MIME-Version: 1.0 Content-Type: multipart/related; boundary="----=_NextPart_01D6EDC4.576EF230" Este documento é uma Página da Web de Arquivo Único, também conhecido como Arquivo da Web. Se você estiver lendo esta mensagem, o seu navegador ou editor não oferecem suporte a Arquivos da Web. Baixe um navegador que ofereça suporte a Arquivos da Web, como o Windows® Internet Explorer®. ------=_NextPart_01D6EDC4.576EF230 Content-Location: file:///C:/5E85C06C/2568-FINAL.htm Content-Transfer-Encoding: quoted-printable Content-Type: text/html; charset="windows-1252"
REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
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|
|
INTRODUÇÃO
O
cateterismo urinário é um procedimento comum em pacientes hospitalizados e =
que
pode ser realizado tanto por médicos quanto por enfermeiros. Consiste em uma
intervenção invasiva, manual, que
envolve a inserção de um cateter na bexiga através da uretra. Algumas
patologias de origem neurológica periférica afetam a capacidade de micção
urinária e assim comprometem a eliminação e o armazenamento da urina, ou o
esvaziamento completo da bexiga, desencadeando a bexiga neurogênica,
necessitando de tal procedimento. Com etiologia diversa, pode ser causada p=
or
lesões traumáticas, como o trauma raquimedular, ou não neurológicas, como a
esclerose múltipla. Pode ocorrer, também, em recém-nascidos e crianças, por
diversas causas, como a espinha bífida(1).
Dentre
as principais alternativas utilizadas para o tratamento da bexiga neurogêni=
ca
encontra-se o cateterismo urinário intermitente. Sua prática não é isenta de
riscos e pode causar traumatismos e infecções do trato urinário (ITU)(=
1-2).
As complicações mais relevantes são os traumas uretrais que ocorrem quase q=
ue
na mesma proporção das ITU. No entanto, passam despercebidos e não são
diagnosticados. Na maior parte das vezes o trauma é ignorado, sendo necessá=
rio
o diagnosticado do médico urologista(1).
O
trauma geniturinário pode ser ocasionado por inúmeras razões. Quando ocorre=
por
procedimentos invasivos, pode ser denominado como trauma uretral por
iatrogênias. Nos traumas de uretra provocados pelo cateterismo, ocorre a le=
são
na parte anterior da uretra o que traz danos temporários e/ou às vezes
irreversíveis aos pacientes(3).
O
traumatismo ocasionado pelo cateter uretral pode ocorrer por: uso de pequen=
a ou
nenhuma quantidade de lubrificante, o que leva ao atrito do cateter contra a
mucosa uretral; utilização do cateter com calibre inadequado; manobras
agressivas ocasionadas pela força aplicada na hora de inserção do cateter;
insuflação do balonete na uretra e/ou a fixação inadequada do cateter o que
provoca a manipulação excessiva do mesmo, entre outros(4-5).
O
trauma vem acompanhado de sinais e sintomas diversos, como disúria, dor
pélvica, hemorragias, jato fraco de urina, retenção urinária e infecções
urinárias. O seu diagnóstico se da através de avaliação da sintomatologia,
exame físico, anamnese e exames complementares(5). O trauma pode
acontecer em ambos sexos, sendo mais comum no homem pela extensão e conform=
ação
anatômica da uretra. Na mulher, a realização do cateterismo feita de maneira
inadequada pode levar a uma lesão da mucosa e da uretra feminina que é
revestida por vasos sanguíneos, nervos e colágeno (1,6).
O trauma
pode ser minimizado através de medidas simples, como o uso de lubrificantes=
, a escolha
e manuseio de materiais adequados para a introdução e fixação do cateter, a=
lém
de cuidados com o balonete(1-4).
