O presente achado é considerado relevante, uma vez que a interação entre a equipe de enfermagem e a mãe da criança
internada possibilita uma assistência integral às necessidades das crianças, é preciso considerar os sujeitos envolvidos no
ambiente como protagonistas no cuidado à criança14.
Em virtude do sofrimento frente a procedimentos dolorosos, as crianças podem, muitas vezes, omitirem a dor. Dessa forma, o
relato da mãe é uma informação essencial e auxiliadora na avaliação da dor na criança, sendo que ele é capaz de identificar
pequenas alterações comportamentais, percebidas pela mãe e que não são facilmente notadas pelos profissionais, podendo
contribuir para a elaboração de intervenções adequadas para o quadro álgico. Ao contrário deste, em um estudo realizado foi
percebido que somente 12% dos participantes relataram utilizar a fala da mãe para avaliação da dor na criança11.
Um estudo realizado identificou que quando as mães eram inseridas no processo de cuidar, elas conseguiam estabelecer
comunicação com a equipe de saúde, emitir opiniões e empregar o seu conhecimento sobre a criança. Entretanto, as que eram
excluídas desse momento tinham dificuldade em encontrar o seu papel na unidade. Inserir a família no contexto hospitalar,
escutando a sua fala e compartilhando informações, permite que haja seu empoderamento com consequente envolvimento no
cuidado e tomadas de decisões no decurso da terapêutica do filho14-15.
Identificando alterações na criança e o autorrelato de dor
Outro pilar utilizado na avaliação da dor e que teve o maior apontamento nas falas dos profissionais consiste na observação de
expressões ou comportamentos, destacando-se: choro e fácies. A intensidade do choro é, inclusive, um parâmetro empregado
para mensurar o grau da dor. Foi possível identificar a relação entre choro e dor, sob a ótica dos profissionais:
“[...] a avaliação da dor ela é feita através das fácies da criança que expressa a dor, a gente vai lá verificar realmente e avaliar onde
que é a dor e ver realmente se a dor é forte, se é leve, dependendo do choro, do choro da criança, se ele está chorando muito, se ele
está com a fácies da dor, a fácies explica a dor”. (T.1)
“[...] o que a gente vê mesmo é o que a criança expressa, igual, por exemplo, o choro, a carinha de dor mesmo, isso que a gen te
geralmente identifica. (T.3)
Nas menores a gente tem que identificar é a face, o choro, qual a face que ela adota, se a fácies dela muda, se é uma fácies que ela
está mais retraída, se ela adota uma postura diferente [...]”. (E.1)
“Geralmente a gente avalia a dor por meio do choro, irritação, expressões faciais. As expressões faciais são de melhor identificação,
principalmente nas crianças menores”. (T.8)
A avaliação da dor em bebês e crianças ainda é um desafio para os profissionais de saúde, principalmente quando se trata de
crianças que ainda não verbalizam, fazendo com que o profissional de enfermagem busque outros recursos como a avaliação de
alterações comportamentais, destaca-se: resposta motora, a mímica facial (careta facial, fenda palpebral estreitada, sulco
nasolabial aprofundado, tremor de queixo, etc.), o choro e o padrão de sono e vigília16-17.
O choro foi a manifestação mais indicada pelos profissionais de saúde como forma de avaliação da dor, seguido da mímica facial,
mudança postural e alterações fisiológicas, respectivamente18. O choro é considerado a forma de comunicação mais primitiva e
representa, simultaneamente, um sinal, um sintoma e um indicador. Em virtude de sua subjetividade, o choro pode conter
diferentes significados e estar relacionado a outros eventos estressantes para a criança além da dor, como a fome, desconforto,
medo e troca de acompanhante e, por essa razão, não deve ser um parâmetro utilizado isoladamente19-20. Neste estudo, os
profissionais relataram reconhecer que o choro pode ter diferentes causas e que buscam identificá-las durante a avaliação.
“[...] a gente tinha aqui mesmo uma criança que sempre às quatro e meia começava a gritar de dor e eu comecei a questionar, por que
sempre as quatro e meia? Era o horário que a mãe vinha do serviço e aí ficava no lugar da avó”. (E.1)
“Porque às vezes a criança chora porque está com sono ou querendo colo, tem umas que choram só porque vê a gente se aproximando”.
(T.6)