REVISTA NORTE MINEIRA
DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em
: 20/09/2022
Aprovado em:
17/03/2023
Como citar este artigo
D
ias RBF, Oliveira TSS, Peixoto RCBO
, Santos
ACM, Farias KF, Figueiredo EVMS.
Perfil De
Puérperas Usuárias De Drogas Na G
estação:
Compreensão À Luz Da Teoria De Leininger.
Rev
Norte Mineira de enferm.
Autor correspondente
Renise Bastos Farias Dias
Universidade Federal de Alagoas
Correio eletrônico:renise.dias@arapiraca.ufal.br
ARTIGO ORIGINAL
PERFIL DE PUÉRPERAS USUÁRIAS DE DROGAS NA GESTAÇÃO:
COMPREENSÃO À LUZ DA TEORIA DE LEININGER
Profile of puerperal women who consumed drugs during
pregnancy: comprehension in the light of Leininger's Theory
arias Dias
1
,
Thaynara Silva dos Santos Oliveira
2
,
Rita de Cássia Batista de Oliveira
Peixoto3, Ana Caroline Melo dos Santos4, Karol Fireman de Farias5, Elaine Virgínia Martins de Souza
Figueiredo6.
1. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Alagoas. Arapiraca, AL, BR.
renise.dias@arapiraca.ufal.br, ORCID: 0000-0003-0960-9034
2. Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas. Arapiraca, AL, BR.
oliveiraathaynara@gmail.com, ORCID: 0000-0001-8942-6937
3. Mestre em Ciências pela Universidade Federal de Alagoas. Arapiraca, AL, BR.
rita.peixoto@arapiraca.ufal.br, ORCID: 0000-0001-9891-6188
4. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Pernambuco. Vitória de Santo
Antão, PE, BR. anacaroline12305@gmail.com, ORCID: 0000-0003-0280-6107
5. Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal de Alagoas. Arapiraca, AL, BR.
karol.farias@arapiraca.ufal.br, ORCID: 0000-0003-1352-2513
6. Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal de Alagoas. Arapiraca, AL, BR.
elaine.figueiredo@arapiraca.ufal.br, ORCID: 0000-0001-9724-5861
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202200108
Objetivo: identificar em puérperas o perfil sociodemográfico e de antecedentes
pessoais, familiares, obstétricos e dos padrões de consumo de drogas no período pré-
natal, a partir das dimensões socioculturais trazidas na Teoria de Madeleine Leininger.
Método: estudo etnoepidemiológico, descritivo, quanti-qualitativo, realizado em
maternidades alagoanas, entre fevereiro/2019 e março/2020, com 105 puérperas que
consumiram drogas na gestação. Os dados dos perfis das puérperas foram descritos
estatisticamente e discutidos à luz do nível I da Teoria de Leininger. Resultados:
observou-se a inter-relação dos fatores socioculturais, destacando-se os fatores
educacionais, de companheirismo e sociais, ao perfil das puérperas de maioria jovem,
com baixa escolaridade, que sofreram influência familiar para o início precoce de
consumo, sobretudo, de cafeína e álcool. Conclusão: revelou-se, portanto, a
necessidade do cuidado culturalmente congruente, centrado na família, tanto pela forte
representação sobre essas mulheres, como pela necessidade de se trabalhar a rede de
apoio saudável às mesmas.
DESCRITORES: Perfil Epidemiológico. Saúde da Mulher. Dependência de drogas.
Assistência à Saúde Culturalmente Competente.
Objective: to identify in puerperal women their personal, familiar, obstretic and
Perfil de puérperas usuárias de drogas na gestação: compreensão à luz da teoria de leininger
Rev Norte Mineira de enferm. 2022: 11(1): 54-61.
sociodemographic profile, as well as the patterns of drug consumption in their prenatal
period, based on the sociocultural dimensions on Madeleine Leininger’s theory.
Method: ethnoepidemiological, descriptive, quantitative and qualitative study, carried
out in maternity hospitals in Alagoas, between February/2019 and March/2020, with
105 puerperal women who consumed drugs during pregnancy. Data from these
women’s profiles were statistically described and discussed in light of Leininger’s theory
level I. Results: the interrelationship of sociocultural factors was observed, with
emphasis on educational, companionship and social factors, related with the profile of
young postpartum women, with low education, who were influenced by the family
regarding the beginning of the drug consumption, especially of caffeine and alcohol.
Conclusion: therefore, theneed for culturally congruente care, centered on the family,
was highlighted, due to the strong representation on these women, as well as on the
need to work on a healthy support network for them.
KEYWORDS: Health Profile. Women's Health. Substance-Related Disorders. Culturally
Competent Care.
INTRODUÇÃO
O aumento do consumo de drogas na sociedade mundial tem representado um problema de saúde pública.