Na
enfermagem, segundo resolução nº 450/2013 do Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN), a realização do cateterismo uretral é uma prática privativa do
enfermeiro. Cabe ao técnico de enfermagem realizar as ações prescritas pelo
enfermeiro, como monitorar as queixas do paciente que possam surgir após o
procedimento, manter a técnica limpa ao manusear o sistema de drenagem e co=
leta
de exames bem como fazer o registro e observação do debito urinário(1,=
7,8).
Nesse contexto, o conhecimento e a habilidade técnica devem ser considerados
como as principais medidas para a prevenção do trauma uretral, assim é nece=
ssário
que o enfermeiro demonstre confiança e competência para o seu desenvolvimen=
to.
A
autoconfiança se refere ao grau de convicção e firmeza numa determinada cre=
nça.
É uma qualidade geral e imutável do indivíduo, que não sofre mudanças em
ambientes variados onde o sujeito está inserido. O indivíduo autoconfiante
visualiza cenários e resultados positivos antes mesmo de sua ocorrência(9,10).
A
autoconfiança pode ser relacionada com a teoria de autoeficácia, cuja conce=
pção
está no julgamento que a pessoa faz de sua própria capacidade para organiza=
r e
executar determinada atividade considerando seu rendimento e comportamento.
Está relacionada com o grau de convicção em executar com êxito uma tarefa e
alcançar seu resultado. Em situações específicas pode funcionar como um fat=
or
decisivo no comportamento e nas ações desempenhadas pelo sujeito(9).
Na
atualidade, muitas estratégias pedagógicas tem ensino tem buscado proporcio=
nar
o desenvolvimento da autoconfiança, seja no âmbito do ensino em saúde ou na
educação permanente e continuada dos profissionais em seu exercício
profissional. Dentre elas destaca-se a simulação clínica que tem por objeti=
vo
apresentar um cenário próximo da realidade, em que o executor possa desenvo=
lver
a capacidade de lidar com situações de estresse, tomadas de decisão, racioc=
ínio
clínico e desenvolvimento de habilidades. Tem sido um método reconhecido, p=
ara
a melhora da aprendizagem, autoconfiança, satisfação, motivação e treino de
habilidades(11).
Para
desenvolver uma experiência clínica simulada, não é preciso investir em
recursos onerosos. O próprio serviço de saúde pode e deve utilizar a simula=
ção
clínica como uma das ferramentas de trabalho no contexto da educação perman=
ente
e continuada. A simulação in situ é uma oportunidade de capacitar
continuamente os profissionais da enfermagem. Isso implica em melhorias da
prática assistencial, redução de custos provenientes de eventos adversos,
satisfação do paciente, dos familiares e dos demais profissionais de saúde.=
A
ocorrência de traumas uretrais está presente no cotidiano do trabalho da
enfermagem, assim, prevenir e minimizar esse problema devem ser o compromis=
so
do enfermeiro. Nesse contexto, esse estudo tem como objetivo identificar a
autoconfiança do enfermeiro frente ao trauma de uretra ocasionado pela inse=
rção
do cateter urinário em prática de cenário simulado.
METODOLOGIA
Estudo
descritivo, exploratório, quantitativo, realizado com enfermeiros de um
hospital público universitário de grande porte do interior do estado de São
Paulo.
A
coleta de dados foi realizada durante uma capacitação destinada aos enferme=
iros
da instituição, com tema central “Cuidados com o cateterismo urinário e
prevenção do trauma uretral”. Todos os enfermeiros da instituição foram con=
vidados
(n=3D350), porém apenas 53 compareceram nos dias de treinamento e aceitaram=
participar
desta pesquisa. Os enfermeiros participaram do desenvolvimento do cronogram=
a com
atividades teórico-práticas em grupos de no máximo dez participantes. As
atividades foram realizadas dentro da própria instituição hospitalar.
As
atividades teórico-práticas foram compostas por práticas simuladas de baixa
fidelidade e seus respectivos debri=
efings.
Foram utilizados simuladores estáticos, que tratavam-se de peças anatômicas,
pelves masculinas e femininas, que possibilitam a realização do cateterismo
urinário intermitente; material médico hospitalar, semelhante ao utilizado =
para
a realização do cateterismo urinário na unidade hospitalar.
