REVISTA NORTE MINEIRA
DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em:
02/08/2021
Aprovado em:
24/11/2022
Como citar este artigo
Ribeiro BMSS, Silva VA, Dalri RCMB. Impactos da
pandemia de COVID-19 e as estratégias de
enfrentamento utilizadas por bancários. Rev
Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
Autor correspondente
Beatriz Maria dos Santos Santiago Ribeiro.
Universidade de São Paulo: Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto.
Correio eletrônico:
beatrizsantiago1994@hotmail.com
ARTIGO ORIGINAL
IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 E AS ESTRATÉGIAS DE
ENFRENTAMENTO UTILIZADAS POR BANCÁRIOS
Impacts of the COVID-19 pandemic and strategies for facing used
by bankers
Beatriz Maria dos Santos Santiago Ribeiro1, Vladimir Araújo da Silva2, Rita de Cássia de Marchi
Barcelos Dalri3.
1 Mestra em enfermagem. Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto,
Programa de Pós-Graduação Interunidades em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil. E-mail:
beatrizsantiago1994@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5211-5422
2 Doutora em Ciências da Saúde. Docente na Universidade Federal de Santa Catarina, Curitibanos,
Santa Catarina, Brasil, e-mail: vladimir.araujo@ufsc.br. ORCID https://orcid.org/0000-0001-9241-
6350.
3 Doutora em enfermagem fundamental. Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto, Programa de Pós-Graduação Interunidades em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP,
Brasil. E-mail: ritacmbdalri@bol.com.br. ORCID https://orcid.org/0000-0002-6575-5426.
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202100204
Objetivo: Descrever as experiências vivenciadas e as estratégias de enfrentamento
utilizadas por bancários durante a pandemia de COVID-19. Método: Pesquisa descritiva e
exploratória, com abordagem qualitativa, realizada em uma agência bancária pública do
Paraná. Adotou-se como orientação metodológica, o decálogo descrito por Minayo. Os
dados foram coletados em ambiente reservado, por meio de um formulário
sociodemográfico e de um roteiro de entrevista. As entrevistas foram previamente
agendadas, audiogravadas e transcritas na íntegra, e analisadas sob a perspectiva da
Hermenêutica-Dialética. Resultados: Participaram do estudo seis bancários cuja e das
respostas emergiram duas categorias temáticas: Sentindo o impacto da Pandemia de
COVID-19 no ambiente de trabalho e Adaptando-se às demandas de trabalho durante a
pandemia de COVID-19. Conclusão: Os bancários relataram experiências desgastantes e
estressantes, relacionadas a sentimentos negativos como raiva, medo e tristeza. As
estratégias de enfrentamento utilizadas referem-se à implementação de ações
organizativas, educativas, de biossegurança e religiosa/espirituais.
DESCRITORES: Saúde do trabalhador; Pandemias; Adaptação psicológica; Covid-19;
Serviços bancários pessoais.
Objective: To describe the experiences and coping strategies used by bank employees
during the COVID-19 pandemic. Method: Descriptive research and exploratory, with a
qualitative approach, carried out in a public bank branch in the Paraná. The decalogue
described by Minayo was adopted as a methodological guideline. You Data were collected
in a reserved environment, through a form sociodemographic data and an interview
Impactos da pandemia de Covid-19 e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários
31
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
script. The interviews were previously scheduled, audio-recorded and transcribed in full,
and analyzed from the perspective of Hermeneutics-Dialectics.
Results: Six bank employees whose and responses emerged two thematic categories:
Feeling the impact of the Pandemic of COVID-19 in the Workplace and Adapting to Work
Demands During Workplace COVID-19 pandemic. Conclusion: Bank employees reported
stressful experiences and stressful, related to negative feelings such as anger, fear and
sadness. At coping strategies used refer to the implementation of actions organizational,
educational, biosafety and religious/spiritual.
DESCRIPTORS: Occupational Health; Pandemics; Adaptation, Psychological; Covid-19;
Personal banking services.
INTRODUÇÃO
No dia 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi notificada sobre o registro de inúmeros casos de
pneumonia na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. Em 7 de janeiro de 2020, as autoridades chinesas confirmaram
que os casos de pneumonia estavam relacionados ao surgimento de um novo coronavírus, posteriormente denominado de SARS-
CoV-2. A doença, então, passou a ser chamada de COVID-19 e, em virtude de sua disseminação a nível mundial, a OMS a elevou
ao status de pandemia, em 11 de março de 2020(1).
