REVISTA NORTE MINEIRA DE ENFERMAGEM
ISSN: 2317-3092
Recebido em: 18/06/20 23 Aprovado em: 23/08/202 3
Como citar este artigo
Carvalho APS, Febrônio LM, Costa MF , Rodrigues TM. Gravidez na Adolescência: Uma Revisão Integrativa. Rev Norte Mineira de enferm. 2023; 12(1):26-34.
Autor correspondente
Ângela Patrícia Souza Carvalho Universidade Estadual de Montes Claros Correio eletrônico: angelapatricia22@outlook.com
ARTIGO DE REVISÃO
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA PREGNANCY IN ADOLESCENCE: AN INTEGRATIVE REVIEW
Ângela Patrícia Souza Carvalho1, Lara Malta Febrônio2, Micaelly Fonseca da Costa3, Thais Matos Rodrigues4 .
1 Enfermeira pela Universidade Estadual de Montes Claros. Montes Claros – MG - Brasil. E-mail: angelapatricia22@outlook.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3057-7057.
2 Enfermeira pela Universidade Estadual de Montes Claros. Montes Claros - MG - Brasil. E-mail: laramaltaf@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9375-6856 .
3 Enfermeira pela Universidade Estadual de Montes Claros. Montes Claros - MG - Brasil. E-mail: micaellyfonsecac@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0619-4275 .
4 Enfermeira pela Universidade Estadual de Montes Claros. Montes Claros - MG - Brasil. E-mail: thaismatos12@yahoo.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1295-6870 .
DOI: https://doi.org/10.46551/rnm20230103
Objetivo: Analisar o perfil das publicações científicas relacionadas à gravidez na adolescência. Métodos: Foi realizada uma revisão integrativa de literatura nas seguintes bases de dados: Scielo, Medline e Lilacs, a partir de estudos entre os anos de 2013 a 2018. Foram utilizados os descritores adolescência, gravidez e saúde para a busca dos artigos. Resultados: A partir da análise dos estudos selecionados percebeu-se que os fatores de maior influência para a gravidez na adolescência estão relacionados com a situação socioeconômica. E tal determinante reflete a evasão escolar e a dificuldade de ingresso no mercado de trabalho. Conclusão: Dessa forma, acredita-se que o maior nível de escolaridade e acesso a informações, com a participação da família e dos órgãos governamentais, possibilitem a diminuição desse quadro.
DESCRITORES: Adolescente; Gravidez; Saúde.
Objective: To analyze the profile of scientific publications related to teenage pregnancy. Methods: An integrative literature review was carried out in the following databases: Scielo, Medline and Lilacs, based on studies between 2013 and 2018. The descriptors adolescence, pregnancy and health were used to search for articles. Results: From the analysis of the selected studies, it was noticed that the most influential factors for teenage pregnancy are related to the socioeconomic situation. And this determinant reflects school dropout and
Gravidez na Adolescência: Uma Revisão Integrativa
the difficulty of entering the job market. Conclusion: Therefore, it is believed that a higher level of education and access to information, with the participation of the family and government agencies, make it possible to reduce this situation.
DESCRIPTORS: Adolescent; Pregnancy; Health.
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende como a adolescência o período entre os 10 aos 19 anos (1). É a transição entre a infância e a idade adulta caracterizada por transformações biológicas, psicológicas e sociais. Momento este marcado pela conscientização da sexualidade e integração social (2). As descobertas sexuais deste período expõem o adolescente a maiores vulnerabilidades às situações de risco, dentre as quais o início prematuro da atividade sexual e relações sexuais sem proteção, o que pode acarretar propagação de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e/ou uma gravidez inesperada (3) .
A gravidez na adolescência constitui um problema de saúde pública, uma vez que fomenta complicações psicossociais, econômicas e obstétricas que afetam a vida da mãe e do neonato (4). Mães adolescentes apresentam uma probabilidade maior de aborto, infecções urinárias, doença hipertensiva e ruptura prematura de membranas. Também há maior probabilidade de desfechos negativos nos recém-nascidos como prematuridade, baixo peso e mortalidade neonatal (5) .
