REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317- 3092
Recebido em: 14/04/202 2 Aprovado em: 22/07/202 2
Como citar este artigo
Caixeta WHV, Soares MFN, Moreira KS, Souto AMR, Gomes DL, Nassau DC, Gomes DC, Soares IC, Veloso IGAL, Lafetá KRG, Silva PM, Costa FM, Carneiro JA. Prevalência e fatores associados à polifarmácia em idosos assistidos em um centro de referência em assistência à saúde do idoso . Rev Norte Mineira de enferm. 2022; 11(1):12 - 18 .
Autor correspondente
Fernanda Marques da Costa
Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros- MG Correio eletrônico: fernanda.costa@professor.unifipmoc.com.br
ARTIGO ORIGINAL
PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À POLIFARMÁCIA EM IDOSOS ASSISTIDOS EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO IDOSO
Prevalence and factors associated with polypharmacy in the elderly assisted in a Reference Center for Health Care of the Elderly
Walker Henrique Viana Caixeta1, Mariano Fagundes Neto Soares2, Kênia Souto Moreira3, Aletheia Maria Rodrigues Souto4, Daniela Lopes Gomes5, Daniella Cristina Nassau6, Denio de Castro Gomes7 , Igor Caldeira Soares8, Isis Gabriella Antunes Lopes Veloso9, Katia Regina Gandra Lafetá10, Patricia Mameluque e Silva11, Fernanda Marques da Costa12, Jair Almeida Carneiro13 .
1 Estudante de Medicina do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil. walkerhcaixeta@hotmail.com, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2153-3709 .
2 Professor do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG .
mariano.soares@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4067-3173 .
3 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
kenia.moreira@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0661-616X .
4 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
aletheia.souto@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3443-4547 .
5 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
daniela.gomes@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3289-5526 .
6 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
daniellanassau@yahoo.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3351-9979 .
7 Professor do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG .
deniocgomes@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0945-5645 .
8 Professor do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG .
igor.soares@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8632-0421 .
9 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG .
isisgabriella@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5398-7134 .
10 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros- MG.
katia.gandra@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1331-0596 .
11 Professora Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
patricia.silva@professor.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3554-381X .
12 Professora do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil. fernanda.costa@professor.unifipmoc.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3008- 7747.
13 Professor do Centro Universitário FIPMoc/Afya – UNIFIPMoc/Afya de Montes Claros-MG, Brasil.
jair.carneiro@orientador.unifipmoc.edu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9501-918X .
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm23173092202 200103
O estudo objetivou verificar a prevalência e os fatores associados à polifarmácia em idosos em um Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso ao norte de Minas Gerais, Brasil. Estudo transversal e analítico, com abordagem quantitativa. A coleta de dados ocorreu entre maio e julho de 2015. Foram analisadas variáveis demográficas e socioeconômicas, morbidades, utilização de serviços de saúde e o escore da Escala de Fragilidade de Edmonton. As razões de prevalências ajustadas foram obtidas por análise múltipla de regressão de Poisson com variância robusta. Foram avaliados 360 idosos com idade igual ou superior a 65 anos. A prevalência de polifarmácia foi 33,3%. As variáveis associadas à polifarmácia foram: hipertensão arterial sistêmica, diabetes
Polifarmácia em idosos assistidos por um centro de referência
mellitus, cardiopatia auto-referidas e presença de fragilidade. A prevalência da polifarmácia foi mais baixa do que registram outros estudos e esteve associada ao relato de comorbidades e presença de fragilidade
DESCRITORES: Avaliação de Medicamentos, Idoso Fragilizado, Saúde do Id oso.
The objective study to verify the prevalence and factors associated with polypharmacy in the elderly in a Reference Center for Health Care in the Elderly north of Minas Gerais, Brazil. Cross-sectional and analytical study, with quantitative approach. Data collection occurred between May and July 2015. Demographic and socioeconomic variables, morbidities, use of health services and the score of the Edmonton Fragility Scale were analyzed. The adjusted prevalence ratios were obtained by multiple Poisson r egression analysis with robust variance. 360 elderly individuals aged 65 years or over were evaluated. The prevalence of polypharmacy was 33.3%. The variables associated with polypharmacy were: systemic arterial hypertension, diabetes mellitus, self-referr ed heart disease and the presence of fragility. The prevalence of polypharmacy was lower than other studies and was associated with comorbidities and the presence of fragility.
