REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM

ISSN: 2317-3092

 

 

Recebido em:

26/08/2020

Aprovado em:

23/01/2021

Como citar este artigo

Grfico de linhas

 

Machado AFC, Arcoverde MAM, Caldeira S, Silva-Sobrinho RA, Silva RMM, Zilly A. Ateno pr-natal na perspectiva da rede me paranaense. Rev Norte Mineira de enferm. 2020; 9(2):78-89.

cone de email

Autor correspondente

Grfico de linhas

 

Adriana Zilly

Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Foz do Iguau, PR, BR.

Correio eletrnico: aazilly@hotmail.com

 

 

 

 

ARTIGO ORIGINAL

Ateno pr-natal na perspectiva da rede me paranaense

 

Prenatal care in the perspective of the Me Paranaense network

Aline Fernanda Campos Machado 1, Marcos Augusto Moraes Arcoverde 2, Sebastio Caldeira 3, Reinaldo Antonio Silva-Sobrinho 4, Rosane Meire Munhak da Silva 5, Adriana Zilly 6.

 

1 Mestre em Ensino pela Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Hospital Ministro Costa Cavalcanti de Foz do Iguau, PR, BR, aline_saxe@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6005-8541

2 Doutor em Enfermagem pela Universidade de So Paulo (USP), Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Foz do Iguau, PR, BR, marcos.arcoverde2013@gmail.com, ORCID: http://orcid.org/0000-0001-5104-559X

3 Doutor em Enfermagem em Sade Pblica pela Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (EERP/USP), Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Foz do Iguau, PR, BR, sebastiao.caldeira@unioeste.br, ORCID: http://orcid.org/0000-0003-2827-1833

4 Doutor em Enfermagem em Sade Pblica pela Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (EERP/USP), Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Foz do Iguau, PR, BR, reisobrinho@yahoo.com.br, ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0421-4447

5 Doutora em Enfermagem em Sade Pblica pela Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (EERP/USP), Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Foz do Iguau, PR, BR, zanem2010@hotmail.com, ORCID: http://orcid.org/0000-0003-3355-0132

6 Doutora em Cincias Biolgicas pela Universidade Estadual de Maring (UEM), Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), Foz do Iguau, PR, BR, aazilly@hotmail.com, ORCID: http://orcid.org/0000-0002-8714-8205

 

DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202090208

 

 

Objetivo: Analisar as aes para ateno pr-natal na perspectiva da Rede Me Paranaense, na tica da mulher/usuria. Mtodo: Pesquisa descritiva, transversal, com 292 purperas, internadas em alojamento conjunto. Utilizou-se um instrumento estruturado construdo com base nas diretrizes da Rede Me Paranaense. Resultados: A maioria das participantes era primigesta, com pr-natal realizado em unidades bsicas de sade, com incio precoce, mais de seis consultas, sendo iniciado pelo enfermeiro (p<0,001). O risco gestacional no foi registrado no carto de sade e tampouco informado a gestante (59,7%). Poucas visitaram a maternidade (38,4%) ou participaram em grupos de gestantes (11,6%). As informaes sobre gestao/parto foram adquiridas pela internet (62,7%). Consulta odontolgica, citologia onctica, exames das mamas (p<0,001) e de imagem (p<0,002) foram pouco frequentes. Concluses: Foram encontradas fragilidades na ateno pr-natal com respeito a magnitude e qualidade das consultas e educao em sade, deste modo, o pr-natal foi classificado como intermedirio.

 

DESCRITORES: Gravidez; Ateno Primria Sade; Cuidado Pr-Natal; Enfermagem.