Há vários fatores que podem ser apontados para a formação deste quadro: falta de orientação sexual, iniciação sexual precoce, não adesão aos métodos contraceptivos, história materna de gravidez na adolescência e baixa condição socioeconômica. Uma gravidez na adolescência é enfrentada com muita dificuldade, pois há uma mudança na condição da adolescente que passa do estado de filha para ser mãe. A vivência é desestabilizada com a perda da identidade e das expectativas futuras em um período que a adolescente se encontra despreparada com o corpo, a aparência física, psicológica e socialmente (6) .
As instáveis condições socioeconômicas são elementos que intensificam os riscos para a ocorrência da gestação precoce. Esta situação faz com que perpetue–se o ciclo de pobreza das populações ao promover obstáculos para o prosseguimento dos estudos e acesso ao mercado de trabalho (7). Diante das perspectivas apresentadas, a análise da efetividade e eficácia das ações voltadas ao apoio à saúde da mulher, especificamente na adolescência, realçando a orientação sexual e o uso de anticoncepcionais torna-se essenciais, além da qualificação adequada de profissionais dos centros de Estratégia Saúde da Família (ESF') para serem aptos ao atendimento da comunidade (8) .
A abordagem da temática é pertinente em nossa sociedade visto que a discussão da gravidez na adolescência, suas causas e repercussões são os pontos de partida para a conscientização e prevenção da gravidez nesta fase. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo analisar as publicações científicas relacionadas à gravidez na adolescência.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa baseada em coleta de dados realizada a partir de fontes secundárias, através de pesquisa bibliográfica. As buscas foram realizadas nos meses de junho e julho de 2022, e os descritores empregados de acordo com os descritores em ciência da saúde (Decs) foram: adolescente, gravidez e saúde.
Adotou-se como critérios de inclusão os artigos publicados no período de 2017 a 2022; no idioma português e inglês, e como critérios de exclusão: artigos publicados antes de 2017; que apenas citavam a gravidez, mas não a relacionava com a
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adolescência. Foram pesquisadas as seguintes bases de dados: Google Acadêmico, Medline, SciELO e Lilacs, e a análise dos artigos foi feita através da leitura do título e resumo.
RESULTADOS
Foram encontradas 64 publicações; dessas, 6 no Google Acadêmico, dos quais 3 foram excluídas e selecionadas apenas 3 para compor a pesquisa. No Medline foram encontrados 9 artigos e na SciELO 28, sendo 5 excluídos da primeira base de dados e 25 da segunda. E por fim, foram encontrados 21 artigos, dos quais cinco selecionados e 16 excluídos na base de dados Lilacs. Dentre os 64 artigos encontrados, resultaram 48 excluídos e 17 para compor a pesquisa.
Verificou-se que dentre os 17 artigos revisados, 4 deles enfatizavam a influência do apoio em uma gravidez na adolescência; 3 abordavam a importância dos serviços de saúde; e os demais apresentavam os fatores associados e consequências. Os artigos foram classificados conforme sua descrição (Tabela 1).
Tabela 1. Apresentação da síntese dos artigos incluídos na revisão integrativa, organizados por ano de publicação.
Título do artigo Periódico Ano Metodologia Primeiro autor Resumo
Apoio social e Revista 2022 Estudo Bianca O estudo aprofunda os
resiliência: um olhar sobre a maternidade na adolescência
Brasileira de Enfermagem
exploratório, descritivo, transversal, de abordagem quantitativa
Gansauskas de Andrade
conhecimentos sobre a influência do apoio social no processo de resiliência de mães adolescentes. Evidenciaram- se questões de gênero e a importância de políticas intersetoriais com foco em mães e pais adolescentes que fortaleçam o apoio social.
