o risco gestacional,
exames de imagem e exame das mamas. Com respeito as aes de educao em sade,
a maioria no participou de grupos de gestantes, e buscaram informaes, mas
pela internet. Alm disso, muitas gestantes no
visitaram a maternidade antes da realizao do parto.
Este
estudo possibilitou um olhar mais crtico sobre a assistncia prestada a essas
gestantes aps a implantao da Rede
Me Paranaense, sendo que as consultas e exames esto
ocorrendo, no entanto, ainda existem falhas no registro das informaes e no
desenvolvimento de aes para a promoo da sade
da gestante.
Os
autores declaram que no h
conflitos de interesses.
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