Foi
construído um cenário de baixa complexidade relacionado ao tema proposto (t=
rauma
ureteral). A construção do cenário foi realizada mediante revisão da litera=
tura
(1,7,12) e fundamentada na taxonomia de Bloom(13).
O
cenário constava da necessidade de cateterização urinária de uma pelve. Dur=
ante
o procedimento, que foi realizado de forma individual e durou cerca de 10
minutos, o executante encontrava resistência uretral e tinha como desfecho a
drenagem de hematúria. O cenário foi validado por um grupo de sete juízes
especialistas não participantes da pesquisa. Foi considerado como nível de
concordância aceitável entre os juízes 80% (14).
Após
o desenvolvimento do cenário, os enfermeiros responderam a um questionário =
de caracterização
do sujeito, experiências vivenciadas com o trauma e a Escala de autoconfian=
ça
na Assistência de Enfermagem à Retenção Urinária (EAAERU) construída <=
/sup>e
validada por Mazzo e colaboradores(15) (α
0,949). Essa escala tem como objetivo avaliar a autoconfiança do
enfermeiro junto à assistência de enfermagem na retenção urinária (RU).
Trata-se de uma escala de 32 itens, com respostas tipo Likert com cinco possibilidades: “nada confiante”, “pouco confi=
ante”,
“confiante”, “muito confiante” e “extremamente confiante”, agrupadas em cin=
co
fatores: 1) “Intervenções realizadas durante o cateterismo urinário e/ou em
situações iatrogênicas” oito itens, 2) “Intervenções prévias ao cateterismo
urinário” sete itens, 3) “Intervenções realizadas após o cateterismo urinár=
io”
sete itens, 4) “Comunicação, consentimento e preparo dos materiais para
realização do cateterismo urinário” seis itens, e 5) “Avaliação objetiva da=
RU”
quatro itens. A escala possui escore mínimo de 32 pontos e máximo de 160
pontos, quanto maior o escore, maior indicação de autoconfiança.
Os dados da pesquisa foram codificados e digitados duplamente em planilhas do aplicativo Excel, export= ados e analisados no programa SPSS, versão 22 (Windows). Foi utilizada estatística descritiva de frequência e teste de correlação. <= o:p>
Com
autorização da instituição, este estudo foi analisado pelo Comitê de Ética =
em
Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto e aprovado sob o número =
CAAE
19148213.0.0000.5393 e parecer nº 808.880.
RESULTADOS
Todos os 53 participantes eram enfermeiros e a maior parte era do gênero feminino 40 (75,4 %), com idade média de 36 anos. Entre= os enfermeiros a maioria possuía menos de dez anos de formação, 17 (32,0%) já haviam cursado alguma especialização, 12 (22,6%) possuíam especialização e mestrado e 10 (18,8%) possuíam mestrado e doutorado na área de enfermagem.<= o:p>
Quanto à realização do cateterismo urinário, 53 (100,=
0%)
afirmaram que já realizaram o procedimento e a maior parte já vivenciou alg=
uma
dificuldade. A frequência de realização do procedimento e de vivência de
dificuldades descrita pelos sujeitos e a conduta tomada por eles na situação
estão descritas na Tabela 1.
Tabela 1. Distribuição da frequência de realização; d=
ificuldade
e conduta do cateterismo urinário, segundo a resposta dos sujeitos de pesqu=
isa.
