REVISTA NORTE MINEIRA
DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em:
28/11/202
3
Aprovado em:
23/12/202
3
Como citar este artigo
Silveira LRA, Brito AF, Pimenta TGG, Cardoso
LPS, Santos ICJ, Soares EMA. A qualidade do
pré-natal na atenção primária. R
ev Norte
Mineira de enferm. 2023; 12(2):23-32.
Autor correspondente
Larissa Raielle Aguiar Silveira
FAVAG - Faculdade Vale Do Gorutuba
Correio eletrônico: lariaguiar251@outlook.com
ARTIGO ORIGINAL
A QUALIDADE DO PRÉ-NATAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
THE QUALITY OF PRENATAL IN PRIMARY CARE
Larissa Raielle Aguiar Silveira
1
Andréia Ferreira Brito
2
,
Talysson Gabriel Gon
çalves Pimenta
3
,
Lucélia
Pereira dos Santos Cardoso 4, Ingredy Carolline de Jesus Santos5, Érika Mariana Abreu Soares 6.
1 Enfermeira. FAVAG - Faculdade Vale Do Gorutuba, Janaúba-MG, BR, Lariaguiar251@outlook.com,
ORCID: https://orcid.org/0009-0004-0238-4412
2 FAVAG - Faculdade Vale Do Gorutuba, Nova Porteirinha-MG, BR,
andreiaenfermeira95@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0006-0907-4809
3 Enfermeiro. FAVAG - Faculdade Vale Do Gorutuba, Janaúba-MG, BR, talysbiel007@gmail.com,
ORCID: https://orcid.org/0009-0003-3378-6660
4 Enfermeira. Especialista em Gestão de Políticas DST, AIDS, Hepatites virais e tuberculose pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Nova Porteirinha-MG, BR,
luceliapereira1977@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0009-0000-7874-1173
5 Enfermeira. Mestre em Saúde, Sociedade e Ambiente pela Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM. Professora na Faculdade Vale do Gorutuba - FAVAG, Nova
Porteirinha-MG, BR, ingredycarolline@gmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0853-0412
6 Psicóloga. Doutora em educação no Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e
Inclusão Social pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora na Faculdade Vale do
Gorutuba - FAVAG, Nova Porteirinha-MG, BR, erikamarianasoares@gmail.com, ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-9435-4859
Financiamento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico -
FUNCAP (4088623/2018).
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm20230203
Objetivo: Conhecer a atuação da equipe de enfermagem para o alcance de uma
assistência qualificada no ciclo grávido puerperal de baixo risco nas Estratégias
de Saúde da Família (ESF) com base no conhecimento e dificuldades
enfrentadas por estes profissionais em Janaúba, Minas Gerais. Metodologia:
Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva de corte transversal e
abordagem qualitativa. Os participantes do estudo foram enfermeiros atuantes
na Atenção Primária à Saúde (APS), que realizaram consulta pré-natal, no
período compreendido entre Abril a Maio de 2023. Utilizou-se um formulário
do Google Forms para avaliar o perfil profissional dos enfermeiros, e uma
entrevista semiestruturada que incentivou os profissionais a expressarem sobre
os desafios que enfrentam para realizar as consultas no pré-natal. As
entrevistas foram audiogravadas e submetidas à análise de Bardin. Resultados:
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O relato dos enfermeiros descreve que possuíam disciplina voltada à saúde da
mulher durante a graduação, sendo necessário um processo destinado à
atualização profissional. Relatam ainda que a maior dificuldade enfrentada está
na baixa adesão das mulheres ao pré-natal. Considerações finais: Conclui-se
que apesar da melhora em relação à cobertura dos exames e testes rápidos
oferecidos ao atendimento pré-natal, fatores como a falta de adesão das
gestantes às consultas e às orientações do profissional enfermeiro durante o
pré-natal, dificultam a realização de uma assistência de qualidade.
DESCRITORES: Cuidado pré-natal. Gestação. Cuidados de enfermagem.
Estratégia Saúde da família.