Keywords: Drug Evaluation, Fragile elderly, Health of the Elderly.
INTRODU ÇÃO
O acelerado processo de envelhecimento populacional demanda novos desafios para o setor de saúde, sobretudo nos países em desenvolvimento, como o Brasil. O aumento progressivo e rápido da população idosa brasileira promove mudança do perfil epidemiológico, com aumento da prevalência de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT)1,2 .
Concomitante ao aumento de DCNT, especialmente na população idosa, bem como das consequências advindas com o avançar da idade, há também a necessidade de utilização de um número maior de medicamentos, indispensável para manter o controle adequado de tais condições de saúde3 .
A vulnerabilidade dos idosos aos problemas decorrentes do uso de medicamentos é significativa3, devido à complexidade das condições clínicas, à necessidade de diversos agentes terapêuticos e às particularidades farmacocinéticas e farmacodinâmicas inerentes ao envelhecimento, além dos potenciais efeitos adversos da interação medicamentosa3.Racionalizar o uso de medicamentos e evitar os agravos provenientes da polifarmácia, definida como o uso de cinco ou mais medicamentos, destaca-se como um importante desafio para a clínica geriátrica e para a saúde pública3 .
Pouco se conhece sobre o perfil de utilização de medicamentos por idosos no norte de Minas Gerais. A região conta com um centro de referência para assistência à saúde do idoso que atende a 96 municípios4. O consumo de medicamentos pela população assistida por esse serviço e as condições relacionadas à polifarmácia são ainda aspectos pouco estudados. O conhecimento das condições de saúde dos idosos é necessário para que estratégias, visando um envelhecimento saudável, possam ser desenvolvidas e aplicadas nessa população. O conhecimento das particularidades regionais acerca da saúde da população idosa tem o potencial de oferecer aos gestores de saúde opções de diagnóstico situacional mais rápido e intervenções mais oportunas. Este estudo tem por objetivo verificar a prevalência e os fatores associados à polifarmácia em um Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso ao norte de Minas Gerais.
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Polifarmácia em idosos assistidos por um centro de referência
MÉ TODO
Trata-se de uma pesquisa transversal e analítica. A cidade sede do estudo conta com uma população de aproximadamente 400 mil habitantes e representa o principal polo urbano regional. O grupo avaliado foi selecionado a partir de amostragem de conveniência, não intencional, de acordo com a demanda atendida em um Centro de Referência à Saúde do Idoso4, entre maio e julho de 2015, considerando a dificuldade de seleção aleatória. Os dados foram coletados, de forma primária, por meio de contato direto e entrevistas com a população alvo. Os entrevistadores foram previamente treinados. Foram excluídos idosos cujos cuidadores ou familiares recusaram a participação no estudo, bem como idosos com idade de 60 a 64 anos, pois a escala utilizada para avaliar a fragilidade foi validada para pessoas com idade de 65 anos ou mais5. O instrumento de coleta de dados utilizado teve como base estudos similares, de base populacional, e foi previamente testado em estudo piloto. A variável dependente foi o registro de polifarmácia no idoso.
As variáveis independentes estudadas foram: sexo, faixa etária (65-79 anos e ≥ 80 anos), cor da pele auto-referida (branco e não branco), situação conjugal (com companheiro, incluindo casado e união estável; e sem companheiro, incluindo solteiros, viúvos e divorciados), condição de residir sozinho ou com outras pessoas, escolaridade (até 4 anos de estudo e maior que 4 anos de estudo), saber ler (sim e não), renda familiar mensal (até um salário mínimo e maior que um salário mínimo) e presença de DCNT auto-referidas (hipertensão arterial, diabetes mellitus, doença cardíaca, doenças osteoarticulares, osteoporose), fragilidade, conforme Escala de Edmonton5 (sem fragilidade: escore final ≤ 6 e com fragilidade: escore > 6) , presença de sintomas depressivos, segundo pontuação na Escala de Depressão Geriátrica (≥ 6 pontos e < 6 pontos), presença de cuidador, bem como registro de queda e internação no último ano. A autopercepção de saúde foi avaliada por meio da questão “Como o(a) Sr(a) classificaria seu estado de saúde?”. As opções de resposta eram: “Muito bom”, “Bom”, “Regular”, “Ruim” ou “Muito ruim”. Para essa análise, as respostas foram dicotomizadas e assumiu-se como percepção positiva da saúde as respostas “Muito bom” e “Bom”, e percepção negativa da saúde o somatório das respostas “Regular”, “Ruim” e “Muito Ruim”.
