eISSN 2236-5257

 

 

Formação inicial de professores: contribuições do programa institucional de bolsas de iniciação à docência PIBID/CAPES da Universidade Estadual de Montes Claros- Unimontes

Initial teacher formation: contributions of the institutional scholarship program for new teachers PIBID/ CAPES, Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes

 

 

 

 

Rosângela Ramos Veloso Silva [1]

Deyse Mendes Rodrigues [2]

Silvana Diamantino França [3]

 

Resumo: Objetivo: Verificar a contribuição do PIBID para a formação docente dos acadêmicos integrantes de 12 (doze) Subprojetos da Unimontes, aprovados por meio do Edital 02/2009-DEB/CAPES, identificando os impactos ocasionados pela implantação do programa e as percepções dos acadêmicos bolsistas. Metodologia: Caracterizou-se como exploratória descritiva com abordagem qualitativa. A amostra foi composta por 74 acadêmicos da Universidade Estadual de Montes Claros.  Os dados da pesquisa foram obtidos através da técnica de grupo focal e análise documental. Os resultados foram categorizados, suas frequências expressas em porcentagens e interpretadas através das análises de conteúdo.  Resultados: O PIBID da Unimontes tem atingido seus objetivos e impactou mudanças na formação inicial e na motivação dos acadêmicos, valorizando o magistério, com intensa integração do ensino superior com a educação básica, além das grandes produções pedagógicas, científicas e culturais. Conclusão: Evidenciamos, na percepção dos acadêmicos, os impactos positivos do programa para formação do licenciando, e, consequentemente, na formação continuada da educação básica.

 

Palavras-chave: Formação de professor. PIBID. Educação Básica.

 

Abstract: Objective: examined the contribution of teacher education PIBID of academic member softhe 12 (twelve) of Subprojects Unimontes, approved through the Notice 02/2009-DEB/CAPES, identifying the changes caused by implementation of the program, and perceptions of academic scholarship. Methods: characterized as exploratory descriptive qualitative study. The sample consisted of 74 academic scholarshipb State University of Montes Claros. The survey data were obtained using the technique of focus groups and documentary analysis. Results: the results were categorized, their frequencies expressed in percentages and interpreted through content analysis. The PIBID of Unimontes haver eachedtheirgoals and impacted changes in initial training and motivation of students, enhancingthe teaching, with intense integration of higher educationto basic education, in additionto major productions educational, scientificand cultural. Conclusion: thus, wenoted the positive impacts of the program for thelicensing and training, hencethe continuing education of basic education.

 

Keywords: Teacher training. PIBID. Basic Education.

 

INTRODUÇÃO

A valorização do processo de formação inicial de professores é um dos fatores primordiais para o desenvolvimento da educação e a otimização do processo de ensino/ aprendizagem na Educação Básica. Libânio¹ (2011, p. 83) afirma que “crianças e jovens estão concluindo as várias fases da escolarização sem uma mudança perceptível na qualidade das aprendizagens escolares, na qualidade de sua formação geral”. Portanto, a preparação para a docência se faz necessária para graduando, devido a sua necessidade do saber.

Nessa busca, a Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, localizada no município de Montes Claros - MG, centro convergente e polarizador dos demais municípios da região têm como missão contribuir para a melhoria e a transformação da sociedade, atender às aspirações e aos interesses de sua comunidade e promover o Ensino, a Pesquisa e a Extensão com eficácia e qualidade. Para tanto, a grande relevância para a formação docente inicial, na construção de uma identidade profissional, pode estar relacionada ao entretenimento pessoal e profissional, na busca de um conhecimento mútuo do ambiente de trabalho e na busca constante de uma formação continuada, mudando, a qualidade do processo de ensino- aprendizagem.

Um fator em destaque é que, com a grande expansão do ensino básico no Brasil, gerou-se uma demanda de novos professores. No entanto, as licenciaturas não conseguiram acompanhar esse crescimento, criando um déficit de profissionais nessa área.³

Com o intuito de melhorar a qualidade da educação e formação de professores, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES, órgão do governo Federal, por meio da Diretoria de Educação Básica Presencial, dá início, no ano de 2007, com a participação somente das IFES, ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, tendo como objetivo principal, incentivar graduandos dos Cursos de Licenciatura Plena para o contato direto com a educação básica, através da interação de acadêmicos de instituições superiores com estudantes do ensino básico, de modo que estes sejam incentivados ao exercício docente, proporcionando aos acadêmicos licenciandos conhecimento do seu meio de atuação, através de vivências concretas e pré-estabelecidas, além de estimular o acadêmico, por meio de pesquisas, a um aprimoramento profissional e consequentemente melhorar o rendimento da educação básica.2

A Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes ingressou no PIBID a partir do ano de 2009, por meio do Edital 02/2009/DEB/CAPES quando, pela primeira vez, permitiu-se que instituições de ensino superior estaduais participassem do edital de seleção. A Unimontes ao apresentar uma proposta de Programa Institucional de Incentivo e apoio à Docência foi contemplada no Projeto Institucional com 12(doze) Subprojetos específicos de nove licenciaturas: Artes Visuais, Ciências Biológicas, Educação Física, Geografia, Letras/Espanhol, Matemática e Pedagogia, e, ainda, dois Subprojetos Interdisciplinares: Educação Inclusiva - Pedagogia, Letras/Português, Letras/Inglês e Dança Educação (Educação Física e Artes/Teatro).³

O PIBID/Unimontes tem como propostas incentivar os jovens a reconhecerem a relevância social da carreira docente; promover a articulação teoria-prática e a integração entre as escolas de educação básica e a universidade. Nesse sentido, nada mais pertinente do que inserir no meio acadêmico a interação entre a universidade e a escola, além de uma tentativa de solucionar problemas mencionados no campo da licenciatura.

Dessa forma, espera-se que os acadêmicos, dos Cursos de Licenciatura envolvidos, sejam motivados ao exercício docente na educação básica e possam, também, contribuir para a disseminação do conhecimento originado por sua participação no programa.  A concepção dos acadêmicos com relação ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, relatos e opiniões, ainda tem sido objeto de pouco estudo no Brasil. Dessa forma, torna-se necessário verificar a importância do programa tendo como amostra seus próprios integrantes. 4,5

Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi verificar a contribuição do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID na formação inicial de professores sob a percepção dos acadêmicos integrantes do mesmo e especificamente verificar o impacto do PIBID na valorização do magistério, identificar as mudanças ocorridas por meio do programa.

 

Universidade: Unimontes como reflexo de conhecimento

O principal instrumento precursor de conhecimento e que induz aos diversos e possíveis saberes pode estar associado ao campo universitário, que se posiciona como instigante e facilitador na formação inicial do professor. Os Campi da Unimontes estão localizados em Montes Claros, Almenara, Bocaiúva, Brasília de Minas, Espinosa, Janaúba, Januária, Paracatu, Unaí, Pirapora, Salinas e São Francisco. A universidade constitui como lócus privilegiado da produção do conhecimento que é, hoje, a mercadoria mais valiosa na sociedade capitalista contemporânea6. De acordo com o Relatório de Gestão da Unimontes,7 para atender prioritariamente às áreas mais pobres do estado de Minas nas regiões Norte, Noroeste e Vales do Jequitinhonha e Mucuri, a UNIMONTES vem consolidando suas propostas de ensino, pesquisa e extensão proporcionando, cada vez mais, acesso da população de baixa renda a seus programas e serviços. Nesse sentido, as condições socioeconômicas prevalentes nas regiões de sua abrangência, associadas ao fato de ser uma instituição pública que, pelas ações e princípios norteadores se propõem a ser instrumento de transformação da realidade, justificam a dimensão do papel que a Unimontes desempenha em seu contexto. Desta forma, mesmo com a utilização do ambiente escolar para formação docente, a busca pelo conhecimento pode ser uma tarefa difícil se não tiver apoio da Instituição Universitária.8

 

O professor e sua prática profissional

 

Grandes problemas enfrentados pelo ensino público estão relacionados à falta de conhecimento do profissional da educação, tornando o ensino meramente precário e prepotente no que se refere ao processo de ensino/aprendizagem. E o que pode estar vinculado a isso, segundo Barcelos e Villani16 (2006, p. 94):

Entendemos que a fragilidade nas relações institucionais entre universidade e escola tem contribuído para a manutenção do distanciamento entre saber acadêmico e saber profissional docente, apesar da existência de inúmeros programas institucionais, na maioria das vezes isoladas e sem uma articulação institucional.

Papi e Martins (2010)9 acentuam que “os primeiros anos de exercício profissional são basilares para a configuração das ações profissionais futuras e para a própria permanência na profissão”. Nessa perspectiva, esse período de adaptação pode tornar-se um período mais fácil ou mais difícil, dependendo das condições encontradas pelos professores no local de trabalho, das relações mais ou menos favoráveis que estabelecem com outros colegas, bem como da formação que vivenciam e do apoio que recebem nessa etapa do desenvolvimento profissional.

Nesse sentido, na primeira instância articulada no âmbito profissional em que se determina como um período de experiências e vivências positivas ou negativas precisa ser refletido para aprimorar a aplicação das ações educacionais.

Sabe-se que as dificuldades estabelecidas por profissionais licenciandos não é meramente repercutida de fato pelo próprio profissional, essa situação cabe sérios fatores alienados por uma democracia educacional, na qual até a equipe pedagógica pode ser a percussora de tais evidências, daí a necessidade de criarem métodos objetivando a busca dessa valorização tanto do profissional quanto da própria educação.

 

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID: possíveis contribuições

Como ponto de partida para o desempenho profissional e para a adesão de relações produtivas de conhecimento da Universidade com as entidades de ensino, foi concretizado, através do suporte dado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior – CAPES, um programa conhecido como Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, a fim de possibilitar melhorias na valorização dos professores educadores e contribuir na elevação do padrão de qualidade da educação básica.