Objective: To understand the role of the nursing team in achieving qualified
assistance in the low-risk pregnancy and puerperal cycle in Family Health
Strategies (ESF) based on the knowledge and difficulties faced by these
professionals in Janaúba, Minas Gerais. Methodology: This is field research,
cross-sectional and descriptive with a qualitative approach. The study
participants were nurses working in Primary Health Care (PHC), who carried out
prenatal consultations, in the period between April and May 2023. A Google
Forms form was used to evaluate the nurses' professional profile, and a semi-
structured interview that encouraged professionals to express about the
challenges they face in carrying out prenatal consultations. The interviews were
audio recorded and submitted to Bardin for analysis. Results: The nurses'
reports describe that they had a discipline focused on women's health during
their undergraduate studies, requiring a process aimed at professional
updating. They also report that the greatest difficulty faced is the low
adherence of women to prenatal care. Final considerations: It is concluded that
despite the improvement in relation to the coverage of exams and rapid tests
offered for prenatal care, factors such as the lack of adherence by pregnant
women to consultations and guidance from professional nurses during prenatal
care make it difficult to providing quality assistance.
DESCRIPTORS: Prenatal care. Gestation. Nursing care. Family Health Strategy.
INTRODUÇÃO
As funções reprodutivas da mulher são divididas em duas fases: a concepção e a gravidez. O sintoma mais comum para
suspeita da gravidez é o atraso menstrual, compondo o quadro com outros sinais e sintomas, de acordo com as características
individuais de cada mulher, possibilitando a confirmação da gestação (1).
Os fatores de risco de uma gestação perpassam as condições físicas, biológicas, psicológicas ou aspectos sociais associados a
probabilidades futuras de morbidade ou mortalidade, tornando a maternidade uma grande responsabilidade na vida dessa
mulher, pela sua saúde e do bebê (2).
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Devido aos elevados meros de mortalidade materna e perinatal, as políticas públicas no Brasil foram implantadas,
permitindo uma assistência de qualidade à saúde da mulher gestante (3). Nesse sentido, instaurou-se a Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) no século XX com o intuito de promover as melhorias das condições de vida e a
saúde das mesmas. Visa à garantia do direito às mulheres e crianças ao acolhimento, ao atendimento qualificado e, o acesso às
informações, proporcionando condições seguras para o parto e para o desenvolvimento infantil (4).
Ademais, com os desafios de implantação das políticas, o Ministério da Saúde (MS) estipulou leis e portarias que
compreendem a saúde da mulher, tais como: planejamento familiar, notificação compulsória de violência contra mulher,
humanização no pré-natal e no parto, e o atendimento aos casos de aborto ilegal (5).
Nesse sentido, ressalta-se que a assistência pré-natal, representa, muitas vezes, o primeiro contato das mulheres com o serviço
de saúde na atenção primária, e por isso, deve ser organizada de forma a atender todas as suas necessidades, por meio da
utilização dos conhecimentos técnico-científicos e dos recursos no contexto de humanização (6).
Para tanto, as consultas de pré-natal realizadas na Atenção Primária à Saúde (APS) são indispensáveis para uma gestação
tranquila e sem complicações, e tem que ser iniciado imediatamente após o resultado positivo de gravidez, realizado de forma
periódica, com ões preventivas e curativas (1). É durante as consultas de pré-natal que o profissional de saúde tem o espaço
para educação em saúde, possibilitando a orientação para que a mulher se prepare para ser e, vivenciar a gestação e ao
parto com tranquilidade, praticar o autocuidado, e os cuidados com o bebê, de forma integradora, positiva, com saúde e
segurança (1-7).
Nas consultas de pré-natal a gestante deve ser acolhida e conduzida por uma assistência humanizada e de qualidade, sem
intervenções desnecessárias, com ações que integrem os veis de atenção: promoção, prevenção, e assistência à saúde da
gestante e do recém-nascido (5). Essa assistência deve ser integrada abrangendo avaliação clínica, solicitação e/ou
interpretação de exames laboratoriais, exame físico e orientações como alimentação, vacinação, preparo para o parto, sinais e
sintomas que podem significar uma emergência, aleitamento materno, avaliação da idade gestacional, batimentos cardiofetais,
altura uterina, e suplementação de ferro e ácido fólico (8).
A coleta dos dados vitais, medidas antropométricas e o registro das consultas na caderneta da gestante são muito importantes
para assistência pré-natal, levando um cuidado contínuo e completo, assegurando a qualidade da assistência, promovendo a
mãe e ao bebê uma gestação e parto saudáveis (1-9).