Tendências das taxas Revista 2021 Estudo Milena O estudo demonstrou que apesar da
de fecundidade, Brasileira de observacional, Laryssa Costa tendência decrescente da taxa de
proporção de Enfermagem retrospectivo, de Bicalho fertilidade nas adolescentes
consultas pré-natais e cesarianas entre adolescentes brasileiras
série temporal
brasileiras, elas ainda permanecem elevadas. Destaca-se também a tendência crescente de cesarianas, mesmo com a melhoria do acesso ao pré-natal.
Experiências Boletim - 2020 Estudo de caso Graziela A gravidez na adolescência é uma
emocionais da Academia qualitativo Vasconcelos experiência capaz de ocasionar
gravidez na Paulista de da Silva consequências tanto positivas quanto
adolescência: entre expectativas e conflitos
Psicologia
negativas para as jovens; as participantes ainda não têm consciência das possíveis dificuldades que se apresentarão, após o nascimento da criança; o apoio familiar tem muita importância com relação à aceitação da nova condição de mãe e na estrutura oferecida para o acolhimento do filho.
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O direito à Interface - 2020 Estudo Vera Paiva Opiniões e práticas de estudantes no
prevenção da Aids em tempos de retrocesso: religiosidade e sexualidade na escola
Comunicação, Saúde, Educação
quantitativo
ensino médio, coletadas em pesquisa realizada de 2013-2017, indicaram que estavam incorporando o discurso preventivo e que a religiosidade tem efeito em crenças e valores antes da iniciação sexual, mas pode interferir negativamente no uso de preservativo desde a primeira relação.
Tendência temporal da gravidez na
Revista Escola
da
de
2020 Estudo ecológico, retrospectivo, de
Mislaine Casagrande
Associaram-se à gravidez na adolescência as variáveis: estar sem
adolescência
Enfermagem da USP
caráter quantitativo
de Lima Lopes
companheiro; escolaridade menor que oito anos; primiparidade; idade gestacional menor que 37 semanas; cesárea; número de consultas menor que sete; e Apgar menor que sete no primeiro minuto.
Conhecimento dos Revista Norte 2020 Pesquisa de Maria Theresa Os resultados mostraram que os
adolescentes de Mineira de campo, com Veloso adolescentes com até 16 anos, do
escolas públicas de Enfermagem caráter descritivo Figueiredo de gênero feminino, católicos, solteiros,
Montes Claros e abordagem Carvalho com renda abaixo a dois salários-
acerca do uso de métodos contraceptivos
quantitativa.
mínimos, que não trabalham fora de casa, possuem menor conhecimento sobre o assunto.
Representações da Revista Norte 2020 Estudo descritivo, Andra Os resultados apresentaram a
gravidez precoce Mineira de de abordagem Aparecida gravidez precoce como um
para adolescentes assistidos pela estratégia saúde da família
Enfermagem
qualitativa
Dionízio Barbosa
fenômeno presente no cotidiano dos adolescentes, conferindo-lhe um caráter de normalidade. Os sujeitos do estudo não se consideram, no entanto, preparados para vivenciá-la. Contrapondo, a gravidez foi apontada também como capaz de conferir à menina certo amadurecimento.
Determinantes sociais de saúde e vulnerabilidades às infecções sexualmente
Revista
Brasileira de Enfermagem
2019 Estudo transversal
Maria Isabelly Fernandes da Costa
Observou-se que, dentre os adolescentes mais vulneráveis às ISTs, houve uma maior prevalência do sexo masculino, com idades entre 11 e 14 anos, com até 11 anos de estudo, de
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transmissíveis em adolescentes
cor não branca, com parceiro, o que implica na necessidade de um olhar
integral, diferenciado e
multiprofissional a esse público.
Fatores associados à Cadernos Saúde 2019 Estudo Yago Tavares A gravidez na adolescência está
gravidez em Coletiva transversal Pinheiro associada a condicionalidades
adolescentes de um sociodemográficas, de
município nordeste do Brasil.
do
comportamento sexual e de planejamento familiar.