Estudos revelam que entre 5 e 30% de mulheres consomem algum tipo de droga no período gestacional, cujo uso combinado
de duas ou mais drogas lícitas ou ilícitas tem sido uma prática comum, o que tem provocado grande preocupação para as
diversas instituições e esferas da sociedade quanto às repercussões que podem atingir à saúde e as dimensões sociais e
econômicas dessa população (1-2).
Compreendendo a magnitude dos impactos socioculturais e de saúde, consequentes do uso de drogas na
gestação, torna-se importante considerar o contexto em que está inserida a mulher usuária de droga, sua família, grupos,
comunidades ou instituições para explicar e predizer as necessidades humanas a partir de uma visão holística e não
fragmentada (3-4).
Nesta perspectiva, a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural (TDUCC) de Madeleine
Leininger, a partir de meta paradigmas, orienta que é possível compreender quais informações devem ser avaliadas em quatro
níveis. Especificamente no primeiro nível as dimensões da estrutura social e cultural são consideradas para fortalecer cuidados
em saúde, em congruência com os fatores culturais e não somente centrado nos sinais e sintomas (5).
Assim, estudos que utilizam a Teoria de Leininger podem ser favorecidos com a compreensão dos processos
socioculturais referentes à saúde da mulher tanto na perspectiva individual quanto coletiva(6). Nessa perspectiva, levantou-se a
seguinte pergunta de pesquisa: “como o perfil sociodemográfico, de antecedentes familiares e obstétricos e aspectos
socioculturais de puérperas que fizeram uso de drogas no período pré-natal, podem ser interpretados à luz da Teoria da
Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Madeleine Leininger?”
Partindo da motivação desta pergunta de pesquisa e de resultados de um estudo de revisão integrativa realizado
em 2021(7) em que se observou que não houve nenhum estudo que tivesse abordado esta temática integrando diversos fatores
como biológicos, epidemiológicos e socioculturais, conduziu-se o presente estudo que teve como objetivo identificar em
puérperas o perfil sociodemográfico e de antecedentes pessoais, familiares, obstétricos e dos padrões de consumo de drogas
no período pré-natal, a partir das dimensões socioculturais trazidas na Teoria de Madeleine Leininger.
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MÉTODO
Este estudo corresponde a Fase 2 de um estudo multifásico de métodos mistos, de perspectiva pragmática, que
contempla ao todo cinco fases (7). Um estudo de métodos mistos tem a capacidade de integrar dados quantitativos e
qualitativos para gerar metainferências e einsights exclusivos sobre os fenômenos observados, que não é possível obter com a
utilização de somente uma abordagem. Em estudos de métodos mistos cada fase possui a sua própria metodologia e seus
resultados podem ser comunicados aos leitores como artigo separado para melhor entendimento (8).
Portanto, apresenta-se aqui, exclusivamente, a fase que corresponde a um estudo etnoepidemiológico,
descritivo, de abordagem quanti e qualitativa. Os estudos etnoepidemiológicos são capazes de integrar todos
epidemiológicos e etnográficos, combinando proficientemente diferentes abordagens metodológicas, para melhor
compreender como o contexto o qual o indivíduo está inserido impacta na sua saúde e em aspectos sociais (9).
O presente estudo foi realizado em duas maternidades do Estado de Alagoas, durante o período de fevereiro de
2019 a março de 2020, onde foram entrevistadas 105 puérperas que declararam consumo de drogas no período pré-natal
(variável dependente), abrangendo cafeína, medicamentos, tabaco, álcool ou outras drogas; e que estavam em pós-parto
imediato ou mediato de gravidez única, selecionadas em um universo de 582 puérperas abordadas nas maternidades durante
o período da fase 1 do estudo multifásico.
Para determinar o consumo da cafeína na gestação, utilizou-se um quadro elaborado baseado em estudos de
referência, para medir o consumo de cafeína, adotando-se como parâmetro para esta avaliação, uma dose segura
recomendável inferior a 150mg/dia (10). Em relação ao consumo de álcool considerou-se o estudo de Hoyme et al. (11) que
descreve seis condições, onde pelo menos uma delas deve ser atendida para constituir a exposição pré-natal ao álcool. Para
este estudo foram adotadas três dessas seis condições: (1) seis ou mais doses por semana por duas ou mais semanas durante a
gravidez; (2) três ou mais drinques por ocasião em duas ou mais ocasiões durante a gravidez; e (3) problemas sociais ou legais
relacionados ao álcool na época da gravidez.
Quanto ao uso de medicamentos, aceitou-se para pesquisa, mulheres que tivessem feito uso de medicamentos
na categoria C, D ou X de risco na gravidez, tendo utilizado como parâmetro a Resolução da Diretoria Colegiada do Ministério
da Saúde 60, de 17 de dezembro de 2010(12). Quanto ao uso de tabaco e outras drogas, considerou-se a mulher usuária
habitual, em qualquer momento da gravidez, em virtude dos riscos à mulher e ao feto (1).