 

Objective: To analyze the actions for prenatal care in the perspective of the Me Paranaense Network, from the point of view of the woman/user. Method: A descriptive andcross-sectional research study conducted with 292 puerperal women, hospitalized in Rooming-In. A structured instrument was used, based on the guidelines of the Me Paranaense Network. Results: Most of the participants were primigravidae, with prenatal care performed in basic health units, with early onset, more than six consultations, and being initiated by the nurse (p<0.001). Gestational risk was not recorded on the health card nor informed to the pregnant woman (59.7%). Few visited the maternity ward (38.4%) or participated in groups of pregnant women (11.6%). The information on pregnancy/delivery was acquired over the Internet (62.7%). Dental consultation, oncotic cytology, breast exams (p <0.001) and imaging (p<0.002) were uncommon. Conclusions: Weaknesses were found in prenatal care with respect to the magnitude and equality of consultations and health education; thus, prenatal care was classified as intermediate.

 

DESCRIPTORS:Pregnancy; Primary Health Care; Prenatal care; Nursing.

INTRODUO

 

Como forma de qualificar assistncia no pr-natal e parto, o Ministrio da Sade (MS) a partir da portaria n 1.459 de 2011, criou uma rede de assistncia denominada Rede Cegonha, com vistas a incrementar as gestantes o direito de participar de seu plano de cuidados, buscando humanizar a gravidez, o parto e o puerprio e, alm disso, assegurar s crianas, o direito ao nascimento seguro e crescimento saudvel(1).

 

Nesta direo, a Poltica Nacional de Ateno Sade Materna no Brasil menciona a atuao do enfermeiro como provedor do acolhimento ao binmio me-beb. Ele responsvel por criar aes humanas e educativas para essa clientela, proporcionando maior confiana e reconhecimento de necessidades(2). Assim, cabe ao enfermeiro a responsabilidade de orientar sobre o parto, amamentao, cuidados com o recm-nascido e puerprio, a fim de evitar enfermidades que possam afetar a sade materno-infantil(3).

 

Para incentivar a implantao dessas medidas no Paran, em 2012, foi instituda a Rede Me Paranaense, que visa fazer: captao precoce da gestante; acompanhamento  no  pr-natal,  com  no  mnimo  sete  consultas; realizao  de  exames laboratoriais/imagem;  estratificao de gestantes e crianas no grupo de Risco Habitual, Intermedirio e Alto Risco; atendimento em servios de Ateno Primria Sade ou em ambulatrio especializado conforme o risco apresentado; garantia do parto por meio de um sistema de vinculao ao hospital definido pela estratificao de risco; ateno humanizada no ciclo gravdico-puerperal(4).

 

Um estudo realizado no sudoeste do Paran, verificou a necessidade de promover intervenes em sade para monitorar o cumprimento dos protocolos assistenciais preconizados para o pr-natal aps a implantao da Rede Me Paranaense(5). Em outro estudo que envolveu municpios da regio oeste do estado, foram encontrados resultados insatisfatrios com relao ao incio precoce do pr-natal, realizao de testes rpidos de HIV e sfilis, imunizao, consultas odontolgicas, alm de atrasos dos registros no sistema de informao(6). Para a assistncia criana nesta mesma regio, outros pesquisadores apontaram que os testes de triagem neonatal foram realizados para a maioria das crianas, contudo, a imunizao, a estratificao de risco e o registro das atividades dos enfermeiros ainda apresentaram falhas(7).

 

O estudo de avaliao documental em trs Regionais de Sade, tambm no estado do Paran, identificou que aps a implantao da Rede Me Paranaense, a 10 e 17 Regionais de Sade (Cascavel e Londrina, respectivamente) apresentaram melhores resultados na ateno materna e infantil, enquanto que, a 9 Regional de Sade (Foz do Iguau) no mostrou valores adequados, inferindo a existncia, naquele momento, da necessidade de melhorar a qualificao dos profissionais e do sistema de informaes(8).

 

Diante disso, abordar a ateno no pr-natal e nascimento no Paran torna-se relevante, considerando que ainda existem lacunas assistenciais, mesmo aps a implantao da rede e, por conseguinte, pouco se sabe sobre a perspectiva da mulher neste contexto e quais aspectos que de fato so relevantes para a sua assistncia durante a gestao. Neste escopo, o objetivo deste estudo foi analisar as aes para ateno pr-natal na perspectiva da Rede Me Paranaense, na tica da mulher/usuria.