Ribeirão Preto, São Paulo, 2019. <=
/b>
Frequência do cateterismo |
f |
% |
As vezes |
31 |
58,5 |
Todo o plantão |
13 |
24,5 |
Esporadicamente |
9 |
17,0 |
|
f |
% |
Algumas vezes |
41 |
77,3 |
Não |
7 |
13,2 |
Uma única vez |
4 |
7,5 |
Sempre |
1 |
1,9 |
Conduta |
f |
% |
Chama outro profissional (médico, outro enfermeiro) |
37 |
69,8 |
Não teve dificuldade |
8 |
15,1 |
Tenta repassar o cateter |
7 |
13,2 |
Não respondeu |
1 |
1,9 |
Total |
53 |
100,0% |
Sobre avaliação do trauma uretral, 34 (64,2%) dos enf=
ermeiros
responderam que sim. Entre esses as condutas tomadas frente ao fato: 28 (52=
,8%)
relataram que solicitam avaliação da equipe médica, sete (13,2%) avaliam e
solicitam a equipe médica, sete (13,2%) tentam repassar o cateter, um (0,5%)
reposiciona o paciente e repassa o cateter, um (0,5%) decide em conjunto co=
m a
equipe médica a conduta a ser tomada, um (0,5%) notifica o gerenciamento de
risco. Houve mais de uma resposta por sujeito.
Para a avaliação da autoconfiança dos enfermeiros foi
utilizada a EAAERU(16). A avaliação do instrumento através do Alpha de Cronbach (0,96) demonstro=
u uma
excelente consistência interna da escala para este estudo. Os dados
apresentados quanto à autoconfiança dos sujeitos na realização do cateteris=
mo
urinário estão demonstrados na Tabela 2 e 3.
Tabela 2. Autoconfiança dos sujeitos na realização do
cateterismo urinário após atividade simulada de trauma de uretra. Ribeirão
Preto, São Paulo, 2019.
Itens do instrumento |
Mínimo |
Máximo |
Média |
Desvio padrão |
1)Escutar a queixa |
3 |
5 |
4,1 |
0,818 |
2) Avaliar o paciente |
2 |
5 |
3,7 |
0,794 |
3) Palpar a bexiga |
1 |
5 |
3,5 |
0,932 |
4) Estimar, por palpação... |
1 |
4 |
2,5 |
0,775 |
5) Decidir pelo Cateterismo |
2 |
5 |
3,6 |
0,925 |
6) Material higiene intima |
2 |
5 |
4,4 |
0,834 |
7) Material...procedimento |
3 |
5 |
4,2 |
0,750 |
8) Comunicar... |
3 |
5 |
4,3 |
0,732 |
9) Obter o consentimento... |
1 |
5 |
3,9 |
0,917 |
10) Garantir a privacidade |
3 |
5 |
4,3 |
0,623 |
11) Assegurar a biossegurança |
3 |
5 |
4,3 |
0,738 |
12) Realizar a lavagem das mãos |
3 |
5 |
4,5 |
0,667 |
13) Realizar higiene intima... |
3 |
5 |
4,3 |
0,774 |
14) Abrir o material |
3 |
5 |
4,1 |
0,745 |
15) Definir o nivel de assepsia... |
2 |
5 |
3,9 |
0,842 |
16) Realizar a antissepsia do períneo |
1 |
5 |
3,9 |
0,941 |
17) Decidir usar ou nao lubrificante... |
2 |
5 |
3,7 |
0,996 |
18) Introduzir a sonda |
2 |
5 |
3,8 |
0,885 |
19) Definir o comprimento... |
2 |
5 |
3,5 |
0,867 |
20) Bolsa coletora... |
2 |
5 |
4,2 |
0,891 |
21) Intervir quando não há drenagem... |
1 |
5 |
3,2 |
1,012 |
22) Intervir há hematúria |
1 |
5 |
3,0 |
1,018 |
23) Decidir que intervenção realizar... |
1 |
5 |
3,0 |
1,185 |
24) Fixar o cateter |
2 |
5 |
3,9 |
0,934 |
25) Intervir... se há desconexão |
1 |
5 |
4,0 |
1,143 |
26) Realizar a colheita de urina |
2 |
5 |
4,0 |
0,919 |
27) Avaliar o volume de urina |
2 |
5 |
3,7 |
1,011 |
28) Avaliar bolsa coletora |
2 |
5 |
3,8 |
0,871 |
29) Decidir quando retirar um cateter |
1 |
5 |
3,2 |
1,045 |
30) Dar ao material o destino |
2 |
5 |
4,2 |
0,907 |
31) Registrar |
2 |
5 |
4,2 |
0,885 |
32) Avaliação do paciente após... |
2 |
5 |
3,9 |
0,913 |
Tabela 3 - Autoconfiança dos sujeitos na realização do
cateterismo urinário após atividade simulada de trauma de uretra, segundo os
fatores propostos na EAAERU. Ribeirão Preto, 2019.