No Brasil, as medidas de contenção da Covid-19 foram adotadas tardiamente, em comparação com outros países(2), e de forma
desordenada, com a implementação de isolamento social em diferentes graus de rigidez, em diferentes momentos e regiões
brasileiras, tornando-se a maior tragédia sanitária do país, com 22.030.182 casos confirmados e 613.066 mortes. Ressalta-se
também o aumento na taxa de desemprego, recentemente classificada como a quarta maior entre as principais economias do
mundo(3-4).
Desde 2015, a Organização Internacional do Trabalho tem feito projeções relacionadas ao desemprego(5), as quais foram
acentuadas após a pandemia de Covid-19. Diante desse agravamento, o Congresso Nacional e o Governo Federal
disponibilizaram um auxílio emergencial para os brasileiros que estivessem em condições de vulnerabilidade social(6). Como
consequência, houve um aumento significativo na demanda de trabalho das instituições bancárias, atividade considerada como
essencial, sendo, portanto, mantida no período de quarentena.
A alta transmissibilidade do vírus, a grande proporção de infectados oligossintomáticos ou assintomáticos(6), a inexistência de
vacina e de terapia medicamentosa comprovada, a insuficiente cobertura de testes, a duração prolongada dos quadros clínicos
e as experiências de outros países influenciaram as decisões relacionadas ao isolamento social e à manutenção dos serviços
considerados essenciais no Brasil. Vale lembrar que, nesse contexto, intensificaram-se as atividades laborais de alguns
trabalhadores(7), incluindo as dos bancários.
Nessa perspectiva, evidencia-se a importância das medidas preventivas, sobretudo no âmbito das atividades com maior risco de
exposição, como os serviços de saúde, as agências bancárias, as farmácias, os serviços de delivery, o transporte de cargas e de
passageiros, a segurança pública, o corpo de bombeiros, os serviços funerários, a coleta de lixo, dentre outras(8). Com efeito, os
bancários são expostos a vários riscos ocupacionais(8), podendo predispor sofrimento no trabalho, doenças, situações de
violência e pressões por parte de superiores e clientes(9).
É importante destacar que o número de bancários afastados por doenças cresceu substancialmente entre 2009 e 2017, segundo
dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Em 2009, 13.297 bancários obtiveram benefício acidentário ou
Impactos da pandemia de Covid-19 e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários
32
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
previdenciário. Oito anos após, 17.310 afastaram-se do trabalho por conta de enfermidades (aumento de 30%). Mais de 50%
dos casos estavam relacionados a transtornos mentais (aumento de 61,5%) e lesões por esforços repetitivos (crescimento de
13%)(10).
Nesse sentido, conhecer as experiências vivenciadas e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários durante a
pandemia de Covid-19, pode contribuir para a compreensão dos serviços ditos essenciais, mantidos durante a pandemia; para
se propor ações de cuidado voltadas à melhoria da qualidade de vida no trabalho e à redução de doenças e agravos ocupacionais
dos bancários; e para um melhor manejo da pandemia de COVID-19 e outras situações parecidas que possam ocorrer.
Não obstante, observa-se escassez de pesquisas envolvendo bancários, sobretudo durante a pandemia de COVID-19. Diante do
exposto, este estudo teve como objetivo descrever as experiências vivenciadas e as estratégias de enfrentamento utilizadas por
bancários durante a pandemia de COVID-19.
TODO
Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa, realizada em uma agência bancária pública de
um município do norte do Paraná.
Adotou-se como orientação metodológica, o decálogo descrito por Minayo(11): 1) conhecer a estrutura das pesquisas qualitativas;
2) definir o objeto sob a forma de uma pergunta ou sentença problematizadora e teorizá-lo; 3) delinear as estratégias de campo;
4) dirigir-se informalmente ao cenário de pesquisa, para observar os processos emergentes; 5) ir a campo fundamentado em
teoria e hipóteses, porém aberto para questioná-las; 6) ordenar e organizar o material secundário e o material empírico e imbuir-
se das informações e observações de campo; 7) construir a tipificação do material recolhido em campo e fazer a transição entre
o empirismo e teorização; 8) exercitar a interpretação de segunda ordem; 9) produzir um texto fiel aos achados, mas
contextualizado e accessível; 10) assegurar os critérios de fidedignidade e validade(11).