Logo, o presente estudo objetivou conhecer a atuação da equipe de enfermagem para o alcance de uma assistência qualificada
no ciclo gravídico de baixo risco nas Estratégias de Saúde da Família (ESF) com base no conhecimento e dificuldades
enfrentadas por estes profissionais.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva de corte transversal e abordagem qualitativa realizada com com enfermeiros
atuantes na APS. Primeiramente, fez-se um levantamento de 5 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município de Janaúba,
Minas Gerais. Estas foram selecionadas aleatoriamente, sendo elas: UBS Zacarias Farias, UBS Dr. Maurício Oscar Porto e UBS
Parteira Maria Neves.
As UBSs que foram investigadas neste estudo têm, regularmente, de duas a quatro equipes de ESF, sendo que destas, 9
compõem o público alvo deste trabalho. Porém, apenas 6 enfermeiros se propuseram a aceitar participar da pesquisa.
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As informações levantadas dos participantes foram perfil profissional e uma entrevista semiestruturada sobre a atuação destes
no acompanhamento da gestante. Como fonte de dados para obter informações para caracterizar o perfil profissional dos
enfermeiros as variáveis identificadas foram: tempo de formação, titulação e tempo de atuação na APS. Essa coleta utilizou um
formulário: Google forms, uma ferramenta gratuita que através de um link disponibilizado ao participante, este registra
informações solicitadas. Esse formulário, também continha o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que o
participante assinalasse se aceitaria participar da presente pesquisa.
A produção dos dados aconteceu por meio de uma entrevista semiestruturada, sendo composta por questões abertas que
incentivou os profissionais a expressarem sobre os desafios que enfrentam para realizar as consultas pré-natal.
O conteúdo da entrevista foi áudiogravado para conseguir um resultado fidedigno e transcrito na íntegra. A própria
pesquisadora utilizou um aparelho para áudiogravar a entrevista. Durante a pesquisa, os enfermeiros foram codificados a
exemplo: ENF01 (correspondendo ao enfermeiro e o número respectivo à ordem de coleta de dados) a fim de garantir o
anonimato dos participantes.
Os dados foram colhidos no período de Abril a Maio de 2023. A aplicação do questionário ocorreu no ambiente das UBSs
através do envio do link Google forms aos enfermeiros e posteriormente a entrevista audiogravada. Foi lido e explicado à
participante o TCLE e, posteriormente, assinado para a aceitação para participar da pesquisa.
Para apreciação e interpretação dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo; abordando uma fase de pré-análise e exploração
de dados. Em seguida, organizou-se os dados em categorias, com descrição detalhada das características pertinentes. Após a
sistematização e categorização, procedeu-se, então, a inferência por meio dos dados obtidos e utilizando como base teórica o
material disponível em publicações científicas.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, sob
parecer 6.024.569.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram deste estudo 6 enfermeiros atuantes nas UBS previamente selecionadas. A caracterização dos participantes em
relação às variáveis profissionais são apresentadas no Quadro 1.
Quadro 1. Perfil profissional dos entrevistados
Codificação Sexo Tempo de
formação Titulação Tempo de
atuação na APS
ENF 001
Masculino
14 anos
Pós graduação em Saúde da família; Urgência e
emergência.
14 anos
ENF 002
Masculino
7 anos
Pós graduação em Saúde da
família; Enfermagem do trabalho e
Enfermagem obstétrica.
6 anos
ENF 003
Feminino
8 anos
Pós graduação em Saúde da
família e Saúde mental.
7 meses
ENF 004
Feminino
19 anos
Pós graduação em Saúde da
família e Acupuntura.
18 anos
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ENF 005
Masculino
20 anos
Pós graduação em
Saúde da família,
Saúde do trabalh
ador, gestão em sistemas e serviços de
saúde e formação
pedagógica em educação profissional na área da
saúde.
18 anos
ENF 006
Feminino
21 anos
Especialização em metodologia e inovação do
ensino superior, pós
graduação em gestão de programas de saúde da
família,
Pós graduação em educação profissional na área da
saúde: enfermagem.
16 anos
Fonte: Elaborado pela própria autora, em 2023.
Quanto ao perfil, percebe-se que o tempo de formação variou entre 7 e 21 anos. Todos possuem alguma pós-graduação, sendo
a maioria (n=5/83,3%) especialistas em Saúde da Família. Em concordância, estudos apontam que os profissionais atuantes na
APS buscam com frequência se especializar na área.
Destaca-se que os profissionais de saúde, são parte importante no processo de atenção aos usuários da APS. Diante disso, para
a consolidação de resultados positivos, sobre a saúde e qualidade de vida da população, é necessário que se mantenha a
aquisição constante de conhecimentos técnicos-científicos(10).