A amostra foi intencional por conveniência, não probabilística, em ocasião das visitas nas maternidades. Aceitou-
se um vel de confiança de 80%, cujo cálculo amostral foi obtido pela calculadora StatCalc Sample Size and Power para
estudos descritivos de inquéritos populacionais do software EPI Info 7, disponibilizado pela CDC, Atlanta, EUA.
Considerou-se para este cálculo, uma população de 3.494 puérperas, a partir do número de nascidos vivos em
Arapiraca no ano de 2019, de acordo com dado público disponibilizado pelo Departamento de Informática do Sistema Único de
Saúde do Ministério da Saúde (13); uma prevalência de 20%, considerando a estimativa realizada durante a fase 1 que
antecedeu o presente estudo, bem como registros na literatura (2); além de uma margem considerável de erro de 5%, design
effect de 1,0 e cluster 1.
Para obtenção dos dados quantitativos, foi utilizado um único formulário semiestruturado para coleta dos dados
secundários oriundos dos prontuários, cartão da gestante, cartão da criança, declaração de nascidos vivos e dos registros das
maternidades, bem como coleta das entrevistas realizadas com as puérperas, para obtenção dos dados epidemiológicos,
sociodemográficos, clínicos e das características do uso de drogas durante o período gestacional. Os dados quantitativos foram
organizados manualmente em uma base de dados em arquivo do software Microsoft Office Excel®. Por meio deste foi realizada
a análise estatística, com obtenção das frequências absolutas e relativas.
A partir dos dados quantitativos obtidos foi conduzida a análise qualitativa dos perfis destas puérperas, à luz da
Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural (TDUCC), proposta por Madeleine Leininger, que considera a
análise antropológica para compreender os fatores que repercutem na produção do cuidado sob a ótica transcultural e
holística, ponderando todos os sujeitos ativamente envolvidos nesse processo. Por este motivo, a etnografia tem sido a
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metodologia de escolha na maior parte dos estudos que abordaram os aspectos culturais antropológicos da saúde, doença e
cuidados (3-4).
A discussão dos resultados baseou-se nas dimensões da estrutura social e cultural, que correspondem a sete
fatores que podem influenciar para o cuidado culturalmente congruente, descritos no nível I do modelo Sunrise da Teoria de
Leininger: a) tecnológicos; b) religiosos e filosóficos; c) de companheirismo e sociais; d) culturais e modos de vida; e) políticos e
legais; f) econômicos; e g) educacionais (6).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas, sob o Parecer nº
4.028.842.
RESULTADOS
A partir dos dados quantitativos obtidos no presente estudo, identificou-se o perfil sociodemográfico das
puérperas consumidoras de drogas no período pré-natal, destacando-se um predomínio de mães com faixa etária entre 20 e
29 anos (57,15%, n=60), casadas ou eu viviam com companheiro e dividiam moradia com cônjuge e/ou filhos (70,48%; n=74),
baixa escolaridade (61,91%; n=65), oriundas da zona urbana (62,86%; n=66) e de religião católica (47,62%; n=50) (Tabela 1).
Tabela 1 - Perfil sociodemográfico de mulheres consumidoras de drogas no período gestacional, entrevistadas
durante internação em maternidades do agreste alagoano (n=105). Arapiraca, 2021.
Variáveis avaliadas Categorias N %
Idade 15-19 anos 17 16,19
20-24 anos 32 30,48
25-29 anos 28 26,67
30-34 anos 18 17,14
35-39 anos 10 9,52
Etnia Parda 64 61,54
Branca 22 21,15
Preta 12 11,54
Outros 7 5,77
Estado Civil Casada ou União Estável 74 70,48
Solteira 31 29,52
Nível Educacional Analfabeta 7 6,67
Fundamental incompleto 54 51,43
Fundamental completo 4 3,81
Médio incompleto 20 19,05
Médio completo 16 15,24
Superior incompleto 2 1,90
Superior completo 2 1,90
Ocupação Desempregada 70 66,67
Trabalha na Agricultura Familiar 23 21,90
Emprego formal 12 11,43
Renda pessoal fixa Não possui 89 84,76
Até 1 SM* 12 11,43
De 1 a 3 SM 4 3,81
Renda familiar fixa Não possui 22 20,95
Até 1 SM 23 21,90
De 1 a 3 SM 16 15,24
Somente Bolsa Família 44 41,90
Região de moradia Zona Urbana 66 62,86
Zona Rural 39 37,14
Arranjo familiar
(membro da família que
divide moradia)
Cônjuge e/ou filhos 74 70,48
Vários membros 19 18,10
Pai/mãe/irmãos 11 10,48
Perfil de puérperas usuárias de drogas na gestação: compreensão à luz da teoria de leininger
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Mora sozinha 1 0,95
Religião Católica 50 47,62
Evangélica 15 14,29
Espírita 5 4,76
Não tem 35 33,33
Fonte: Dados da pesquisa.