Estabeleceu-se como critério de inclusão, estar trabalhando no modo presencial, e como critério de exclusão, estar de licença
maternidade, licença médica ou férias. No primeiro momento, realizou-se a fase exploratória, onde o pesquisador “mergulhou”
de forma informal no cenário de trabalho, para que pudesse ampliar o grau de articulação e de segurança em relação aos
envolvidos. Assim foi possível aprimorar as hipóteses e o roteiro das questões(12).
Em um segundo momento, realizou-se a coleta de dados, de forma individual e presencial, sendo obrigatório o uso de
equipamentos de proteção individual. Nessa fase, utilizou-se um formulário sociodemográfico e um roteiro de entrevista
semiestruturada, conduzida pelas seguintes questões norteadoras: Fale sobre a sua experiência de trabalhar na agência bancária
durante a pandemia de COVID-19. Quais estratégias você tem utilizado para lidar com as adaptações exigidas nesse período?
O roteiro de entrevista foi aperfeiçoado durante a primeira etapa da pesquisa e submetido à apreciação de três pesquisadoras
especialistas na área da Saúde do Trabalhador, resultando em sua versão final. As entrevistas, que tiveram duração média de 40
minutos, foram previamente agendadas, pessoalmente, por ligação telefônica, via WhatsApp ou via e-mail; realizadas em
ambiente reservado, na agência bancária ou no próprio domicílio dos participantes; audiogravadas e transcritas na íntegra.
Os dados qualitativos foram analisados sob a perspectiva da Hermenêutica-Dialética(11), que abrange o seguinte conjunto de
técnicas: 1) Leitura primária de toda a transcrição dos diálogos com intuito de ordenar os dados e auxiliar os pesquisadores na
analogia de todos achados em campo; 2) Classificação dos dados por meio de leitura exaustiva do material, quando os
pesquisadores “flutuaram na leitura” estabelecendo a relevância e as ideias centrais que os bancários transmitiram. Para o
avanço do próximo passo, os pesquisadores produziram “cofres” com senhas abertas para os leitores, disseminando em
categorias amplas para o sistema de análise 3) Por fim, a análise final articulou categorias empíricas para discussão dos dados
Impactos da pandemia de Covid-19 e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários
33
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
junto aos achados da literatura nacional e internacional da temática, buscando-se um movimento dialético entre o adquirido de
forma concreta e o teórico.
Em cumprimento à Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde(13), o projeto de pesquisa foi apreciado e aprovado por
um Comitê de Ética em Pesquisa, sob o Parecer 4.127.810 e CAAE: 33641420.9.0000.5216. Para garantir a preservação do
anonimato dos participantes, foram utilizados como pseudônimos, nomes de moedas mundiais.
RESULTADOS
Características sociodemográficos e ocupacionais dos participantes
Seis bancários participaram da pesquisa e tinham idade média de 44,8 anos; média de dois filhos; média de 12 anos de trabalho
na agência bancária; e carga horária semanal média de 45 horas durante a pandemia de COVID-19. As demais características
estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Características sociodemográficas e ocupacionais dos bancários. Apucarana, 2020.
Características
N
%
Sexo
Feminino
4
67
Masculino
2
33
Estado civil
Casada(o)
5
83,5
Solteira(o)
1
16,5
Nível de escolaridade
Pós-graduação
6
100
Cor/raça autorreferida
Branca
5
83,5
Parda
1
16,5
Crença religiosa
Católica(o)
5
83,5
Nenhuma
1
16,5
Função desenvolvida
Auxiliar administrativo
1
16,5
Gerente financeiro
1
16,5
Gerente de negócios
1
16,5
Atendimento ao cliente
3
50,5
Fonte: Dados da pesquisa
Categorias temáticas
Sentindo o impacto da Pandemia de COVID-19 no ambiente de trabalho
Quando questionados sobre suas experiências no trabalho durante a pandemia de COVID-19, a maioria dos bancários descreveu
experiências desgastantes e estressantes, relacionadas aos sentimentos negativos como raiva, medo e tristeza; ao negacionismo,
relacionado à doença e às medidas preventivas, por parte de alguns clientes; à sobrecarga de trabalho, relacionada à redução
do quadro de funcionários em trabalho presencial; e às agressões verbais e ameaças, por parte de alguns clientes.