Apesar de ainda existirem obstáculos, observa-se que há um melhor resultado no serviço que é fornecido aos pacientes, com a
melhora na qualificação dos profissionais(11).
Em relação ao sexo, 50% dos profissionais enfermeiros são homens e 50% são mulheres. Quanto ao tempo de atuação na APS,
evidenciou-se que este varia de 7 meses a 18 anos.
Identificar o perfil do profissional, sua qualificação e o seu processo de trabalho torna-se importante a fim de melhorar o
atendimento à população e garantir uma assistência de qualidade ao pré-natal, o qual atenda às necessidades das gestantes
assistidas e a efetivação das políticas públicas de saúde(12).
Os dados qualitativos analisados resultaram em quatro categorias: 1) A percepção do enfermeiro sobre a sua formação
profissional voltada à assistência pré-natal; 2) Estratégias de captação de mulheres grávidas; 3) Adesão das gestantes ao pré-
natal; e, 4) Aspectos dificultadores para a realização do pré-natal na APS.
Percepção do enfermeiro sobre a sua formação profissional voltada à assistência pré-natal
Essa categoria abarca sobre como os enfermeiros percebem o ensino destinado a eles durante a graduação quanto à
assistência pré-natal. A primeira indagação feita a eles aponta sobre a grade curricular do curso. O relato dos enfermeiros
descreve que possuíam uma disciplina direcionada à saúde da mulher. Isso é corroborado no relato seguinte.
nesse caso se deu, na minha graduação através da disciplina que eu tive em saúde da mulher (ENF
001).
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Eu aprendi sobre saúde da mulher, a gente tinha saúde da mulher 1 e saúde da mulher 2, então a gente
tinha dois semestres para aprender sobre pré-natal, sobre preventivo, sobre saúde do adolescente, então
assim, a carga horária foi boa, a carga horária prática também foi boa, mas nunca é suficiente para
aprender tudo (...), eu não aprendi tudo o que eu sei hoje na graduação, eu aprendo todo dia um
pouquinho mais (ENF 005).
Vale ressaltar que o processo de formação do profissional enfermeiro tem evoluído desde Florence até os dias atuais, com
novas diretrizes curriculares, voltada para o desenvolvimento de procedimentos técnico-científicos(12).
Apontam, ainda, a relevância de um serviço para estágios que discutiam e aprendiam sobre a saúde da mulher.
Então na época minha na faculdade, tinha a policlínica para gestante, para pré-natal, o tinha
outro atendimento igual aqui tem outros atendimentos, e foi bacana, foi suficiente, tudo que eu aprendi lá,
é o que acontece aqui, até melhorou na verdade (ENF 002).
O estágio é considerado uma etapa muito importante na formação profissional, permitindo que o aluno vivencie a prática da
profissão, a importância do trabalho em equipe, a humanização do cuidar em saúde e reflita sobre as atividades realizadas,
além de possibilitar um processo de ensino-aprendizagem(13).
Em um dos relatos, pode ser observado que os enfermeiros viam a necessidade de especializar na área.
Eu tenho pós graduação em saúde da família, com isso eu me aperfeiçoei mais, em relação a saúde da
família e na questão da graduação eu consegui aprender, mas eu fiz estágio por fora, o que me ajudou
mais (ENF 003).
Conforme pode ser visualizado nos relatos dos participantes, todo conteúdo estudado durante a graduação foi aprendido e
aplicado, mas não foi suficiente, sendo necessário um processo ativo e permanente, destinado à atualização.
Em um dos relatos, um enfermeiro destacou a prática das consultas de pré-natal sendo realizadas no Programa Saúde da
Família (PSF), modelo de APS antes da ESF vigente.
Durante a minha graduação as políticas públicas de saúde voltadas à saúde da mulher, eram trabalhadas
através de um programa que a gente chamava de paisene”. Nesse programa, as mulheres eram
direcionadas para que pudessem realizar o pré-natal, não havia PSF [Programa Saúde da Família] ainda.
[...] então a gente teve durante a graduação a oportunidade de fazer pré-natal, de acompanhar uma
mulher dentro de uma unidade de saúde, era o antigo postão né, que as mulheres chegavam, procuravam
ali para serem atendidas (ENF 006).