*Legenda: SM – Salário Mínimo.
Características relacionadas ao pré-natal, parto e pós-parto de mulheres usuárias de drogas no período pré-natal,
também foram avaliadas. A maioria das mulheres o planejou a gestação (58,10%; n=61), teve parto cirúrgico (63,81%; n=67)
com idade gestacional entre 37 semanas e 41 semanas e 6 dias (82,90%; n=87) (Tabela 2).
Tabela 2 - Características do pré-natal, parto e puerpério de mulheres consumidoras de drogas no período
gestacional, entrevistadas durante internação em maternidades do agreste alagoano (n=105). Arapiraca, 2021.
Variáveis avaliadas Categorias n %
Características do pré-
natal
Realizou o pré-natal
Sim, 4 ou mais consultas 99 94,29
Sim, 1 a 3 consultas 5 4,76
Não realizou pré-natal 1 0,95
Região em que realizou o pré-natal
Mesorregião do Agreste Alagoano 98 94,23
Mesorregião do Leste Alagoano 1 0,96
Outros estados brasileiros 5 4,81
Sistema de Saúde que fez pré-natal
Sistema Único de Saúde 101 97,12
Sistema Privado 3 2,88
Gravidez planejada
Não 61 58,10
Sim 44 41,90
Informou ao profissional se saúde sobre o consumo
habitual de drogas na gestação
Sim 66 62,86
Não 39 37,14
Recebeu orientações quanto aos riscos do consumo de
drogas na gestação
Sim 68 64,76
Não 37 35,24
Intercorrências na
gravidez
Não houve ou não foram relatadas 60 57,14
Infecção Urinária e/ou vaginal 20 19,05
Hipertensão arterial 9 8,57
Dores no baixo ventre/ Sangramento e/ou perda líquida 6 5,71
Enjoos intensos/ vômitos/ Fraqueza/ tontura 3 2,86
Infecção por Sífilis 4 3,81
Descolamento prematuro da placenta 2 1,90
Infecção por arbovírus (Chikungunya) 1 0,95
Depressão 1 0,95
Dados do parto Tipo de parto
Cesariana 67 63,81
Natural 38 36,19
Idade Gestacional
Menos de 35 semanas 5 4,70
35 a menos de 37 semanas 10 9,50
37 a menos de 42 semanas 87 82,90
42 semanas ou mais 3 2,90
Intercorrências no
parto
Não houve ou não foram relatadas 94 89,52
Trabalho de parto prolongado 7 6,67
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Demora para dequitação da placenta 1 0,95
Desmaio em sala de parto 1 0,95
Rotura do útero/ hemorragia/ Cesariana com aderência 2 1,90
Intercorrências no
puerpério
Não houve ou não foram relatadas 99 94,29
Pré-eclâmpsia/ Dor/ sinais flogísticos em ferida operatória 3 2,86
Tratamento de Sífilis 3 2,86
Fonte: Dados da pesquisa.
Quanto às características do consumo de drogas na gestação, foi possível identificar o uso desde o trimestre
da gravidez (98,10%; n=103), diariamente (77,14%, n=81), sendo a cafeína (27,62%; n=29) a mais consumida. A ingestão de
álcool no período pré-natal que, associado ou não à cafeína e/ou tabaco, correspondeu a 41,91% (n= 44) das puérperas
entrevistadas. Sobre o uso de medicamentos durante a gestação, identificou-se que 13,33% (n=14) das mulheres consumiram
medicamentos da categoria C e D de risco na gestação, associado ou não à cafeína. Nenhuma puérpera declarou consumir
medicamentos na categoria X (Tabela 3).
Tabela 3 - Características de consumo de drogas no período gestacional, entre mulheres entrevistadas durante
internação em maternidades do agreste alagoano (n=105). Arapiraca, 2021.
.