Fatores |
Mínimo |
Máximo |
Média |
Desvio Padrão |
Fator 1 Intervenções realizadas durante=
o
cateterismo urinário e/ou em situações iatrogênicas |
14,4 |
39,2 |
27,2 |
0,782 |
Fator 2 - Intervenções prévias=
ao
cateterismo urinário |
21,0 |
35,0 |
22,0 |
0,616 |
Fator 3 - Comunicação,
consentimento e preparo dos materiais para realização do cateterismo urin=
ário |
16,1 |
35,0 |
28,0 |
0,776 |
Fator 4 - Intervenções realiza=
das
após o cateterismo urinário |
16,2 |
30,0 |
25,8 |
0,663 |
Fator 5 - Avaliação objetiva d=
a RU |
8,0 |
18,0 |
14,0 |
0,606 |
|
75,7 |
157,2 |
117,0 |
0,778 |
A associação en=
tre
a frequência de realização do procedimento de cateterização e a dificuldade=
em
realização do procedimento realizada através do teste de correlação Pearson
apontou uma forte correlação 0,95. Neste sentido os sujeitos que realizam c=
om
maior frequência o procedimento tendem a ter menos dificuldade.
DISC=
USSÃO
Todos os enfermeiros participantes deste estudo informaram que já ha=
viam
efetuado o cateterismo urinário, com variados níveis de frequência (Tabela =
1),
o que reforça a tese do quanto comum é na prática clínica a realização desta
intervenção(15) e ressalta a importância técnica da normatização=
do
COFEN(8) em relação ao procedimento com atribuição da intervenção
exclusivamente ao enfermeiro.
Em diferentes escalas de frequência (Tabela 1), predominou a maior
constância de relatados referente à vivência de dificuldades na prática do
cateterismo urinário e a conduta assumida em tais situações foi na maioria =
das
vezes solicitar auxílio de outro profissional. Diante de um trauma de uretr=
a é
necessário uma nova e imediata intervenção, com o intuito de realizar a
cicatrização da lesão e evitar a estenose de uretra. Somente quando a inter=
venção
não for eficiente, é recomendado a avaliação médica, para possível condução
cirúrgica da situação(3).
O cateterismo urinário é um procedimento invasivo e que envolve risc=
os
ao paciente, requer cuidados de maior complexidade, prática e conhecimento
científico para que possa ser realizado pelo enfermeiro(8). A
complexidade do procedimento exige competência do profissional nos diversos
aspectos que envolvem sua realização, seja na avaliação clínica, seja na to=
mada
de decisão. Durante a graduação, enfermeiros são capacitados para a realiza=
ção
de tal procedimento, sendo este uma prática rotineira da assistência do
cuidado.
Assim, ao se avaliar a autoconfiança dos
enfermeiros na assistência de enfermagem na urinária, após treino simulado de baixa fidelidade com ocorrência de tr=
auma
de uretra, os valores obtidos na análise da EAAERU demonstram a confiabilid=
ade
da escala alpha de Cronbach (0,=
96)
para os participantes deste estudo, assim como na sua proposta original(15).