 

Mtodo

 

Pesquisa descritiva, transversal, desenvolvida em um municpio de trplice fronteira pertencente a 9 Regional de Sade do Paran, que possuiu 405 estabelecimentos de sade, desses 64 so de natureza administrativa pblica e 28 so unidades de Ateno Primria Sade, dos quais oito do modelo tradicional Unidades Bsicas de Sade e 20 com Estratgia Sade da Famlia. Alm disso, o municpio conta com o Centro Materno Infantil, que realiza atendimentos a gestantes brasileiras que residem no Paraguai, denominadas brasiguaias, considerando que estas no podem comprovar residncia no pas, mas por serem de nacionalidade brasileira, tm o direito de ser inseridas em todas as aes do pr-natal e parto, conforme preconiza a Rede Me Paranaense.

 

Foi realizado o clculo amostral da populao a ser estudada no municpio, com base no nmero de partos no ano de 2016. Considerou-se uma margem de erro da pesquisa de 5%, um nvel de confiana de 95%, e definiu-se um acrscimo de 10% como margem de segurana para atender o nmero amostral. A partir de clculo amostral, a populao do estudo foi constituda por 292 mulheres/usurias, atendidas na maternidade de referncia na cidade estudada, preferencialmente pelo Sistema nico de Sade (SUS), no intuito de verificar a assistncia pr-natal e o seguimento na Ateno Primria Sade.

 

Os critrios de incluso foram mulheres que realizaram o parto na maternidade em estudo, residentes na rea urbana, acima de 18 anos ou menores de idade acompanhada de seus responsveis. Foram excludas mulheres com qualquer agravo e/ou problema de sade, de acordo com o pronturio da mesma, que poderia impedir sua participao.

 

Realizou-se a coleta de dados, em 2017-2018, no hospital de referncia para gestao de alto risco e neonatologia, o qual pertence a uma fundao que presta atendimento para o SUS, convnios e particulares. Alunos do curso de enfermagem, juntamente com os pesquisadores responsveis foram treinados e participaram da coleta.

 

A pesquisa com as mes foi realizada por meio da aplicao de um questionrio, baseado em indicadores previstos na Rede Me Paranaense, contendo: i) variveis socioeconmicas/demogrficas: raa/cor, situao conjugal, ocupao, escolaridade; ii) histrico obsttrico: gestao anterior, intervalo interpartal < 1 ano, histria obsttrica anotada; iii) descrio da assistncia pr-natal: consultas pr-natal, local de pr-natal, inicio do pr-natal, profissional 1 consulta, estratificao de risco, informada sobre o risco, profissional que informou, consultas odontolgicas, citologia onctica, exames das mamas, classificao pr-natal, exames laboratoriais, participao em grupo de gestante, busca por informaes sobre a gestao, informao para procurar hospital, visita a maternidade; iiii) Fontes de informao: internet, me/sogra, amiga, televiso, livros/revistas, enfermeiro, mdico.

 

Para a classificao do pr-natal, seguiu os seguintes parmetros(9): a) Adequado (incio das consultas anterior a 14 semanas gestacionais; seis ou mais consultas; cinco ou mais registros para Altura Uterina (AU), Idade Gestacional (IG), Presso Arterial (PA) e peso materno; quatro ou mais registros para Batimentos Cardacos Fetais (BCF); dois ou mais registros para apresentao fetal; um registro para tipagem sangunea, hemoglobina e hematcrito; dois registros para glicemia, exame para deteco de sfilis gestacional (VDRL) e urina tipo I); b) Inadequado (incio aps 27 semanas de gestao; duas ou menos consultas; duas ou menos anotaes de AU, IG, PA, peso e BCF; nenhum registro da apresentao fetal ou nenhuma anotao de exame laboratorial.  c) Intermedirio (as demais associaes).

 

Os dados foram analisados com o software livre R verso 3.5.2, mediante estatstica descritiva (frequncia e proporo) e anlitica (associao), o teste utilizado tanto para anlise das distribuies das propores quanto para anlise das associaes entre as variveis estudadas foi o qui-quadrado (X2), o erro tipo I foi fixado a 5% (p<0,05) como estatisticamente significativo.