Característica do consumo de drogas na gestação n %
Droga consumida na gestação Somente cafeína 29 27,62
Álcool + Cafeína 20 19,05
Somente álcool 13 12,38
Tabaco + Cafeína 11 10,48
Cafeína + Medicamentos (categorias C e D) 10 9,52
Álcool + Tabaco + Cafeína 7 6,67
Álcool + Tabaco 4 3,81
Somente medicamentos (categorias C e D) 4 3,81
Somente tabaco 4 3,81
Múltiplas drogas (lícitas e/ou ilícitas) 3 2,86
Idade gestacional que iniciou o
uso da droga
No 1º trimestre 103 98,10
No 2º ou 3º trimestre 2 1,90
Tempo que consumiu drogas na
gestação
Durante a gravidez toda 78 74,29
Em um ou mais momentos da gravidez 27 25,71
Última vez que consumiu drogas
antes do parto
No dia anterior ao parto ou no dia do parto 69 65,71
Em algum momento até o 8º mês gestacional 31 29,52
Entre 2 a 7 dias antes do parto 5 4,76
Última droga consumida antes
do parto
Álcool 22 20,95
Tabaco 20 19,05
Cafeína 56 53,33
Medicamentos (categorias C e D) 7 6,67
Periodicidade do uso de drogas
na gestação
Diariamente 81 77,14
2 a 3x/semana 17 16,19
1x/semana ou esporadicamente 6 5,71
4 a 6x/semana 1 0,95
Características do consumo de
bebida alcoólica na gestação
Não relataram consumo na gestação 59 56,19
Consumiram 3 ou mais doses/semana durante 2
ou mais ocasiões 34 32,38
Consumiram 6 ou mais doses/semana durante 2
ou mais semanas 10 9,52
Relataram problemas sociais relacionados ao
álcool durante a gestação (inclui embriaguez) 2 1,90
Quantidade de consumo de
cafeína na gestação Até 150mg/dia 32 30,48
301mg/dia ou mais 28 26,67
Não relataram consumo na gestação 25 23,81
De 151mg/dia a 300mg/dia 20 19,05
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Fonte: Dados da pesquisa.
Os antecedentes pessoais e familiares no contexto do consumo de drogas no pré-natal, entre as mulheres
entrevistadas, também foram analisados. Identificou-se que 47,62% (n=50) das mulheres declararam ter experimentado pela
primeira vez uma droga, seja lícita ou ilícita, entre 15 e 19 anos, sendo o álcool a primeira droga mais consumida (37,14%;
n=39), tendo a família (48,57%; n=51) e amigos (33,33%; n=35) como os maiores influenciadores para o início do hábito de
consumo de drogas (Tabela 4).
Tabela 4 - Antecedentes pessoais e familiares de mulheres consumidoras de drogas no período gestacional,
entrevistadas durante internação em maternidades do agreste alagoano (n=105). Arapiraca, 2021.
Variáveis avaliadas Categoria n %
Idade que iniciou uso de droga 9 anos ou menos 13 12,38
10 a 14 anos 28 26,67
15 a 19 anos 50 47,62
20 anos ou mais 14 13,33
Primeira droga consumida Álcool 39 37,14
Cafeína 37 35,24
Tabaco 22 20,95
Outro 7 6,67
Primeiros influenciadores para o
consumo de drogas
Família 51 48,57
Amigos 35 33,33
Outros 6 5,71
Não lembra ou não foi influenciada 13 12,38
Sente-se dependente da droga Não 62 59,05
Sim 43 40,95
Problema de saúde mental atual
declarado
Depressão ou ansiedade 9 8,57
Disfunções mentais ou cerebrais 5 4,76
Estresse e/ou agitação 3 2,86
Não declarado 88 83,81
Existência de familiares dependentes de
droga
Não 19 18,10
Sim, pais/avós/irmãos 30 28,57
Sim, cônjuge 14 13,33
Sim, vários membros da família 42 40,00
Droga de uso habitual de preferência
familiar
Álcool 56 53,33
Tabaco 38 36,19
Álcool + tabaco 8 7,62
Outros 3 2,86
Existência de casos de violência
doméstica na família
Não relataram ou não houve 87 82,86
Sim, com a entrevistada 10 9,52
Sim, com familiares 8 7,62
Tipo de violência sofrida Violência psicológica 8 44,44
Violência física 4 22,22
Psicológica e/ou física e/ou sexual 6 33,33
Fonte: Dados da pesquisa.
Para configurar as dimensões socioculturais trazidas na Teoria de Leininger, e interpretadas a partir dos
indicadores fornecidos pelos dados quantitativos, foram compreendidos nos fatores de companheirismo e sociais, a faixa etária
atual das puérperas, o estado civil, o arranjo familiar, as influências sociais e a idade de início do consumo de drogas além da
vulnerabilidade ao risco de violência. Nos fatores religiosos e filosóficos foram identificadas as representações que as mulheres
têm em relação ao consumo de drogas e a religião declarada. Os fatores educacionais foram representados pela baixa
escolaridade identificada e como isso pode interferir na comunicação e educação em saúde à mulher e sua família. No
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contexto dos fatores econômicos foi refletido sobre a baixa renda e a vulnerabilidade social do contexto de pobreza vivido pela
maioria das mulheres.
Os fatores culturais e modo de vida foram caracterizados pelos hábitos de vida e de consumo de drogas, inclusive
no contexto familiar. Os fatores tecnológicos foram abordados a partir das tecnologias leves em saúde, contemplando o
acolhimento e o acesso aos serviços de saúde em seus níveis de complexidade e aos tratamentos necessários. Por fim, os
fatores políticos e legais trouxeram à discussão os recursos existentes e possíveis para atuar frente às situações de risco de
violência, de acesso à educação e ao cuidado inerente à mulher/mãe dependente de droga e sua família.
