profissional. A imunização entre os acadêmicos da área da saúde pode ser assegurada pela solicitação do comprovante de
vacinação e do teste anti-HBs atualizados, no ato da matrícula, antes do início das atividades práticas dos cursos. Tal medida foi
adotada para os cursos de medicina e enfermagem por cinco países europeus, também foi recomendada por outros nove
países11. Todavia, no Brasil, essa medida depende da iniciativa das próprias instituições de ensino, uma vez que no país, não
existem dispositivos legais que assegurem essa conduta12.
Foi observada alta especificidade do relato de vacinação contra HB, ou seja, a maioria que respondeu que não era vacinado
realmente não era (verdadeiros negativos). O VPP do relato de vacinação foi de 94,2%, indicando que a maior parte dos
indivíduos que se declararam vacinados de fato o eram. Tal VPP é decorrente da alta especificidade do relato e da prevalência
de vacinação de mais de 50% na população estudada13. Ressalta-se que quanto maior a prevalência do evento, maior será o
valor preditivo positivo e menor será o valor preditivo negativo, ou seja, quanto mais frequente é o evento mais provável é
encontrar verdadeiros positivos (aumentando o VPP), mas também será mais provável encontrar falsos negativos (diminuindo
o VPN)13.
Este estudo mostrou que o relato de vacinação, pelo menos no caso da vacina contra HB, não é uma boa estratégia para
estimar a prevalência. Verificou-se uma prevalência auto-referida (27,6%) muito diferente da determinada pelo padrão-ouro
(58,6%), diferindo de estudos que avaliaram a validade do auto-relato na estimativa da prevalência para doenças como a
hipertensão e o diabetes mellitus, que por sua vez, encontraram prevalências muito próximas na comparação entre relato e
padrão-ouro10,13. Quanto aos fatores associados à discordância entre relato e padrão-ouro, verificou-se que ela foi maior entre
os acadêmicos mais jovens e que nunca tiveram contato com perfurocortante no trabalho. Tais resultados podem estar
relacionados à maior consciência adquirida ao longo da idade e, principalmente, após a exposição ao risco. Indivíduos mais
jovens ou que nunca trabalharam em serviços que poderiam gerar contato com perfurocortantes, se comparados aos mais
velhos e que já tiveram contato com perfurocortantes, podem ter tido menos oportunidades de serem sensibilizados quanto à
importância da vacina contra HB, talvez por meio de campanhas ou atualizações, e por isso fizeram um relato de vacinação
diferente do registro no cartão6,14.
A discordância entre relato e o registro no cartão foi maior entre aqueles que pertencem a famílias com maior número de
dependentes da renda familiar, o que pode ser explicado pelo fato de que em famílias mais numerosas com mais dependentes
o cuidado dos pais ou responsáveis pode nem sempre ser realizado a contento15 e que acadêmicos oriundos dessas famílias
talvez desconhecessem a realidade de sua situação vacinal e, por isso, referiram uma situação diferente da realidade. Também
foi observado que a discordância aumenta com aumento do IMC o que, provavelmente, pode ser reflexo de que
comportamentos negligentes com a saúde se repetem, ou seja, aqueles que não cuidam do peso, o que pode levar a
complicações de saúde, podem também não se preocupar com outras atitudes profiláticas incluindo a vacinação e, por isso,
acabam por desconhecer sua situação vacinal16,17.
Os acadêmicos dos cursos de farmácia e odontologia foram mais discordantes quanto ao relato de vacinação contra HB em
acordo ao cartão vacinal quando comparados aos acadêmicos do curso de enfermagem. Tal situação era esperada, tendo em
vista que a enfermagem é profissão que tem a responsabilidade técnica pelas salas de vacinas. É responsável por todo o
processo de transporte, armazenamento e administração de vacinas, portanto, provavelmente são sensibilizados sobre a
importância da situação vacinal e atualização do cartão desde o ingresso no curso4,11. Dessa forma, esses acadêmicos parecem
conhecer mais sua situação vacinal.
A comparação com outro estudo que avaliasse as propriedades do relato de vacinação contra HB e os fatores associados a
discordância entre relato e registro ficou prejudicada por não haver na literatura estudo semelhante. Os resultados desta
investigação mostraram que, para a população estudada, a utilização da informação de vacinação auto-referida não é válida
em razão da baixa especificidade, acurácia razoável, baixo VPN e baixa concordância. Para que o relato seja uma boa medida
para estudos de vacinação é muito importante que tal medida apresente alta sensibilidade. Ou seja, dos acadêmicos que se
vacinaram, quantos que a medida de relato apresenta, acertadamente, a realidade. A baixa sensibilidade implica em pessoas
que vacinaram e desconhecem esse fato. Isso poderia acarretar em novo esquema vacinal desnecessariamente e
subestimativa da prevalência de vacinação em estudos epidemiológicos.
Quanto à especificidade, quando não houve vacinação, os indivíduos relatam acertadamente que não se vacinaram. Eles
sabem corretamente que não foram vacinados. É uma propriedade desejável, pois não saber é fundamental para que ocorra a