Impactos da pandemia de Covid-19 e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários
34
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
Adaptando-se às demandas de trabalho durante a pandemia de COVID-19
Em termos de estratégias de enfrentamento utilizadas durante a pandemia de Covid-19, os bancários mencionaram a
implementação de ações organizativas, voltadas ao atendimento presencial ao público; ações educativas, voltadas à
conscientização acerca da segurança relacionada ao autoatendimento (nos caixas eletrônicos), do uso do aplicativo (disponível
para baixar no celular), do distanciamento social e do bom senso, com o intuito de evitar aglomerações; cuidados voltados à
biossegurança, relacionados ao uso de máscara e álcool em gel; a utilização de crenças religiosas e espirituais relacionadas à
existência de um ser superior capaz de protegê-los e à esperança de que dias melhores virão.
Impactos da pandemia de Covid-19 e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários
35
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
DISCUSSÃO
O trabalho dos bancários brasileiros tem sofrido grandes transformações marcadas por demandas mercadológicas e crises
econômicas(14), sobretudo em decorrência da pandemia de COVID-19. Destaca-se um relato de experiência realizado com um
grupo de enfrentamento organizado com bancários adoecidos, coordenado pelo Núcleo de Ação em Saúde do Trabalhador
(NAST), em parceria com o Sindicato dos Bancários de Limeira. Evidenciou-se que os processos negativos notáveis como o
aumento da competição, a sobrecarga de trabalho e a pressão para o cumprimento de metas podem interferir na qualidade de
vida dos bancários(15).
O mesmo estudo ainda evidenciou que os bancários defendiam a sua instituição de trabalho, envolviam-se com o trabalho e o
cumprimento de metas, de forma intensa, levando alguns deles a ultrapassarem os seus limites e adoecerem mentalmente(15).
No cenário pandêmico, observa-se que essa dedicação se manteve, por meio da utilização de estratégias de enfrentamento e
adaptações ao ambiente de trabalho, como a adesão às normas de biossegurança necessárias.
Ressalta-se que o trabalho desenvolvido pelos bancários tem sido mencionado em pesquisas como sendo frágil e com fraca rede
de apoio e proteção, em virtude das transformações laborais que ocorrem constantemente nesse setor, e que, muitas vezes,
incentivam o trabalhador a buscar competividade, consigo mesmo, para atingir metas. Esse trabalho é caracterizado como
individualizado e com forte interferência nas relações familiares, nas atividades de lazer e de convivência social(16,17).
Estudos apontam que os bancários são despreparados em relação à organização do trabalho e à atividade profissional, e, na
maioria das vezes, o contato com o público, os expõe a pressões e sentimentos negativos(16,17). Quanto às agências bancárias,
por constituírem ambientes de trabalho onde circulam muitas pessoas e muito dinheiro, estão sujeitas a alto o risco de assaltos,
o que implica em maior tensão e níveis de ansiedade laboral entre os bancários(18).
Com efeito, trata-se de uma profissão marcada por imensa dedicação ao trabalho e, muitas vezes, exige uma postura flexível
diante das diversidades. Evidencia-se, ainda, o medo dos bancários de serem demitidos ou de não conseguirem alcançar as metas
impostas e, consequentemente, os benefícios e as promoções oferecidos como recompensas(15). No contexto da pandemia de
COVID-19, os achados do presente estudo revelam o surgimento de outro medo entre os bancários: o de contrair o SARS-CoV-
2.
Nessa perspectiva, as estratégias de enfrentamento são imprescindíveis no processo de superação do desgaste relacionado ao
trabalho(15). Corroborando essa percepção, os discursos de Libra Esterlina e Iene, revelaram que ambas experimentaram esse
processo de transcendência e resiliência em relação às dificuldades enfrentadas no início da pandemia de COVID-19.
Ressalta-se que as reponsabilidades ocupacionais dos bancários, as quais contemplam o atendimento presencial ao público e a
segurança nas operações, e devem estar alinhadas às normas organizacionais, implicam em esgotamento profissional(15).
Concernente às responsabilidades dos gerentes operacionais, durante a pandemia de COVID-19, aumentaram
significativamente, considerando-se a necessidade de adequações aos protocolos de biossegurança recomendados pelas
autoridades sanitárias.
Alguns gerentes da agência bancária cenário de pesquisa, enquadrados nos grupos de risco para COVID-19, tiveram a
oportunidade de aderir ao teletrabalho, exercendo suas funções gerenciais em suas residências. Em contrapartida, os bancários
que permaneceram em trabalho presencial, mostraram comprometimento, mesmo com queixas em relação ao período
pandêmico.