Foram calculadas razões de prevalência (RP) para investigar a existência de associações entre as variáveis independentes e a polifarmácia. As razões de prevalências ajustadas foram obtidas por meio da análise múltipla de regressão de Poisson com variância robusta, considerando as variáveis independentes que estiveram mais fortemente associadas com a polifarmácia na análise bivariada, até o nível de significância de 20% (p<0,20). Para a análise final, considerou-se um nível de significância final de 5% (p<0,05).
As informações coletadas foram analisadas por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17.0 (SPSS for Windows, Chicago, EUA). Todos os participantes foram orientados sobre a pesquisa e apresentaram sua anuência, através da assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, por meio do Parecer nº:1.003.534.
RESULTADOS
Participaram do estudo 360 idosos com idade igual ou superior a 65 anos. A faixa etária predominante foi entre 65 e 79 anos, que representou 75,3% da população em estudo. A média de idade do grupo foi de 75 anos (DP±7,6). A maioria dos idosos era do sexo feminino (78,0%), residia sem companheiro (83,0%) e possuía até quatro anos de estudo (85,8%).
A prevalência de polifarmácia foi 33,3%. Outras características do grupo revelaram que 67,8% não possuíam um cuidador. O registro de internação hospitalar, com permanência superior a 24 horas, foi apontado por 21,0% dos idosos. Aspectos de morbidade investigados revelaram que 74,7% eram hipertensos, 54,4% dos idosos sofreram queda no último ano, 43,9%
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Polifarmácia em idosos assistidos por um centro de referência
referiram doenças osteoarticulares, 37,2% revelaram sintoma depressivos, 34,2% apresentavam osteoporose, 21,9% possuíam doença cardíaca, 20,3% eram diabéticos e 10,6%história de acidente vascular encefálico. As análises bivariadas entre polifarmácia e demais variáveis são apresentadas nas Tabelas 1 e 2.
Tabela 1 – Associação entre polifarmácia e variáveis demográficas, sociais e econômicas em idosos assistidos em um Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso, 2015 (Análise bivariada)
Variáveis Independentes Polifarmácia
Não Sim
N % N % RP IC 95% p- valor
Sexo Feminino
184
65,5
97
34,5
1
Masculino 56 70,9 23 29,1 0,84 0,57-1,23 0,36
Faixa etária 65-79 anos
178
65,7
93
34,3
1
≥ 80 anos 62 69,7 27 30,3 0,88 0,62-1,26 0,48
Cor da pele auto- referida Branco
86
63,7
49
36,3
1
Não Branco 154 68,4 71 31,6 0,86 0,64-1,16 0,35
Situação conjugal Com companheiro
96
65,8
50
34,2
1
Sem companheiro 144 67,3 70 32,7 0,95 0,71-1,28 0,76
Arranjo familiar Não reside sozinho
197
65,9
102
34,1
1
Reside sozinho 43 70,5 18 29,5 0,86 0,56-1,31 0,48
Escolaridade > 4 anos
39
76,5
12
23,5
1
0-4 anos 201 65,0 108 35,0 1,48 0,88-2,49 0,10
Sabe ler Sim
141
66, 8
70
33,2
1
Não 99 66,4 50 33,6 1,01 0,75-1,36 0,94
Renda familiar mensal Superior a R$ 880,00 *
162
66,1
83
33,9
1
Até R$ 880,00 reais* 78 67,8 37 32,2 0,95 0,69-1,30 0,74
*Salário mínimo vigente na época.
