Sentimentos Despertados Durante a Espera de Notícias de um Familiar em Cirurgia
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Rev Norte Mineira de enferm. 2023; 12(1):35-43.
local agradável e humanizado, que proporcione conforto para os familiares e amigos, torna-se uma estratégia de promover a
saúde desses indivíduos, tendo em vista o benefício dessa ação como descrito em uma das cinco estratégias da PNPS (9).
Uma forma de amenizar o sofrimento e anseio dos familiares que aguardam por notícias dos seus entes queridos, é por meio
da comunicação e informação compartilhada pelos profissionais de saúde. Esta ferramenta, por sua vez, é capaz de auxiliar os
profissionais a compreender as crenças, preocupações e necessidades dos familiares, com vistas a pensar estratégias
promotoras de saúde, a fim de tornar esse momento de espera mais acolhedor e humanizado. Por meio do diálogo com os
familiares, também é possível esclarecer dúvidas relacionadas ao quadro do familiar internado, o que promove sensação de
segurança e tranquilidade (6).
Ainda, no âmbito da comunicação e acolhimento, a escuta qualificada permite que o familiar expresse seus sentimentos e
compartilhe experiências anteriores relacionadas à hospitalização, que podem acentuar suas sensações de insegurança e
preocupação. Além disso, reduz o isolamento social provocado pela espera no ambiente hospitalar e promove o vínculo,
colaborando consequentemente com o cuidado em saúde (6). Nesse sentido, o profissional da saúde deve ser referência ao
familiar que aguarda na sala de espera, para que este possa buscar as informações necessárias e sentir-se amparado nesse
momento (15).
Ressalta-se que a PNPS define a promoção da saúde como um conjunto de estratégias, que se direcionam para ações
profissionais a serem reorientadas, pretendendo tornar os indivíduos mais autônomos em seus processos de saúde-doença,
em busca da melhor qualidade de vida (9). Portanto, os familiares precisam sentir-se seguros e informados quanto a situação
dos seus entes queridos e cirurgia, cabendo aos profissionais estabelecerem estratégias promotoras de saúde, para que
possam buscar vivenciar o momento de espera por notícias de modo mais saudável possível (15).
Para além dos profissionais, durante a permanência na sala de espera, o contato e troca de saberes e experiências entre os
familiares é uma oportunidade de diminuir o desconforto desencadeado nesse ambiente. Nessa perspectiva, os familiares
podem dividir entre si estratégias de enfrentamento frente a um momento desafiador, compartilhar experiências anteriores de
outras internações, discutir sobre os desafios e anseios encontrados no dia a dia, esclarecer dúvidas e estabelecer novos
vínculos. Esse momento de troca, além de possibilitar relações interpessoais, é uma forma de passar o tempo durante o
período de cirurgia e internação de seu ente querido, o que faz com que o sentimento de ansiedade seja reduzido. Isto posto,
percebe-se que a sala de espera tem a capacidade de promover espaços de compartilhamento de saberes, acolhimento e
potencializar a criação de novas amizades (15), como também foi mencionado pelos entrevistados deste estudo.
Ademais, comumente em salas de espera, a própria disposição das cadeiras, alinhadas e em fileiras, diminui a possibilidade de
contato visual e comunicação entre as pessoas que estão ali aguardando. Nesse contexto, cabe aos profissionais e sobretudo a
gestão das instituições de saúde, buscar promover um ambiente físico mais saudável e acolhedor na sala de espera, criando
um cenário favorável para aliviar a tensão e possibilitar maior estabelecimento da interação entre as pessoas que aguardam
notícias (6,16). Por outro lado, a sala de espera pode tornar-se um ambiente favorável à introspecção, reflexões e,
consequentemente, novos aprendizados, à luz do momento de quietude que propicia (6,16).
A hospitalização de um ente querido suscita múltiplos sentimentos que, majoritariamente, enquadram o ambiente hospitalar
como estopim de sensações negativas. Entretanto, os entrevistados revelaram gratidão e aprendizado frente a algumas
experiências vivenciadas. A gratidão é um excelente mecanismo de enfrentamento a situações de riscos e adversidades e fator
de proteção da saúde mental, estando relacionada a diminuição de sintomas de transtornos como a ansiedade, depressão e,
também, a melhora de sentimentos negativos associados à solidão (17). Salienta-se que os pacientes acompanhados por
familiares geralmente referem menos ansiedade, em comparação com aqueles que não são acompanhados por ente queridos.