Acesso e qualidade Estudos e 2019 Estudo de Milene Destaca-se a necessidade de
da informação pesquisa em delineamento Fontana investimento em capacitação de
recebida sobre sexo psicologia explanatório Furlanetto profissionais para a realização da
e sexualidade na sequencial de educação sexual na escola, visando
perspectiva corte transversal atender não somente os
adolescente
e
mista
abordagem
adolescentes, mas também suas famílias.
A Matriz de Apoio e Teoria e 2019 Estudo Giana Análise de conteúdo das entrevistas
o Contexto de Depressão Pós- Parto. Psicologia: Teoria e Pesquisa
Pesquisa
transversal qualitativo
e
Bitencourt Frizzo
revelou que as mães com indicadores citaram menos figuras de apoio do que as sem indicadores, seja porque a depressão possa ter afetado a percepção materna quanto ao apoio recebido, seja porque sua matriz de apoio mostrou-se insuficiente nesse contexto.
Fatores preditores da evasão escolar entre adolescentes com experiência de gravidez.
Cadernos Saúde Coletiva
2018 Estudo transversal
Carolina Rodrigues de Oliveira Sousa
O abando escolar de jovens mães está fortemente associado a fatores socioeconômicos desfavoráveis, por isso são imprescindíveis políticas que incentivem a continuidade dos estudos e, consequentemente, a inserção no mercado de trabalho, favorecendo melhor renda, menor dependência financeira, menos gravidez precoce e não planejadas.
Violência intrafamiliar:
Escola Nery
Anna
2017 Pesquisa qualitativa
Júlia Renata Fernandes de
A história oral das (os) adolescentes desvela uma infância e adolescência
vivências percepções adolescentes
e
de
Magalhães
marcada pela presença da violência conjugal entre os pais e vivência de agressões físicas, humilhações, abandonos e negligências. Embora tal
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contexto e suas repercussões para a saúde, as (os) adolescentes não se reconhecem enquanto vítimas.
Gravidez adolescência
na
e
Revista Adolescência &
2017 Estudo descritivo Eleomar Vilela de Moraes
A falta de apoio da família, a ausência de vínculo com o companheiro, a
aborto: Implicações da ausência de apoio familiar
Saúde
baixa autoestima e o desapego à criança em formação, parecem desestabilizar profundamente a adolescente que passa a considerar o aborto como uma alternativa viável.
Fatores de riscos Revista de 2017 Estudo Maria Márcia O estudo evidenciou que os fatores
associados à Enfermagem da transversal da Silva Melo associados com a gravidez na
gravidez na Universidade Fernandes adolescência foram: baixa
adolescência
Federal do Piauí (UFPI)
escolaridade; baixa frequência e desempenho escolar; ocupação, que entre a faixa etária de 15 a 19 anos predominaram as donas de casa, e entre 10 a 14 anos as estudantes; e violência intrafamiliar.
Taxa de fertilidade e Revista Latino- 2017 Estudo Maria de O estudo demonstrou que as
desfecho perinatal em gravidez na adolescência: estudo retrospectivo populacional
Americana de Enfermagem
retrospectivo
Lourdes de Souza
adolescentes atenderam menos consultas pré-natais, ter um filho com baixo peso ao nascer e Apgar no quinto minuto e a chance de desfecho também eram maiores quando comparadas às mães com 20 anos ou mais.
Prevalência da Revista de 2017 Estudo Ana Paula dos Foi elevado o percentual de gravidez
gravidez de Saúde Materno transversal Santos nas adolescentes. As chances
repetição rápida e fatores associados em adolescentes de Caruaru,
Pernambuco
Infantil
Albuquerque
aumentam sem o uso de métodos contraceptivos, enquanto a não realização de planejamento da gestação anterior diminuiu as chances das adolescentes engravidarem novamente sem programação prévia.