Quanto à autoconfiança, a análise
descritiva dos itens do instrumento (Tabela 2), indicam que os
participantes possuem menos autoconfiança nos itens palpação da bexiga, est=
imar
por palpação o volume de urina na bexiga, obter o consentimento do paciente
para realização do cateterismo urinário, realizar a antissepsia do períneo,
intervir quando não há drenagem de urina, intervir quando há hematúria,
intervir quando o cateter apresenta resistência a progressão e intervir qua=
ndo
há quebra na conexão do sistema fechado (escore 1=3D nada confiante). Nessa=
análise
as menores médias obtidas encontram-se relacionadas a estimar por palpação o
volume de urina na bexiga, intervir quando há presença de hematúria e inter=
vir
quando o cateter apresenta resistência ao ser introduzido. Quanto agrupadas=
em
fatores, observa-se a média de escore mais baixa está entre os fatores 1 e =
2.
O exame físico da bexiga só é passível de ser realizado quando o órg=
ão se
encontra distendido pela presença de urina e ultrapassa a sínfise púbica.
Geralmente em casos de distensão da bexiga está relacionado à hipersensibil=
idade
e utiliza-se como semiotécnica a percussão(16). Para mensurar com
precisão o volume de urina na bexiga, atualmente tem sido utilizado o ultra=
ssom
portátil de bexiga. O ultrassom portátil de bexiga é um equipamento não inv=
asivo,
seguro, que possui baixo custo versus benefício e determina com precisão e
confiabilidade o volume de urina na bexiga(17).
Itens relacionados ao trauma na introdução do cateter urinário (hema=
túria)
e não progressões do cateter têm sido alguns dos mais citados enquanto fato=
res
de baixa autoconfiança entre estudantes, profissionais e também entre pacie=
ntes(15).
Para minimizar tal situação, é necessário maior atenção dos profissionais à
lubrificação do cateter. A maior ocorrência de traumas de uretra=
está
relacionada ao uso inadequado de lubrificantes.
O
uso de lubrificantes na uretra em quantidades adequadas é indispensável par=
a a
redução do trauma uretral (seis ml na mulher, dez ml no homem e de meio a d=
ois
ml na criança). Os lubrificantes têm o objetivo de reduzir o atrito do cate=
ter
contra a uretra, tanto na introdução, como na retirada do mesmo. Sua utiliz=
ação
pode se dar por meio de cateteres já lubrificados disponíveis no mercado, ou
ser ministrado diretamente na uretra antes da inserção do cateter(18,1=
9).
Para
a prevenção do trauma de uretra na introdução do cateter podemos ainda dest=
acar
que na escolha dos materiais deve ser dispensada atenção ao tipo de cateter.
Para tanto, devem ser considerados o tempo de permanência, a razão pelo qua=
l o cateter
está sendo indicado, além do conhecimento prévio sobre o tipo de cateter que
será utilizado. O cateter deve ser escolhido de acordo com o sexo, idade,
anatomia e estrutura física do paciente dada pelo biótipo, peso e altura.
Atualmente existem inúmeros tipos de cateter disponíveis, entre os quais se
destacam os de látex, silicone, etileno acetato de vinila (EVA) e cloreto de
polivinil (PVC).
O
diâmetro externo do cateter é medido em milímetro (mm) e é conhecido pela Scale Charrière (Chor CH) ou French Scale (F, Fror FG) que mede=
m a
sua circunferência. A conexão é codificada em cores universais para denotar=
o
tamanho do cateter que varia de seis a 24 Fr. Para pacientes do gênero femi=
nino
o calibre ideal varia entre 10Fr a 14 Fr, enquanto que para o gênero mascul=
ino
esse número varia de 12 Fra 14 Fr. Cateteres de calibre maior devem ser
utilizados em situações especificas com a necessidade de drenagem de hematú=
ria
com coágulos de sangue, ou em casos em que sejam recomendados pela equipe
médica. Optar por um cateter de menor calibre é mais indicado para a preven=
ção
do trauma(2).