 

Com respeito aos aspectos ticos, a pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos, sob CAAE n 67574517.1.1001.5231.

 

Resultados

 

Participaram da pesquisa 292 purperas, com mdia de idade de 25,8 anos, sendo a mnima 10 e mxima 43 anos. A maioria das participantes so brancas (52,7%), tem o ensino fundamental completo (31,1%), com companheiro fixo (88,7%) e no exercem profisso remunerada (53,4%).  A raa/cor, situao conjugal e escolaridade mostraram resultados com significncia estatstica (p<0,001) (Tabela 1).

 

Ainda na mesma tabela, gestaes anteriores, perodo interpartal superior a um ano e registro do histrico obsttrico foram estatisticamente significantes nesta pesquisa (p<0,001).

 

Tabela 1 - Caractersticas das gestantes de acordo com a raa/cor, situao conjugal, ocupao, escolaridade, gestao anterior, intervalo interpartal, anotao do histrico obsttrico no carto de sade da gestante, Foz do Iguau - PR, 2017-2018

Varivel

Categorias

n

%

Valor-p

Raa/Cor

Amarela

1

0,3

<0,001

 

Branca

154

52,7

 

 

Ignorado

2

0,7

 

 

Negra

24

8,2

 

 

Parda

111

38,1

 

Situao Conjugal

Com companheiro

259

88,7

<0,001

 

Sem companheiro

33

11,3

 

 

 

 

 

 

Ocupao

Remunerada

136

46,6

0,242

 

No remunerada

156

53,4

 

Escolaridade

At fundamental

90

31,1

<0,001

 

At nvel mdio

169

57,7

 

 

At nvel superior

28

9,5

 

 

Sem escolaridade

5

1,7

 

Gestao Anterior

Sim

183

62,7

<0,001

 

No

109

37,3

 

Intervalo interpartal <1 ano

Sim

17

5,8

<0,001

 

No

275

94,2

 

Histria obsttrica anotada

No

19

6,5

<0,001

 

Sim

173

59,3

 

 

No se aplica

100

34,2

 

Fonte: Autoria prpria.

 

De acordo com a Tabela 2, todas as mulheres participantes deste estudo realizaram o pr-natal. Verificou-se significncia estatstica (p<0,001) para mulheres que realizaram seis ou mais consultas (81,2%) e para as que realizaram as consultas em UBS (91,1%), no entanto, poucas mulheres (3,4%), estratificadas no grupo risco intermedirio ou alto risco, buscaram atendimento no ambulatrio especializado.

 

Do mesmo modo, encontrou-se significncia estatstica (p<0,001) para o incio do pr-natal antes de 14 semanas de gestao (79,4%), primeira consulta realizada pelo enfermeiro (89,0%) e gestantes estratificadas como risco habitual (61,0%). Importante destacar que para 8,6% das gestantes o risco no foi estratificado. Menos da metade das gestantes (40,3%) foram informadas sobre o risco apresentado, sendo que o enfermeiro foi o profissional que mais as informou (40,8%), com significncia estatstica para ambos (p<0,001).

 

Tabela 2 - Caracterizao do atendimento pr-natal de acordo com nmero de consultas, local do pr-natal, incio do pr-natal, profissional que realizou a 1 consulta, estratificao de risco, se gestante informada e profissional que informou o risco gestacional, Foz do Iguau - PR, 2017-2018

Varivel

Categorias

n

%

Valor-p

Consultas de pr-natal

 

6 ou mais

3 a 5

0 a 2

No

237

43

9

3

81,2

14,7

3,1

1,0

<0,001

Local de pr-natal

Ambulatrio especializado

Unidade Bsica de Sade

Unidade Bsica de Sade/ambulatrio especializado

Unidade Bsica de Sade/Consultrio privado

4

267

6

 

 

15

1,3

91,5

2,1

 

 