DISCUSSÃO
Em todo mundo, estima-se que para cada mil nascimentos, 46 deles sejam filhos de meninas de 15 a 19 anos (9). A gravidez na adolescência pode trazer diversos problemas, com múltiplas repercussões possíveis em termos de danos psicossociais e de saúde materno fetal. Além disso, a gestação na adolescência afeta a escolarização, especialmente aquelas de classe social mais
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baixa, denotando que o abandono escolar e as poucas chances de crescimento profissional, associam-se tanto a maternidade precoce quanto a condição socioeconômica em que viviam previamente (10) .
Estudo realizado em uma capital do nordeste brasileiro, aponta a interrupção dos estudos como consequência da gravidez precoce demonstrando que quase 70% das adolescentes não frequentavam mais a escola (3), o que corrobora com o estudo realizado no Piauí em que quase 73% das adolescentes também abandonaram a escola (11). Há dados que mostram ainda que uma grande quantidade de adolescentes não ocupava nenhuma atividade remunerada (12). Nesta mesma perspectiva, Fernandes et al. (2017), indicam uma associação significativa das adolescentes gestantes e a dependência financeira dos pais e/ou companheiros (11) .
Segundo Sousa et al. (2018), a gravidez na adolescência está relacionada às diferenças socioeconômicas. Isso por ser explicado com base na análise do índice de desenvolvimento humano. Municípios com índices menores e com incidências maiores de pobreza são aqueles com maior número de adolescentes grávidas. Portanto, são importantes políticas sociais atentem para as necessidades e demandas específicas dessa população, na construção de estratégias que atuem nos determinantes sociais e na redução de vulnerabilidades que podem ser desfavoráveis para a qualidade de vida dessa população (7) .
A violência intrafamiliar apresentou ligação com a gravidez entre as adolescentes, ou seja, não é um fator determinante, mas está indiretamente correlacionado com a gestação antecipada (11). Pesquisa realizada com adolescentes em uma escola pública de Salvador, revela por meio da história oral, uma adolescência marcada pela violência doméstica, e que essa situação desencadeia psicopatologias e aumenta os comportamentos de risco. Muitos das (os) entrevistados também, não se reconhecem como vítima, o que pode estar relacionado ao significado que atribuem ao evento (13) .
Outro fator em comum entre estas adolescentes é a idade da primeira relação sexual. Segundo os estudos, a menarca precoce está relacionada com o início das práticas sexuais prematuramente, o número de parceiros e a recorrência de uma nova gestação (3). O que contrasta com a pesquisa realizada em Caruaru-PE, demonstrando que a maioria das adolescentes tinham 16 anos e como possível benefício uma menor prevalência de repetição da gravidez (12), ou seja, quanto mais cedo iniciarem a vida sexual, mais expostas estas adolescentes encontram-se às implicações negativas, tais como ISTs, gestações não planejadas, tabagismo e consumo excessivo de álcool (14) .
Estudo realizado em Santa Catarina, diz que em cerca de 80% dos casos, as adolescentes não tinham um parceiro fixo durante a gestação, também foi grande a quantidade de casos em que o pré-natal foi executado de maneira inadequada, sendo em boa parte dos casos, insuficiente a quantidade de consultas, o que aumentou o número de casos de Human immunodeficiency virus (HIV), rubéola, sífilis e hepatite. Quando comparadas as gestantes de 20 anos, as adolescentes apresentaram uma maior chance de ter partos prematuros e bebês com baixo peso, o que gera uma série de complicações para o recém-nascido e um maior tempo de internação hospitalar (14) .
A não adesão das adolescentes aos métodos contraceptivos na primeira relação sexual influencia a prevalência de gravidez (6) . Os estudos mostram a relevância da educação sexual nas escolas ressaltando a importância da correta orientação para os adolescentes acerca da sexualidade que, muitas vezes, é ignorada em casa. Uma investigação realizada no Nordeste mostrou que essa medida nas escolas foi fator para adiamento da primeira relação sexual (3), também é perceptível que meninas que cresceram em religiões evangélicas ou católicas têm menos probabilidade de engravidar, visto que, nessas religiões o sexo antes do casamento é proibido (15) .