Tabela 2 – Associação entre polifarmácia, morbidades e utilização de serviços de saúde em idosos assistidos em um Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso, 2015 (Análise bivariada)
Variáveis Independentes Polifarmácia
Não Sim
N % N % RP IC 95% p- valor
Depressão Não
159
70,4
67
29,6
1
Sim 81 60,4 53 39,6 1,33 0,99-1,78 0,05
Hipertensão Arterial Não
83
91,2
8
8,8
1
Sim 157 58,4 112 41,6 4,73 2,40-9,31 0,00
Diabetes Mellitus Não
210
73,2
77
26,8
1
Sim 30 41,1 43 58,9 2,19 1,67-2,87 0,00
Doença Cardíaca Não
207
73,7
74
26,3
1
Sim 33 41,8 46 58,2 2,21 1,68-2,89 0,00
Doença Osteoarticular Não
140
69,3
62
30,7
1
Sim 100 63,3 58 36,7 1,19 0,89-1,60 0,23
Rev Norte Mineira de enferm. 2022; 11(1): 12-18. 15
Polifarmácia em idosos assistidos por um centro de referência
Osteoporose Não
159
67,1
78
32,9
1
Sim 81 65,9 42 34,1 1,03 0,76-1,40 0,81
Possui Cuidador Não
167
68,4
77
31,6
1
Sim 73 62,9 43 37,1 0,85 0,63-1,15 0,30
Queda nos últimos 12 meses Não
112
68,3
52
31,7
1
Sim 128 65,3 68 34,7 1,09 0,81-1,47 0,54
Internação no último ano Não
196
69,0
88
31,0
1
Sim 44 57,9 32 42,1 1,35 0,99-1,86 0,06
Autopercepção de saúde Boa
102
71,8
40,0
28,2
1
Ruim 138 63,3 80 36,7 1,30 0,95-1,78 0,09
Fragilidade Não
147
77,4
43
22,6
1
Sim 93 54,7 77 45,3 2,00 1,46-2,73 0,00
Notas: RP - Razão de Prevalência; IC - Intervalo de Confiança
As variáveis que, após análise múltipla, se mantiveram estatisticamente associadas à polifarmácia foram: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, cardiopatia auto-referidas e fragilidade. (Tabela 3).
Tabela 3: Fatores associados à polifarmácia em idosos assistidos em um Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso, 2015.
Variáveis Independentes RP ajustada* IC 95% p valor
Hipertensão Arterial Não
1
Sim 3,87 1,98-7,58 0,00
Diabetes Mellitus Não
1
Sim 1,71 1,31-2,23 0,00
Doença Cardíaca Não
1
Sim 1,79 1,38-2,32 0,00
Fragilidade Não
1
Sim 1,81 1,35-2,42 0,00
(*) Regressão de Poisson, com variância robusta
DISCUSSÃO
Este estudo revelou prevalência relativamente baixa de polifarmácia em idosos assistidos por um Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso e permitiu conhecer alguns fatores associados.
A prevalência da polifarmácia em idosos residentes na comunidade foi observada em 36% dos idosos de São Paulo, com idade igual ou superior a 65 anos2. Valor ligeiramente superior ao encontrado neste estudo e com idosos na mesma faixa etária, porém em cenários diferentes. Esperava-se prevalência maior da polifarmácia no Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso.
A prevalência encontrada de polifarmácia em idosos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes na comunidade, variou de11% em Recife/Pernambuco6, passando por 13,9% em Carlos Barbosa/Rio Grande do Sul7 e 14,3% na Região Metropolitana de Belo Horizonte/Minas Gerais8, a 26,4% em Goiânia/Goiás9. Enquanto que inquérito nacional revelou prevalência de 35,4%
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Polifarmácia em idosos assistidos por um centro de referência
em aposentados e pensionistas do Ministério da Previdência e Assistência Social10. Em instituição de longa permanência localizada em São Paulo, encontrou-se prevalência de 46,4%11 da polifarmácia.