A educação continuada é caracterizada como um conjunto de atividades que abrangem a atualização e capacitação
profissional, mesmo após o curso de graduação, estimulando a interdisciplinaridade por meio da interação da equipe de saúde,
além de qualificar a assistência ao paciente, visando transformar a realidade a partir da modificação do comportamento via
novos conhecimentos, atendendo as necessidades dos usuários, com o intuito de alcançar a promoção, proteção e
recuperação da saúde bem como a prevenção das doenças(14).
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Estratégias de captação
Segundo os participantes, a forma pela qual as mulheres chegam até as unidades, ou seja, a captação, é em sua maioria por
meio das visitas domiciliares dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Neste contexto, que se destacar que o ACS tem um
importante papel para a realização do pré-natal, visto que este constitui um elo entre a equipe de saúde e a população.
Esses convites o realizados através, mediante as visitas das buscas ativas que as agentes de saúde faz,
nas suas residências né, aí com isso a gente faz a abordagem o mais rápido possível para dar início ao pré-
natal (ENF 001).
O convite é o seguinte, a partir do momento que a mulher ela relata ou queixa para agente de saúde sobre
o atraso menstrual, dor pélvica, dor na mama, colicazinha, aí a gente pede a agente de saúde para
agendar a consulta, (...) a partir daí a gente atende e já agenda as próximas consultas (ENF 002).
A gente tem a estratégia de saúde da família, e esse convite é feito a partir do momento em que o agente
de saúde em suas visitas identifica que tem uma gestante, ele encaminha essa gestante, para vir a
unidade e fazer a primeira consulta de pré-natal com o enfermeiro, e além dessa visita domiciliar do
agente, acontece de a própria mulher, que descobre que está grávida e procura a unidade de saúde e
agenda o pré-natal (ENF 006).
De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é competência da equipe de saúde o acolhimento e a atenção à
saúde da gestante e da criança, englobando a prevenção de doenças, e o ACS tem como atribuições: auxiliar na captação e
orientação para que toda gestante inicie o pré-natal precocemente, explicar sobre a importância de segui-lo adequadamente,
realizar busca ativa de faltosas, e realizar visitas no período puerperal. Diante disso, a criação do elo entre a população e o ACS,
acontece através do conhecimento das necessidades de saúde da comunidade por meio de visitas domiciliares e das
orientações oferecidas(15).
Adesão das gestantes ao pré-natal
Quanto à adesão das gestantes ao pré-natal, percebe-se através dos relatos que estas possuem boa adesão para a realização
das consultas.
Adere bem, é bem satisfatório, a adesão era muito mais difícil do que é hoje, hoje elas aderem com mais
facilidade (...) (ENF 002).
A experiência que eu tenho aqui na unidade em relação a adesão, é uma adesão muito boa, podemos dizer
assim, é lógico que existe uma ou outra paciente que existe uma dificuldade, de fazer o pré-natal certo, de
realizar os exames, mas de uma forma geral, eu posso dizer que nós temos uma boa adesão das gestantes
ao atendimento pré-natal (ENF 006).
A assistência pré-natal, quando iniciada precocemente, diminui danos à saúde materno-infantil, mas algumas situações podem
dificultar a adesão das mulheres ao pré-natal, como: idade, gravidez no momento indesejado, o qual propicia sentimento de
negação, retardando a sua procura por assistência até que esta já esteja em período avançado, tradições familiares, a falta de
apoio, experiências negativas, e aspectos financeiros(15). Essas gestantes devem ser captadas pelo ACS, sendo apoiadas e
incentivadas à realização do pré-natal.
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Em um dos relatos, o enfermeiro destaca uma estratégia utilizada para que as gestantes tenham um compromisso maior na
realização do pré-natal.
Eu montei uma estratégia (...), eu abordo direito e dever, igual vinha na cartilha antigamente, eu abordo
durante a primeira consulta, é direito seu ter 6 consultas, que o ministério da saúde preconiza, mas você
tem o dever de vir fazer todas as consultas, eu coloco ela, na responsabilidade também de fazer o pré-
natal, se importar em fazer os exames e seguir as orientações, e tem surtido bastante efeito na unidade
onde eu estou (ENF 005).
O enfermeiro tem o papel de gerenciar o cuidado e articular ações e estratégias que busquem a melhoria de uma assistência
pré-natal qualificada, com a cooperação da equipe de enfermagem e dos próprios pacientes(7).