5,1

<0,001

Inicio do Pr-natal

<14 semamas

14 a 27 semanas

>27 semanas

No informado

232

49

7

4

79,4

16,8

2,4

1,4

<0,001

Profissional 1 consulta

Enfermeiro

Clnico Geral

Ginecologista/Obstetra

No sabe informar

Tcnica/Auxiliar enfermagem

260

8

13

8

3

89,1

2,7

4,5

2,7

1,0

<0,001

Estratificao de risco

No realizado

Alto Risco

Risco Intermedirio

Risco Habitual

25

55

34

178

8,6

18,8

11,6

61,0

<0,001

Informada sobre o risco

Sim

No

175

117

40,3

59,7

<0,001

Profissional que informou

Enfermeiro

Mdico

Enfermeiro + Mdico

No informada

No sabe dizer quem

119

50

3

116

4

40,8

17,1

1,0

39,7

1,4

<0,001

Fonte: Autoria prpria.

 

A tabela 3 a seguir apresenta as aes desenvolvidas no pr-natal, e foram demonstrado resultados estatisticamente significantes (p<0,001) para a falta de consultas odontolgicas (72,9%), citologia onctica (62,7%), exame das mamas (42,8%) e pr-natal classificado como intermedirio (73,3%). Por outro lado, resultados favorveis foram observados para a realizao dos exames laboratoriais (97,9%).

 

Tabela 3 Aes desenvolvidas no pr-natal: consultas odontolgicas, citologia onctica, exame das mamas, classificao do pr-natal e exames laboratoriais,Foz do Iguau - PR, 2017-2018

Varivel

Categorias

N

%

Valor-p

Consultas odontolgicas

Sim

79

27,1

<0,001

 

No

213

72,9

 

Citologia Onctica

Antes da gravidez

81

27,7

<0,001

 

 No fez

183

62,7

 

 

Sim

28

9,6

 

Exames das mamas

No

125

42,8

<0,001

 

Sem registro                

4

1,4

 

 

Sim

163

55,8

 

Classificao pr natal

Adequado

6

2,0

<0,001

 

Intermedirio

214

73,3

 

 

Inadequado

72

24,7

 

Exames laboratoriais

Sim

286

97,9

<0,001

 

No

4

1,4

 

 

No registrado

2

0,7

 

Fonte: Autoria prpria.

 

Com respeito as aes de educao em sade, verificou-se que a maioria das participantes (88,4%) no participaram de grupos de gestantes, mas mesmo assim, buscaram informaes sobre a gestao (70,5%), com dados com significncia estatstica (p<0,001). Quanto as fontes de informao, a maioria das gestantes priorizou a busca pela internet (70,5%). Resultado estatisticamente significante tambm foi observado quanto a informao para buscar a maternidade diante de agravos (96,6%), contudo mais da metade das participantes (61,6%) no visitaram a maternidade antes da realizao do parto (Tabela 4).

 

Tabela 4 Caractersticas relacionadas as informaes e fontes procuradas por gestantes: internet, me/sogra, amiga, televiso, livros/revistas, enfermeiro, mdico, Foz do Iguau - PR, 2017-2018

Variveis

Categorias

n

%

Valor-p

Participou de grupo de gestante

Sim

34

   11,6

<0,001

 

No

258

88,4

 

Buscou informao na gravidez

Sim

206

70,5

<0,001

 

No

86

29,5

 

Informaes na internet

Sim

183

62,7

<0,001

 

No

109

37,3

 

Informaes com me/sogra

Sim

57

19,5

<0,001

 

No

235

80,5

 

Informaes com amiga

Sim

38

13,0

<0,001

 

No

254

87,0

 

Informaes na televiso

Sim

16

5,5

<0,001

 

No

276

94,5

 

Informaes em livros/revistas

Sim

11

3,8

<0,001

 

No

281

96,2

 

Informaes com enfermeiro

Sim

40

13,7

<0,001

 

No

252

86,3

 

Informaes com mdico

Sim

61

20,9

<0,001

 

No

231

79,1

 

Informada a procurar o hospital

Sim

282

96,6 

<0,001

 

No

10

3,4    

 

Visitou a maternidade

Sim

112

38,4

<0,001

 

No

180

61,6                

 

Fonte: Autoria prpria.