Impactos da pandemia de Covid-19 e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários
36
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
No que tange à organização do trabalho, a insatisfação relacionada à qualidade da supervisão recebida, à agilidade nas decisões,
à disponibilidade de equipamentos adequados, às restrições inerentes às comemorações internas, ou às cobranças e à pressão,
pode ter interferido no processo de adaptação de alguns bancários. Vale lembrar que a dificuldade em agilizar o atendimento, a
ausência de orientação por parte dos supervisores e às restrições relacionadas à celebração das conquistas são determinantes
para agravamentos à saúde mental dos trabalhadores(14).
Embora não tenha sido abordada nos discursos dos participantes do presente estudo, a preocupação com a questão econômica
durante e pós-pandemia de COVID-19 foi evidenciada em alguns estudos(19-20-21), haja vista que a pandemia afetou
significantemente o setor econômico do país. De suma importância destacar a participação da enfermagem na organização e no
processo de trabalho(22). Nesse contexto, emerge a Enfermagem do trabalho, que se dedica a assegurar suporte integral ao
trabalhador, em seu local de trabalho, e às instâncias ocupacionais. Sendo assim, possui papel fundamental na gestão de
cuidados, com vistas à promoção e à proteção à saúde; melhorias nos processos de trabalho e organizacionais; bem-estar;
prevenção à exposição de riscos de acidentes e doenças ocupacionais(23).
Visto que houve modificações de restrições ao longo do tempo para prevenção da COVID-19 (24), evidencia-se a necessidade de
cuidado e preservação da saúde física e mental dos bancários, bem como de outros trabalhadores cujas atividades laborais são
consideradas essenciais. Acredita-se que as experiências aqui compartilhadas, sobretudo as estratégias de enfrentamento
utilizadas durante a pandemia de COVID-19, possam contribuir para o entendimento de questões relacionadas à saúde do
trabalhador; a compreensão dos trabalhos ditos essenciais e mantidos durante a pandemia; a busca por melhor qualidade de
vida no trabalho; a redução nos índices de adoecimentos físicos e mentais; e um melhor manejo da pandemia da COVID-19 e de
outras situações semelhantes que possam surgir.
Como limitações do presente estudo, destaca-se o período de coleta de dados, considerado conturbado, em virtude da
pandemia, que pode ter dificultado a adesão dos participantes; e a escassez de estudos sobre esta temática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As experiências vivenciadas pelos bancários participantes deste estudo, durante a pandemia de COVID-19, foram desgastantes
e estressantes, considerando-se o negacionismo, relacionado à doença e às medidas preventivas, evidenciado por meio da
aglomeração entre os clientes; a redução dos recursos humanos e o consequente aumento da sobrecarga de trabalho; e as
agressões verbais e ameaças sofridas, por parte de alguns clientes. Essas experiências estiveram relacionadas a sentimentos
negativos como raiva, decorrente da imprudência de alguns clientes; medo, de contrair a doença, de perder seus entes queridos,
de serem demitidos ou não conseguirem alcançar as metas impostas; e tristeza, por presenciar o descaso diante da gravidade
da doença.
As estratégias de enfrentamento utilizadas por esses bancários, durante a pandemia de COVID-19, referem-se à implementação
de ações organizativas, voltadas ao atendimento presencial ao público; ações educativas, voltadas à conscientização da
segurança relacionada ao autoatendimento, do uso do aplicativo, do distanciamento social e do bom senso, com o intuito de
evitar aglomerações; ações de biossegurança, relacionadas ao uso de máscara e álcool em gel; e a utilização de crenças religiosas
e espirituais, relacionadas à existência de um ser superior capaz de protegê-los e à esperança de que dias melhores virão.
Ressalta-se que a compreensão do trabalho desenvolvido pelos bancários, durante a pandemia de COVID-19, pode estimular
intervenções que visem melhores condições de trabalho. Ao compreender essas experiências e estratégias de enfrentamento, o
enfermeiro do trabalho pode pensar e implementar ações de promoção e prevenção à saúde, com foco na saúde mental dos
bancários, na redução dos riscos inerentes e agravos à saúde, e na ampliação das possíveis adaptações do trabalhador.
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Impactos da pandemia de Covid-19 e as estratégias de enfrentamento utilizadas por bancários
37
Rev Norte Mineira de enferm. 2021; 10(2):30-37.