Segundo o trabalho de Barbosa et al (2020), a representação da gravidez na adolescência está associada a fatores socioculturais pois os sujeitos constroem suas idealizações nas relações com seus pares. E essa concepção social que determina
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o modo como a sociedade percebe e como a adolescente vivencia a gestação. Os participantes do estudo considerarem a gravidez na adolescência como um fato corriqueiro, pode estar associado ao aumento do fenômeno entre seus pares (16) .
Atualmente é próprio o uso dos meios de comunicação, principalmente por adolescentes. No entanto, essa frequência pode ser considerada menor, o que talvez se associe ao baixo nível socioeconômico. Vale ressaltar, que embora a tecnologia seja uma fonte de informações assim como um ambiente confortável para sanar dúvidas sobre sexo e sexualidade, o uso sem a supervisão dos pais pode permitir que o adolescente acesse conteúdos eróticos, contribuindo para a precipitação de práticas sexuais e na maioria, desprotegidas (17) .
É necessário fortalecer políticas e programas de saúde já instituídos como o Programa Saúde na Escola, com consulta médica e enfermagem, visando viabilizar o diálogo dos profissionais com os adolescentes e o acesso destes às ações em saúde. Programas mais amplos, que propiciem uma sexualidade segura e adolescência saudável, devem alcançar tanto os adolescentes, quanto os pais, professores, autoridades religiosas e outros integrantes da comunidade, objetivando proporcionar um ambiente seguro e de suporte para meninas e meninos em casa, na escola e em outros locais que frequentam, a fim de minimizar sua vulnerabilidade. Políticas que abranjam as mães adolescentes também precisam ser instituídas, como a geração de renda e o incentivo ao regresso escolar precoce (18) .
De acordo com o estudo de Frizzo et al. (2017), mães adolescentes com indicadores de depressão mencionaram menos figuras de apoio do que as sem indicadores, seja porque a depressão possa ter prejudicado sua percepção quanto ao apoio recebido, seja porque a rede de apoio mostrou-se insuficiente. O apoio não anula as experiências negativas, mas diminui a ocorrência de transtornos mentais que podem interferir no vínculo materno-infantil, bem como nos vínculos familiares e sociais (19) .
Ao analisar os últimos anos, o jovem passou a ter acesso diversas fontes de informação e desinformação a respeito de questões sexuais. Entretanto, é fundamental que se tenha acesso às informações de boa qualidade. O conhecimento inadequado sobre algum método contraceptivo pode ser um fator de resistência à aceitação e uso desse método. Vale ressaltar que além do conhecimento, deve estar disponível os métodos contraceptivos e a livre escolha dos adolescentes para sua adesão. Os enfermeiros, assim como outros especialistas da área da saúde, têm um papel fundamental na disseminação do conhecimento apropriado sobre os métodos contraceptivos, sendo as atividades de educação em saúde uma ferramenta valiosa para seu alcance (20) .
CONCLUSÃO
A gravidez na adolescência é uma realidade que precisa ser refletida e investigada, através da influência de fatores psicológicos, sociais, culturais e dos relatos dessas adolescentes.
É perceptível que a gravidez na adolescência está vinculada diretamente com o grau de instrução educacional, isto é, este problema encontra-se presente nas famílias de baixa escolaridade e a falta de instruções acerca da educação sexual na adolescência. É importante salientar que a maternidade precoce não está relacionada apenas às meninas, pois biologicamente essa é capaz de gerar, mas o menino também possui responsabilidade e deve assumir o seu papel de pai a fim de amenizar os impactos biopsicossociais da mãe adolescente.
Assim, se faz necessário um planejamento para que a educação sexual chegue a todos, principalmente aos adolescentes, com incentivo ao uso de métodos contraceptivos, a permanência nas escolas e a uma maior frequência na ESF para realização de exames preventivos. Caso a adolescente já esteja grávida, torna-se relevante a realização de ações que levam a adolescente perceber a importância do acompanhamento da equipe de saúde durante a gestação.
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Gravidez na Adolescência: Uma Revisão Integrativa
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
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