DISCUSSÃO
Fatores de companheirismo e sociais
A partir do perfil sociodemográfico das puérperas consumidoras de drogas no período pré-natal, foi possível
observar que a maioria das mulheres entrevistadas era jovem parda, casada, cujo arranjo familiar foi caracterizado por família
nuclear composta por pais e filhos, em vulnerabilidade social. Dados estes que corroboram com um estudo realizado no Rio
Grande do Sul, Brasil, com puérperas usuárias de drogas, sem considerar o consumo de cafeína(1), em que a faixa etária e
estado civil se equiparam com os dados desta pesquisa. Outro estudo (14 ) com mulheres identificou que a maioria que declarou
ser usuária de álcool ou outras drogas, sem considerar consumo de cafeína, era solteira. Tais fenômenos denotam a ideia de
que o estado civil pode não ser um fator determinante para o consumo de álcool ou outras drogas em mulheres em idade
fértil, estejam estas gestantes, puérperas ou não.
Outra característica analisada foi o fato da maioria das mulheres ter estreado o consumo de drogas na
adolescência e uma parcela significativa ter iniciado na infância, com forte influência de familiares e amigos, sendo o álcool a
primeira droga experimentada na maioria dos casos, seguido da cafeína e tabaco. estudos que relatam que a família,
embora possa ser considerada um fator de proteção, pode também ser considerada fator de risco para o uso de drogas na
adolescência. O consumo parental de tabaco, maconha ou bebidas alcoólicas em meio familiar pode ser considerado uma forte
influência para o início das práticas de consumo entre seus filhos. Isso pode ocorrer pela falta de afetividade parental, pelo
modo como ocorrem as relações familiares e pela percepção que o adolescente tem das atitudes de seus pais (15).
Casos de violência doméstica também foram relatados no presente estudo, principalmente a violência
psicológica e física, assim como o reconhecimento da dependência de droga pelo companheiro ou cônjuge, sendo o álcool e o
maior tempo de consumo de drogas os principais fatores relacionados aos casos de violência relatados. Estudos revelam que o
consumo abusivo de drogas pode provocar alterações no comportamento do usuário, acarretando, inclusive, episódios de
violência que comumente ocorre em ambiente doméstico, provocado pelo cônjuge ou parceiros íntimos. Esse contexto de
vulnerabilidade social, onde se inclui a violência, atinge o exclusivamente a mulher, mas todos aqueles que a cercam, seja
nos âmbitos psíquico, físico ou moral(16-17).
Fatores religiosos e filosóficos
Os dados sobre os antecedentes pessoais e familiares entre as puérperas entrevistadas podem expressar a
representação social das mesmas frente ao consumo de drogas nas gerações familiares, uma vez que mulheres relataram
reconhecer em seus avós, pais e irmãos a dependência a alguma droga. Essa prática herdada de geração a geração pode
refletir a representação de si e do grupo a que pertence a mulher, ao mesmo tempo que serve como uma fuga da realidade
(18).
Foi relatado pela maioria das mulheres um consumo diário de drogas, muitas não se reconheceram dependentes
da droga, tendo este fato uma forte relação com a existência de membros da família dependentes. Fato que pode significar
que essas mulheres acreditavam que o consumo era um hábito rotineiro e comum, inclusive passando entre gerações
familiares.
Entende-se que as mulheres podem manifestar dúvida em revelar ou não o consumo de drogas durante a
gestação aos profissionais de saúde, o que pode resultar em negação ou relato de um consumo menor, sobretudo devido ao
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sentimento de culpa ou medo de sofrerem discriminação por parte dos profissionais de saúde. A justificativa da negação da
dependência de droga também pode perpassar pelo medo da discriminação em virtude do estigma da sociedade que, sem
levar em consideração o contexto sociocultural, não tolera a mulher usuária de droga, percebendo-a como promiscua e
incapaz de exercer a maternidade (14,19).
Embora seja esperado que o uso de drogas entre indivíduos com alguma prática religiosa seja menos comum,
pela crença que a religião pode implicar em proteção à mulher1. De certo, conhecer a religião e as representações sociais
acerca dessas mulheres pode permitir a compreensão do conjunto de crenças, valores e atitudes relacionados ao fenômeno
em questão e assim promover ações de sensibilização e responsabilidade social, inclusive integrando o papel da Igreja no
incentivo às pessoas dependentes de drogas, pela busca à saúde (20).