REFERÊNCIAS
1. World health organization. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): situation report, 82. 2020.
2. Watanabe M. Para Especialistas, Medidas são Tardias e Insuficientes. Valor Econômico, Política, 24 de março de 2020.
3. Brasil. Painel de casos de doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19) no Brasil pelo Ministério da Saúde. 2021. Disponível em : https://covid.saude.gov.br/
4. Brasil. Brasil tem a maior a maior taxa de desemprego do mundo, aponta ranking com 44 países. 2021. Disponível em: https://www.austin.com.br/Midia/22-11-
2021%20Brasil%20tem%20a%204%C2%AA%20maior%20taxa%20de%20desemprego%20do%20mundo,%20aponta%20ranking%20com%2044%20pa%C3%ADses%20(Portal%20G1)/10
263
5. Organização Internacional do Trabalho. World employment and social outlook: The changing nature of jobs, 2015.
6. Komatsu BK, Menezes-Filho N. Simulações de Impactos da COVID-19 e da Renda Básica Emergencial sobre o Desemprego, Renda, Pobreza e Desigualdade.
2020.
7. Nishiura H, Kobayashi T, Miyama T, Suzuki A, Jung SM, Hayashi K, et al. Estimation of the asymptomatic ratio of novel coronavirus infections (COVID-19). Int
J Infect Dis. 2020 [citado em 7 abr 2020]; S1201-9712(20):1-7.
8. Filho JMJ, Assunção AA, Algranti E, Garcia EG, Saito CA, Maeno M. A saúde do trabalhador e o enfrentamento da COVID-19. Rev. bras. saúde ocup. 2020, 45:
e14.
9. U. S. Department of Labor. Occupational Safety and Health Administration (Osha). Guidance on preparing workplaces for COVID-19, USA; 2020.
10. Central Única dos Trabalhadores. Bancários estão entre as categorias que mais adoecem no país, 2014.
11. Minayo MCS. Qualitative analysis: theory, steps and reliability. Ciênc. Saúde Colet. [Internet]. 2012 Mar [citado em 04 set. 2020]; 17(3):621-6.
12. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14th ed. São Paulo, SP; Rio de Janeiro, Hucitec/Abrasco; 2014.
13. Brasil MS. Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos, 2012.
14. Silva T. Menezes BAG. A qualidade de vida no trabalho dos bancários de instituições privadas. Resolução-Revista de direito e ciências gerenciais, v. 3, n. 3,
p. 129-146, 2019.
15. Paparelli R, Almeida TBD, Silva DLDD, Morgado LP. Adoecimento bancário: construção de estratégias individuais e coletivas para o enfrentamento do
desgaste mental relacionado ao trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 44, 2019.
16. Linhart, D. L'entreprise de dépossession [Entrevista com Daniéle Linhart], 2015. Disponível em: http://www.laviedesidees.fr/L-entreprise-de-depossession-
3054.html
17. Marques GS, Giongo CR. Trabalhadores bancários em sofrimento: uma análise da literatura nacional. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, v. 16, n. 3,
p. 220-247, 2016.
18. Schneider AMA, Werlang BSG. Assalto no local de trabalho, personalidade e coping: Uma revisão da literatura. Psicologia Argumento, 31(72), 101-111, 2013.
19. Duran CV. O momento “Bretton Woods” da Covid-19 e a cooperação monetária por bancos centrais. Estudos Avançados, v. 34, n. 100, p. 117-140, 2020.
20. Xavier EC. O brasil no covid-19 e no pós covid-19: análise e perspectivas dos bancos públicos no apoio da economia brasileira. Boletim Economia Empírica,
v. 1, n. 4, 2020.
21. Cunha AM. Como os bancos vão reagir à pandemia?. Análise: conjuntura nacional e Coronavírus. FCE/UFRGS. Porto Alegre, 2020.
22. Silva PLN, Carolina R. Percepção da equipe de enfermagem sobre organização e processo de trabalho da sala de vacina. Revista Renome, v. 7, n. 1, p. 32-47,
2019.
23. Ribeiro BMSS, Martins JT, Silva VA, Teston EF, Silva AC, Martins EAP. Enfermagem do trabalho na construção civil: contribuições à luz da teoria da adaptação
de Roy. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 17(2), 260-267, 2019.
24. Silva RAR, Araújo TLM, Colares KTP, Galvão EL, Silva GS, Guedes HM. Resposta de governos locais à pandemia do novo coronavírus no interior de Minas
Gerais. Revista Renome, v. 10, n. 1, p. 85-93, 2021.