As variações observadas podem sugerir diferenças em relação aos critérios de seleção da amostra estudada, bem como às desigualdades regionais na abordagem terapêutica e no acesso aos fármacos. Diferenças na prevalência do uso de medicamentos podem refletir diferenças quanto ao estado de saúde, à utilização de serviços e ao modelo de atenção à saúde8 . Talvez, prevalências mais altas de polifarmácia possam estar relacionadas à maior facilidade de acesso aos serviços de saúde, o que leva a maior diagnóstico de doenças crônicas e, consequentemente, maior número de medicamentos prescritos7 .
O presente estudo encontrou associação da polifarmácia com algumas DCNT. Conforme os resultados encontrados em outros estudos2,12, os idosos que informaram hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doenças cardíacas auto- referidas apresentaram maior chance para a polifarmácia. Tais morbidades são prevalentes entre os idosos e, geralmente, é necessária a utilização de vários medicamentos para o seu controle, quando indicado adequadamente. A complexidade do regime terapêutico é um importante aspecto a ser considerado na atenção à saúde do idoso, devido às peculiaridades dos pacientes, já que mudanças estruturais e funcionais próprias da idade podem alterar a farmacocinética e a farmacodinâmica das drogas13 .
Destaca-se ainda a necessidade de revisão permanente da terapêutica proposta como prática fundamental para a simplificação dos tratamentos, visando atender as reais necessidades do idoso, bem como garantir que as metas terapêuticas sejam alcançadas, sobretudo, quando se trata de multimorbidade14,15 .
A autopercepção negativa de saúde esteve associada à prática da polifarmácia em vários estudos2,6,8,9,10, porém nã o permaneceu no modelo final deste estudo. A fragilidade esteve associada à polifarmácia, resultado que não é possível estabelecer relação de causa e efeito, devido ao desenho deste estudo. O consumo de diversos medicamentos pode expor o idoso a um estado de vulnerabilidade a eventos estressores, representada pela inabilidade do organismo a baixa resolução da homeostase, predispondo a fragilidade. Por outro lado, o idoso frágil pode apresentar maior risco de ocorrência de desfechos adversos, necessitando de mais medicamentos.
Estudo evidencia que a condição de fragilidade permaneceu associada ao maior uso de medicamentos, sobretudo, em idosos que necessitavam de 5 ou mais medicamentos16, constatado também em investigação internacional17, em que a polifarmác ia foi associada ao aumento da prevalência e incidência de fragilidade em idosos residentes na comunidade. A polifarmácia é considerada fator de risco para fragilidade em idosos17, posto que a sobreposição de diversos medicamentos, às vezes, de maneira indiscriminada e suas reações adversas18 podem exacerbar essa condição.
O presente estudo apresenta algumas limitações. Ele é derivado de um estudo transversal, não sendo possível concluir a existência de associação causal entre a fragilidade em idosos e os demais fatores associados aqui mencionados, o que seria factível em desenhos longitudinais. Além disso, trata-se de amostra de conveniência, realizado em um centro de referência à saúde do idoso, em que a validade externa fica limitada e os resultados podem ser extrapolados apenas para uma população semelhante. Todavia, a despeito dessas limitações, este trabalho possui amostra suficiente para o ajuste dos modelos de regressão aos principais fatores de confusão de interesse clínico. Apresentou ainda resultados semelhantes aos encontrados em estudos com metodologia mais robusta, que devem orientar medidas de atenção para profissionais e gestores de saúde.
CON CLUSÃO
O presente estudo apresenta algumas limitações. Ele é derivado de um estudo transversal, não sendo possível concluir a existência de associação causal entre a fragilidade em idosos e os demais fatores associados aqui mencionados, o que seria factível em desenhos longitudinais. Além disso, trata-se de amostra de conveniência, realizado em um centro de referência à saúde do idoso, em que a validade externa fica limitada e os resultados podem ser extrapolados apenas para uma população
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Polifarmácia em idosos assistidos por um centro de referência
semelhante. Todavia, a despeito dessas limitações, este trabalho possui amostra suficiente para o ajuste dos modelos de regressão aos principais fatores de confusão de interesse clínico. Apresentou ainda resultados semelhantes aos encontrados em estudos com metodologia mais robusta, que devem orientar medidas de atenção para profissionais e gestores de saúde.
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