 

Conforme o referencial adotado, foi possvel classificar os pr-natais realizados, essa avaliao identificou que seis (2,0%) purperas tiveram pr-natal classificado como Adequado, 72 (24,7%) purperas tiveram pr-natal classificado como Intemdirio e 214 (72,3%) como Inadequado. A distribuio dessa varivel foi significativa isoladamente (p<0,001). Na sequncia, testou-se quais varaveis poderiam estar associadas a esta condio.

 

O teste Qui-quadrado realizado para verificao de associao entre variveis categricas, evidenciou relao do pr-natal classificado como intermedirio para a escolaridade de ensino mdio completo/incompleto (p<0,001), pr-natal realizado na UBS (p<0,001), continuidadeo do pr-natal na UBS de origem (p<0,009) e a no informao sobre o risco gestacional (p<0,002), de acordo com a Tabela 5.

 

Ainda na mesma tabela, apresenta-se as variveis com dados significativos para a falta de realizao da ultrassom morfolgica (p<0,002) e para a busca por informaes sobre a gravidez (p<0,005) relacionados ao grau de classificao do pr-natal.

 

Tabela 5 Relao da classificao do pr-natal com a escolaridade materna, pr-natal em acompanhamento no local de origem, profissional que informou sobre o risco, ultrassom morfolgica e busca por informaes, Foz do Iguau - PR, 2017-2018

Varivel

Adequado

   n1 (%)

Intermedirio

        n2 (%)

Inadequado

     n3 (%)

Valor-p

Escolaridade

 

Fundamental completo/incompleto

5

1,7

66

23

19

6,6

0,001

Mdio completo/incompleto

0

0,0

120

41,8

49

17,1

 

Superior completo/incompleto

1

0,3

23

8

4

1,4

 

Local de pr-natal

 

Ambulatrio especializado

Unidade Bsica de Sade

Unidade Bsica de Sade/Ambulatrio especializado

Unidade Bsica de Sade/Privado

1

4

1

 

0

0,3

1,4

0,3

 

0,0

2

193

5

 

14

0,7

66,1

1,7

 

4,8

1

70

0

 

1

0,3

24

0,0

 

0,3

0,001

Acompanhamento Unidade Bsica de Sade de origem

 

Sem registro

0

0,0

0

0,0

1

0,3

0,009

No se aplica

2

0,7

152

52,1

41

14

 

No

0

0,0

9

3,1

0

0,0

 

Sim, continuou

4

1,4

53

18,2

30

10,3

 

Profissional informou o risco

 

Enfermeiro

Enfermeiro + Mdico

Mdico

No foi informada

No sabe informa

1

0

3

1

1

0,3

0,0

1,0

0,3

0,3

81

3

33

94

3

27,7

1,0

11,3

32,2

1,0

37

0

14

21

0

12,7

0,0

4,8

7,2

0,0

0,002

Ultrassom morfolgica

 

Sem registro

No

Sim

0

3

3

0,0

1,0

1,0

7

141

66

2,4

48,3

22,6

1

30

41

0,3

10,3

14

0,002

Buscou informao

 

No

Sim

0

6

0,0

2,1

55

159

18,8

54,5

31

41

10,6

14,0

0,005

Fonte: Autoria prpria.

 

Discusso

 

Com respeito as caractersticas sociodemogrficas, a idade adequada para gestar (19 e 34 anos), raa/cor branca, nvel mdio de escolaridade, ter um companheiro fixo e no exercer trabalho remunerado, foram aspectos identificados para a maioria das participantes e que contemplam uma gestao de risco habitual, segundo a Rede Me Paranaense. Importante apontar que os extremos de idade (10 e 43 anos) identificados exigem cautela por parte dos profissionais, considerando que os agravos a sade materna e fetal fazem parte, especialmente, destes segmentos etrios(10). Do mesmo modo, embora poucas participantes se autodeclararam de raa negra/cor preta, esta varivel considerada fator de risco para desenvolvimento de comorbidades e para o acesso aos servios de sade, quando comparada a raa branca(4,11).