Aspectos dificultadores para a realização do pré-natal na APS
Nessa categoria foram elencados os aspectos que dificultam os enfermeiros na realização do pré-natal. O relato dos
enfermeiros demonstra que a assistência e os recursos utilizados tem melhorado com o passar dos anos.
(...) naquela época nós não tínhamos teste rápido da gestante, hoje nós conseguimos realizar no momento
do cadastro aqui na UBS (ENF 002).
Não tenho dificuldade nenhuma com material, tivemos realidades bem diferentes aqui, o tinha
exames, tinha que escolher quem fazia os exames, hoje não, a gente marca, tem os exames, têm os testes
rápidos (...) (ENF 005).
O Ministério da Saúde tem investido na APS, apesar de possuir problemas que vão desde a escassez de profissionais a
restrições orçamentárias, vale destacar, que diferentes formas de organização institucional e normativa da prestação de
serviços de saúde na APS em todo território brasileiro(13).
Apesar dos recursos estarem demonstrando melhora, a adesão das gestantes ao pré-natal foi verbalizada como um dos
desafios para a realização do mesmo.
Não, dificuldade não tem não, tem de tudo, igual eu te falei, até teste rápido que não tinha, faz, sai
agendado com dentista, falta nada, falta só elas vir mesmo (ENF 002).
Não tenho dificuldade nenhuma com material (...) agora só falta a gestante aderir ao pré-natal, e aderir às
orientações (ENF 005).
A gestante tem direito ao acompanhamento especializado durante o pré-natal, mas é necessário a criação de algumas ações e
estratégias para a melhor adesão ao pré-natal, colocando a mulher como protagonista e responsável por este momento,
buscando o desenvolvimento saudável da gestação e posteriormente permitir um parto com menores riscos para a mãe e para
o bebê(6-7).
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Em um dos relatos, um enfermeiro destacou que apesar da dificuldade com a falta de material, isso o deve interferir na
qualidade da assistência ao pré-natal.
Eu não vejo hoje nenhum problema em relação a isso, poderia citar a falta de caderneta de gestante, que
ficamos quase um ano sem, porém utilizamos o xérox, então isso o faz diferença né, na qualidade do
pré-natal, temos os equipamentos necessários, os recursos humanos, fazemos as anotações completas do
pré-natal no prontuário eletrônico, e em relação aos exames, não temos quase nenhuma dificuldade,
porque a cota de exames para gestante, ela é prioritária, e temos ainda os testes rápidos, que a gente
oferece durante a primeira consulta de pré-natal (ENF 006).
O pré-natal é um dos procedimentos clínicos mais completos e educativos, com o objetivo de promover a saúde tem um papel
fundamental na prevenção e na detecção de patologias maternas e fetais, apresentando um caráter acolhedor, educacional,
que minimiza intervenções desnecessárias e à redução de desfechos perinatais, como prematuridade, eclâmpsia, diabetes
gestacional, entre outras, contribuindo para o desenvolvimento saudável do bebê, e reduzindo os riscos da mãe(8).
Os principais objetivos da assistência pré-natal permeiam a garantia do bom andamento da gestação, a saúde da mulher e do
bebê, através de consultas clínicas e exames laboratoriais periódicos(9).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da presente pesquisa foi possível compreender a percepção dos enfermeiros em relação ao cuidado prestado durante
o pré-natal no âmbito da atenção primária. Observou-se que a maioria dos profissionais entrevistados sentiu a necessidade de
especialização na área da Saúde da Família. Através dos relatos, os enfermeiros foram capazes de verbalizar as suas percepções
quanto à sua formação profissional, como é realizada a captação de gestantes, a adesão e os aspectos dificultadores para a
realização da assistência ao pré-natal onde atuam.
A partir da análise realizada nesta pesquisa foi possível perceber que apesar da melhora em relação à cobertura dos
exames e testes rápidos oferecidos ao atendimento pré-natal, fatores como a falta de adesão das gestantes às consultas e às
orientações do profissional enfermeiro durante o pré-natal, dificultam na realização de uma assistência de qualidade.
Diante disso, devem-se definir métodos e estratégias de intervenções com o intuito de garantir uma assistência qualificada,
onde a gestante compareça às consultas para a realização do pré-natal e receba todas as orientações preconizadas e tenha a
possibilidade de executá-las. Reforça-se a importância de grupos e ações educativas para o esclarecimento de dúvidas e o
acolhimento das mulheres.
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