Fatores educacionais
A baixa escolaridade das puérperas observada neste estudo contrastou com estudo realizado no Rio Grande do
Sul, onde a maioria das gestantes usuárias de álcool ou outras drogas tinha mais de 9 anos ou mais de estudos (2). O vel de
escolaridade pode estar diretamente relacionado ao planejamento da educação em saúde. Esse aspecto pode ter refletido em
falhas de comunicação entre paciente e profissional de saúde, ao identificar que muitas puérperas não comunicaram ao pré-
natalista o hábito de consumo de drogas, assim como não receberam orientações profissionais sobre o risco deste consumo na
gestação. A falta de informações durante o pré-natal acerca dos eventos fisiológicos no período gestacional, parto e puerpério
também foi observada em estudo realizado com puérperas em maternidades no nordeste do Brasil, demonstrando falha na
assistência obstétrica (21).
Cabe destacar o consumo de drogas desde o primeiro trimestre da gestação, demonstrando a importância de
orientações no início do pré-natal para minimizar as consequências adversas deste consumo na mãe e bebê. Entende-se que
deficiências nas orientações durante o pré-natal pela dificuldade do rastreamento cotidiano de uso de drogas na gestação
(22).
Neste sentido, é importante mobilizar, entre profissionais de saúde, ações fundamentadas em habilidades de
comunicação e de busca do conhecimento de determinantes culturais da população atendida, que possam contribuir para a
educação em saúde que edifiquem os saberes primários, proporcionando às mulheres o exercício contínuo do pensamento
crítico e reflexivo sobre suas práticas de vida e o cuidado com sua própria saúde e a saúde do seu filho(23), inclusive no contexto
do uso de drogas e suas consequências.
Fatores econômicos
Foi possível observar que a maioria das mulheres estava desempregada, sendo uma parcela considerável da
população oriunda da zona rural e exercendo atividade laboral na agricultura familiar. A literatura evidencia que há a presença
do uso de drogas em todas as classes socioeconômicas (2), mas as mulheres com baixa escolaridade, na maioria dos casos,
conseguem desempenhar trabalhos informais que rendiam o sustento apenas para o seu vício (15), o que faz refletir sobre a
esfera capitalista em que a puérpera possa estar inserida e aprisionada, na figura de uma personagem viciada, no seu contexto
sociocultural (18).
Observou-se que muitas puérperas não possuíam renda pessoal fixa e suas famílias dependiam do auxílio
oriundo do Programa Bolsa Família, refletindo a situação de pobreza ou de extrema pobreza. Esses dados corroboram com
estudos (14,22) em que foi identificado que a maioria das mulheres não desenvolvia atividade laboral ou que as mulheres em
tratamento para dependência de álcool ou outras drogas não possuíam renda fixa. Mas se contradiz, por exemplo, com
resultados de outro estudo com mulheres em tratamento de drogas, onde a maioria possuía renda familiar superior a mil reais
(24), demonstrando que independente da situação econômica da mulher, o contexto da dependência de droga pode estar
presente e precisa ser considerado no planejamento do cuidado.
Fatores culturais e modos de vida
Por fatores culturais e modos de vida, a mulher pode ser introduzida ao consumo de drogas em idade jovem,
possivelmente em decorrência das mudanças na cultura do consumo de drogas na contemporaneidade (2). Porém, mesmo que
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as mulheres estreiem o consumo de drogas mais tardiamente que o homem, ela pode apresentar mais precocemente os
efeitos deste consumo(25).
No presente estudo identificou-se que 20,00% das puérperas abordadas relatou o consumo de uma ou mais
drogas. Porcentagem que se aproxima com o estudo em que foi observado que cerca de 26,00% das gestantes atendidas
declararam o consumo de pelo menos uma droga na gestação (22). O hábito alimentar do consumo de café foi observado, sendo
esta uma prática comum e universal, embora haja evidências que desaconselhem o consumo às mulheres grávidas ou que
desejem engravidar por seus efeitos negativos na gravidez (10).
Outro fator cultural e de modo de vida analisado foi o trabalho na agricultura familiar. Considerando que o
presente estudo foi realizado no agreste alagoano, levou-se em consideração a cultura ainda existente na região onde se
mantém historicamente a agricultura do fumo, tornando o tabagismo um hábito familiar. Um estudo realizado com
trabalhadores fumageiros em Alagoas demonstrou o importante papel desempenhado pelas mulheres na agricultura do
tabaco, desde o destalo da folha do fumo à participação essencial no sustento de suas famílias(26).
O tratamento da depressão e ansiedade também foi observado no atual estudo com presença de consumo de
medicamentos da classe C e D de risco na gestação. Estudos revelam que os antidepressivos assim como os antibióticos estão
entre os mais utilizados no período gestacional, o que pode ser considerado cultural, tornando necessário acompanhamento
profissional às gestantes para minimizar os riscos da automedicação e prevenir possíveis complicações materno-fetais (27).