Devem
ainda ser observados cuidados quanto ao volume indicado para preenchê-lo,
quanto em relação ao momento certo de insuflá-lo. O volume de preenchimento
deve ser o recomendado pelo fabricante, volumes aumentados indicam que o
cateter exercerá uma força contra a uretra, o que poderá ocasionar o trauma=
. O
preenchimento do balonete deve ser realizado com água destilada, uma vez qu=
e as
soluções salinas podem ser cristalizadas e reterem a sonda no canal da uret=
ra
por ocasião da retirada do cateter. O momento de insuflação do balonete deve
ocorrer após a passagem do cateter urinário e após o retorno de diurese(20).
Após
a passagem do cateterismo urinário alguns cuidados devem ser tomados como a
fixação adequada do cateter para ainda prevenir o trauma de uretra. O catet=
er
pode ser fixado na face interna da coxa em mulheres e na parte inferior do =
abdome
em homens(20). Um cateter mal fixado pode ocasionar tanto necrose
como traumatizar a uretra e consequentemente ocasionar uma ITU. Essa medida=
é
simples, porém muitas vezes passa despercebida pelos profissionais que exec=
utam
a técnica(21).
Quando
ocorrem falhas em algumas das medidas de segurança na realização do cateter=
ismo
uretral o procedimento pode resultar no traumatismo da uretra. Cabe ao
profissional que o executou ter habilidade técnica para avaliar os sinais e
sintomas e tomar a conduta adequada. São escassos os estudos que tratam sob=
re
os traumas ocasionados pelo uso do cateter. Todavia, embora esse procedimen=
to
seja designado pelo médico, são os profissionais de enfermagem frequentemen=
te
os responsáveis pela intervenção e cuidados com o cateter e devem ter conhe=
cimento
pleno das causas e ocorrências de traumas uretrais.
A literatura recomenda que para traumas=
de
uretra o padrão ouro é retirar a sonda e realizar nova sondagem vesical, e =
se
não obtiver resultado satisfatório pode se optar por abordagem cirúrgica, n=
esse
caso a avaliação médica é indispensável. No caso da nova sondagem ser
bem-sucedida essa deverá ser mantido pelo período de cerca de dez dias até =
que
a lesão se cicatrize, o uso de antibióticos pode ainda ser utilizado por
medidas profiláticas para prevenir ITU, tal decisão cabe também ao médico.
Optar pela realização de nova cateterização vesical é um método para se evi=
tar
que ocorra estenose de uretra(22). Faz-se também imprescindível à vigilânc=
ia e
o registro das situações ocorridas, para garantir maior segurança ao pacien=
te e
qualidade do serviço. Os registros de situações não desejadas levam a
estratégias que geram benefícios, como ações de treinamento e qualificação =
da
assistência, o que repercute na segurança da assistência a saúde.
Os maiores esco=
res
de autoconfiança encontrados foram relacionados ao Fator 2 (Intervenções
prévias ao cateterismo urinário), as quais incluem medidas de higiene,
privacidade, antissepsia da pele do paciente e do profissional. Enquanto
profissionais que cuidam de forma diuturna dos pacientes, os enfermeiros
necessitam minimizar o sofrimento, colocar o paciente no centro do cuidado e
reduzir o máximo possível os danos ocasionados. Para tanto, é necessário que
prestem uma assistência de qualidade, com eficiência e com de segurança, ta=
nto
para os pacientes, como para os próprios profissionais.
Nesse
sentido, a autoconfiança do profissional trata-se de um fator essencial que
indica a autoeficácia do procedimento. Na enfermagem, demonstrar confiança =
na prática
diária assistencial implica em atingir as expectativas dos pacientes, famil=
iares
e demais profissionais da saúde. O êxito na prática do cateterismo urinário proporciona um cuidado
situado no paciente e implica na busca de uma assistência de qualidade, sem
riscos e comprometida com a saúde e qualidade de vida do paciente.