 

Como a maioria das gestantes possuia um companheiro, ressalta-se que a situao conjugal no ciclo gravdico puerperal pode fortalecer o vnculo entre o casal e o recm-nascido, o que importante para estimular o parceiro a atuar desde o pr-natal at o nascimento da criana, bem como participar dos primeiros cuidados com a mesma e auxiliar na amamentao (12).

 

No tocante ao histrico obsttrico, ter o registro de tudo o que aconteceu em gestaes anteriores, quais exames foram feitos, presena de agravos e caractersticas do nascimento do filho anterior, relevante para a ateno pr-natal e garante segurana para a me e o beb, incluindo um perodo adequado para o corpo feminino se recuperar para uma prxima gestao. Uma pesquisa identificou que o perodo reportado como adequado tem sido de dois a quatro anos(13).

 

Esta investigao apresentou aspectos favorveis para o nmero de consultas, exames laboratoriais, estratificao de risco e incio do pr-natal, contudo, foram evidenciadas lacunas na magnitude do cuidado levando a falhas para a acompanhamento pr-natal, classificando-o como intermedirio, na perspectiva da mulher usuria. Dados semelhantes foram identificados na pesquisa realizada com gestantes na regio Sul e Nordeste do Brasil(14-15).

 

notrio que a reduo da mortalidade materna e infantil no Brasil est diretamente relacionada s aes desenvolvidas para o cuidado no pr-natal e nascimento, todavia, a incidncia de agravos decorrente de uma (des)assistncia em termos de qualidade no que diz respeito continuidade do cuidado, da promoo da sade, da preveno de danos e educao em sade(4,15). Apesar do alto nmero de consultas de pr-natal, os dados aqui apresentados coadunam com os resultados de uma reviso da literatura realizada no Brasil, onde os ndices de cobertura foram altos, mas a presena de falhas na continuidade e pouca qualidade dispensada foram excepcionalmente preditores para o aumento de agravos a sade materna e infantil(16).

 

Alm disso, o registro das aes, seja da histria pregressa ou da gestao atual, extremamente necessrio, visto que se refere a uma forma de garantir a continuidade do cuidado e de proporcionar o bom acompanhamento por profissionais mais qualificados(17).

 

Neste cenrio, relevante destacar o protagonismo do enfermeiro para ateno pr-natal por meio da consulta de enfermagem, a qual se refere a uma ao realizada privativamente pelo enfermeiro e tem como objetivo oportunizar condies para a promoo da sade da gestante e melhoria na qualidade de vida da mulher(2-3). Sendo assim, cabe ao enfermeiro a abertura do pr-natal, estratificao do risco gestacional e acompanhamento, conjuntamente realizao de outras aes de promoo, preveno e educao em sade(15).

 

Segundo a Rede Me Paranaense, a gestante de Risco Habitual aquela mulher que no apresenta caractersticas individuais, sociodemogrficas, de histria reprodutiva anterior e de agravos sua sade; Risco Intermedirio envolvem mulheres com caractersticas individuais, sociodemogrficas, de gestaes anteriores, que possam comprometer sua sade atual; Alto Risco, esto inseridas nesse grupo as gestantes com doenas prvias e ou com agravos na gestao atual, e que possa comprometer a sade fsica de me e beb(4).

 

preconizado ao enfermeiro, o acompanhamento da gestante de risco habitual, enquanto que gestantes de risco intermedirio e de alto risco devem ser vinculadas as unidades especializadas para o seguimento mdico, no entanto, estas gestantes, embora acompanhadas por profissionais especialistas, elas devem retornar a sua unidade de sade de origem para a continuidade de seus cuidados a nvel primrio, considerando que este servio a porta de entrada para o pr-natal e para todas suas aes, independentemente do momento ou do nmero de vezes que precisar dos servios(4,7).