Fatores tecnológicos
Considerou-se neste fator a tecnologia dividida em leve, leve-dura e dura. Na leve enquadra-se as relações
interpessoais, incluindo os vínculos e o acolhimento. Um aspecto inerente à tecnologia classificada como “leve-dura” considera
o saber estruturado, com a formação de profissionais de saúde e o acesso ao conhecimento das particularidades de cada
mulher, de suas características sociodemográficas, econômicas e de saúde, além dos fatores de riscos provenientes ao uso de
drogas no período gestacional, que favorecem a aplicação de um cuidado integral e qualificado, minimizando as complicações
clínicas materno-neonatais com mais efetividade. a tecnologia dura consideram-se os equipamentos tecnológicos, normas e
estruturas organizacionais (22,28).
O acesso precoce às tecnologias leves em saúde, com foco nas relações e no acolhimento para a prevenção às
consequências do uso da droga na gestação, em geral, é deficiente. Embora o preconceito sofrido por estas mulheres possa
oprimir a busca pelo tratamento da dependência à droga, é no período da fase adulta, em que a mulher percebe os efeitos
nocivos e reais da droga em sua saúde e busca por possibilidades de tratamento (14).
Ao se avaliar as características do pré-natal, parto e s-parto de mulheres usuárias de drogas na gestação,
pode-se identificar a existência de intercorrências nestas três fases. No estudo atual, observou-se que a maioria das puérperas
realizou pré-natal pelo Sistema Único de Saúde e todas tiveram acesso às maternidades para o parto, inclusive ao parto
cirúrgico. As intercorrências listadas pelas mulheres foram mínimas, com destaque aos casos de infecção urinária e/ou vaginal
no período pré-natal e ao trabalho de parto prolongado. Quando necessário, as mulheres tiveram acesso ao tratamento de
sífilis no pós-parto imediato.
O que faz refletir sobre o acesso à atenção básica e especializada como um recurso tecnológico acessível às
mulheres usuárias de drogas, inclusive as lícitas. Mesmo sendo preconizado este atendimento nos serviços de saúde, inclusive
com encaminhamento ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), as mulheres ainda não têm acesso pleno às tecnologias
possíveis nos serviços de saúde. Outro aspecto que dificulta o acesso a esses serviços é a baixa escolaridade e o medo do
preconceito, que podem estar diretamente relacionados à adesão às consultas de pré-natal ou ao tratamento (22).
Fatores políticos e legais
Dentre os fatores políticos e legais observados no presente estudo está o cuidado com a problemática da
violência contra a mulher, sobretudo no contexto do uso de drogas, que se configura social, histórica e culturalmente na vida
da mulher e sua família, e que para este fim, tem aprovada no Brasil, a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha
(16).
Outro fator que se faz necessário discutir é sobre a escolarização dessas mulheres, além de programas voltados à
população de maior vulnerabilidade social. Desta forma, ações de incentivo à educação, assim como de formação
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profissionalizante, podem ajudar não somente à qualidade de vida no contexto socioeconômico, mas ao acesso de políticas
públicas para a prevenção e tratamento da dependência de drogas.
Por fim, faz-se necessária uma discussão ampliada quanto às políticas públicas voltadas à gestação na
adolescência, com foco especial à educação em saúde voltada a este público, além de políticas de atenção à saúde da mulher,
incluindo o planejamento familiar, o pré-natal e o puerpério, com foco na dependência a drogas, de modo que haja a rotina de
uma triagem no pré-natal mais eficaz para identificar o consumo de drogas na gestação.
CONCLUSÃO
As puérperas, em sua maioria, eram mulheres jovens, pardas, casadas, com baixa escolaridade e renda, em
vulnerabilidade social. A cafeína, álcool e tabaco foram as drogas mais consumidas, com forte influência familiar. O que remete
à necessidade do cuidado centrado na família, tanto pela forte representação sobre as mulheres, como pela necessidade de se
trabalhar a rede de apoio saudável às mesmas.
A mãe usuária de droga precisa ser percebida inserida num contexto sociocultural, com suas peculiaridades,
levando em consideração o estigma que sofre pelo fato de ser usuária de drogas na gestação, a necessidade de acolhimento e
apoio desde o período pré-natal, e o acesso ao conhecimento, aos recursos de tratamentos e às políticas públicas de saúde
materno-infantil no contexto das drogas.
Para isso, os profissionais de saúde precisam de um saber fundamentado para o desenvolvimento do cuidado
culturalmente congruente. Assim, a teoria de Madeleine Leininger demonstrou ser um importante recurso para desvelar as
possibilidades de cuidado frente ao conhecimento do perfil de mulheres usuárias de drogas e suas famílias.
Espera-se que o exercício de aproximação da Teoria do Cuidado Transcultural de Leininger para a compreensão
das características e necessidades da população em estudo, sobretudo quando se trata de mulheres usuárias de drogas, possa
incentivar profissionais de saúde a buscarem conhecer melhor sua população a partir da observância dos elementos contidos,
inclusive, em outros níveis do Modelo Sunrise, para resignificação de suas práticas.
Declaramos que não há conflitos de interesse.
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