Tal assistência em saúde comumente têm sido reforçadas nos ambientes=
de
formação, com mitos e rituais e frequentemente são incorporadas como as
prioritariamente relevantes na realização da intervenção, o que pode demons=
trar
a autoconfiança dos profissionais nesses itens(7). O
ensino da intervenção de cateterismo urinário na enfermagem, em diversas
instituições, ainda tem sido realizado na maior parte das vezes, em peças
anatômicas, sem nenhum senso de realidade e feedback, o que compromete o al=
uno
que migra para a pratica profissional e têm que lidar com as dificuldades
diante do paciente, afetando a segurança de ambos(23).
O teste de
correlação apresentou que há uma forte correlação entre a frequência da
realização do procedimento de cateterismo e o grau de dificuldade. A realiz=
ação
do cateterismo trata-se de uma habilidade, assim quanto maior a frequência =
da
intervenção, maior é a autoconfiança na execução do cateterismo urinário. D=
essa
forma, é oportuno e necessário, elaborar programas de educação continuada, =
com
o objetivo de trazer novas aprendizagens e rever conhecimentos. Essa é uma
estratégia de qualificação do profissional em seu ambiente de trabalho, em
atividades aplicadas de acordo com a necessidade da prática. Enquanto
estratégia para efetivar tal situação têm se destacado o uso da simulação(10,11).
É válido destacar que o treinamento no serviço de
saúde, através da simulação in situ, é uma estratégia potencial e
relevante uma vez que a própria equipe de saúde pode fazer uso do seu ambie=
nte
de trabalho para o treino de habilidades e experiências clínicas simuladas.=
Com
isso oportuniza-se o aumento do realismo dos cenários simulados e o contato=
com
equipamentos e estrutura do próprio serviço. Além disso, permite identificar
potencialidades, fragilidades e riscos que podem favorecer tanto a melhoria=
da
assistência quanto favorecer o erro a partir da observação da realidade
A
simulação em enfermagem é uma aliada para a boa pratica clínica, é excelente
para ser usada na estratégia de educação continuada e permanente dentro das
instituições de saúde, pois através desta o profissional, consegue lidar com
suas dificuldades diárias em um cenário realístico, com a possibilidade de =
corrigir
suas falhas e melhorar o seu desempenho(10,24). Já a autoconfian=
ça é
um componente essencial e ético da assistência de enfermagem. Nesse sentido=
, as
interligações entre a prática simulada e o desenvolvimento da confiança ger=
am a
motivação, sensação de bem-estar e o sucesso da assistência em saúde.
CONC=
LUSÃO
O cateterismo urinário é uma intervenção comum no
cotidiano do enfermeiro. Possui valor terapêutico e faz parte do tratamento=
do
paciente. Os dados encontrados nesse estudo demonstram que frequentemente e=
stão
associados a sua realização a ocorrência de traumas de uretra. Na presença =
do
trauma de uretra, os enfermeiros demonstram baixos escores na autoconfiança
para a tomada de decisão e avaliação objetiva da RU.
A autoconfiança é um elemento fundamental que permite=
ao
enfermeiro executar um procedimento com segurança e domínio, minimizando os=
riscos
para si e para o paciente. Dessa forma, para que o cateterismo urinário seja
efetuado com qualidade e segurança o enfermeiro deve assumir a competência =
de
sua efetivação. Para tanto, necessita de conhecimento científico e prático =
e constantes
programas de atualização. A simulação clínica pode ser uma estratégia poten=
cial
para a execução das capacitações nesses programas. São necessários ainda a
observância de fatores relacionados a qualidade dos recursos materiais e
contingente profissionais pelas instituições.
São consideradas limitações deste estudo a baixa ades=
ão
dos enfermeiros da insituição em participar do programa de capacitação hosp=
italar
e por tratar-se de uma população regional, nesse sentido, não inferindo que=
os
resultados encontrados sejam os mesmo em outros serviços hospitalares, sendo
necessário ampliar essa pesquisa para se obter uma caracterização maior da
população almejada.
Agradecimentos
Aos
participantes, a empresa Coloplast e ao Hospital Das Clínicas da Faculdade =
de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Declaramos que não há conflitos de interesse.
REFE=
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