 

A magnitude do seguimento pr-natal envolve um conjunto de exames laboratoriais e de imagens, procedimentos clnicos, intervenes educativas realizadas durante as consultas e ou de forma coletiva, todas quais buscando monitorar a evoluo da gravidez, detectar antecipadamente e tratar as intercorrncias mais recorrentes, contudo outras aes se fazem importantes para a completude da ateno pr-natal(4,15).

 

Diversas mudanas fisiolgicas so percebidas na gestante, deste modo, justifica-se a necessidade de pelo menos duas consultas odontolgicas durante a gravidez, para que ela receba orientaes e tratamentos oportunos de desconfortos e possa prevenir agravos como as infeces. Pesquisadores descrevem que a procura por consultas odontolgicas no perodo gestacional ainda se encontra insipiente e poucos estudos so realizados para verificar a baixa adeso(18), contudo, o nvel educacional, nacionalidade, autocuidado e conhecimento sobre sade oral so fatores determinantes para a adeso ao cuidado em mulheres grvidas(19).

 

E com respeito a citologia onctica, embora no seja um exame de rotina pr-natal, fundamental que este seja realizado, considerando a oportunidade de visita ao servio de sade criada pelo acompanhamento pr-natal(4).

 

Com relao s aes educativas no pr-natal, um importante alicerce para a promoo da sade, verifica-se uma tendncia a restrio dessas aes apenas durante as consultas individuais, com o simples repasse de algumas informaes sobre gravidez, parto e cuidados com o beb. Assim, embasadas em uma abordagem pouco atraente, as gestantes acabam por recorrer a busca por informaes em outros meios, principalmente pela internet, amigos e familiares.

 

fundamental o despertar dos profissionais para o exerccio da educao em sade por outras metodologias, nesta direo, compreende-se que a promoo da sade torna-se uma importante vertente para a preveno de doenas e complicaes no processo de adoecimento, alm de ser um meio de transmisso de informaes em sade mediante processos educativos, por exemplo,  com o uso de roda de conversa ou de grupo focal(20).

 

A generalizao deste estudo no indicada, considerando que os resultados retratam um municpio e no o estado, embora teoricamente todos devam seguir a linha guia da Rede Me Paranaense, estudos de aprofundamento ainda so necessrios para verificao da completa implantao e funcionamento adequado.

 

Concluses

 

Os resultados mostraram que as participantes tinham idade mdia de 25,8 anos, brancas, nvel mdio de escolaridade, com companheiro fixo e no exerciam profisso remunerada. Entre as mulheres com gestaes anteriores, o perodo interpartal foi superior a um ano e havia o registro do histrico obsttrico no carto de sade da gestante.

 

As consultas de pr-natal foram iniciadas precocemente, em nmero adequado (superior a seis), realizadas em UBS, sendo o enfermeiro o profissional que realizou a primeira consulta e as gestantes estratificadas como risco habitual. Menos da metade das gestantes foram informadas sobre o risco apresentado, e dentre as que receberam a informao, o enfermeiro foi o profissional que mais as informou.

 

O presente estudo mostra fragilidades na ateno pr-natal, no que diz respeito a magnitude e qualidade das consultas e na educao em sade, sendo deste modo, classificado como intermedirio. Foram observadas falhas na realizao de consultas odontolgicas, da citologia onctica, informao sobre o risco gestacional, exames de imagem e exame das mamas. Com respeito as aes de educao em sade, a maioria no participou de grupos de gestantes, e buscaram informaes, mas pela internet. Alm disso, muitas gestantes no visitaram a maternidade antes da realizao do parto.

 

Este estudo possibilitou um olhar mais crtico sobre a assistncia prestada a essas gestantes aps a implantao da Rede Me Paranaense, sendo que as consultas e exames esto ocorrendo, no entanto, ainda existem falhas no registro das informaes e no desenvolvimento de aes para a promoo da sade da gestante.

 

Os autores declaram que no h conflitos de interesses.

 

Referncias

 

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