O PIBID cria uma nova situação em que estabelece o intercâmbio entre a Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES e as escolas da Rede pública de ensino de Ensino, contando com a participação de vários docentes e discentes das diversas áreas contempladas pelo programa, que oferece bolsas de incentivo ao acadêmico em formação, ao professor da disciplina na escola, chamado de professor supervisor, e ao Coordenador de área.10

De acordo com o Projeto Institucional Unimontes, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID tem por objetivo geral incentivar a formação de professores para a educação básica, valorizando o exercício do magistério e estimulando os estudantes que optam pela carreira docente através de sua participação consciente e intensa no desenvolvimento de projetos que contribuem, efetivamente, para a elevação da qualidade da escola pública de educação básica.11 Desta forma, é de total importância que os objetivos do PIBID sejam concretizados, pois, esses fatores possibilitam uma mudança na formação de professores e ainda atribui à educação básica um conhecimento formidável e necessário.

Os grandes problemas encontrados na educação básica podem estar relacionados à falta de preparo ou há má formação do professor. O PIBID surge na busca de um olhar mais real do que é a licenciatura, de maneira que amenize ou até mesmo modifique a realidade vivida pelos futuros professores da educação básica. Desta forma, para mostrar os resultados que estão sendo obtidos com este programa, decidiu-se realizar este trabalho que trará em detalhes as opiniões dos alunos bolsistas que participam dele.

Por fim, Silva et al (2011)12 afirmam que a intenção do PIBID/Unimontes é contribuir e incentivar a docência de sujeitos críticos e reflexivos, que, ao final da sua formação inicial, sejam capazes de oferecer e orientar estratégias adequadas ao ensino das disciplinas de suas respectivas áreas, para as comunidades onde atuarão, enquanto profissionais da Educação Básica.

 

METODOLOGIA

Esta pesquisa caracterizou-se como exploratória descritiva com abordagem qualitativa, tendo uma amostra de 74 (setenta e quatro) acadêmicos de oito cursos de licenciatura da Universidade, todos integrantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID da Unimontes. Foram excluídos da pesquisa os acadêmicos do PIBID que eram dos Campi da Unimontes e os que não estiveram presentes ou não aceitaram participar.

Para a coleta de dados, foi utilizado como instrumento um roteiro de entrevista adaptado de Souza et al (2011)13, contendo seis questões abertas. As entrevistas foram feitas através da técnica de grupo focal. Antes de começar a coleta, o coordenador de área e a coordenadora institucional foram informados do estudo. A coleta de dados foi realizada na Universidade Estadual de Montes Claros. Foi assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação em pesquisa pelos acadêmicos após a autorização dos coordenadores dos demais grupos do PIBID da Unimontes. A principal função de um grupo focal é precaver sobre as percepções em um determinado grupo, tendo os participantes alguma semelhança entre si.14 O grupo focal foi composto por 7 a 12 pessoas, contendo um moderador e um anotador. O registro da discussão foi realizado por escrito pelos observadores e, também, por meio de aparelhos eletrônicos.

Nesta pesquisa, foram realizadas 8 sessões de grupos focais, sendo que os 74 acadêmicos da amostra foram identificados numericamente para manter sigilo. Para as turmas que continham mais acadêmicos do que o sugerido pela técnica foi feita uma seleção aleatória. Os dados da pesquisa foram analisados, tanto os relatos escritos, quanto os áudios. Algumas respostas foram analisadas e categorizadas, a partir de todos os relatos transcritos, criando categorias flutuantes. Para outras respostas, foram feitas análise do discurso divididas em dois subproblemas: determinar as possíveis estruturas argumentais e determinar os pares de causa e efeito15. A partir disso, foi analisado o conteúdo das respostas da entrevista e da análise documental a fim de dialogar informações dos documentos que legislam a Universidade e o PIBID. As observações foram complementares ao processo de análise dos dados.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, sob Parecer 3044/2013, atendendo aos requisitos para pesquisas com seres humanos.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO    

 

Os acadêmicos foram numerados e identificados por siglas de acordo com seus respectivos subprojetos como: M1(Matemática 1), EI (Educação Inclusiva), OJ (Oficinas do Jogo), C (Cidadania), AV (Artes Visuais), M2 (Matemática 2), DE (Dança Educação), CER (Ciências em Rede). Essa codificação foi feita para que os nomes dos participantes não fossem identificados, conforme descrito no termo de consentimento.

            Com relação à questão: “Você percebeu alguma mudança na sua formação e na motivação no curso depois que ingressou no programa do PIBID?” Percebemos que a maior parte dos integrantes do PIBID (92,39%) percebeu alguma mudança na sua formação e na motivação depois de ter ingressado no PIBID. Muitos desses acadêmicos relatam que puderam perceber depois da inserção no programa o que é realmente ser professor, pelo maior contato com a realidade escolar, como verificado nos relatos de alguns acadêmicos:

“Na prática pude perceber o quanto o professor é importante dentro da sala de aula, o quanto que a sua função vai além e que pode modificar a vida de um aluno. Pude ver, através do PIBID, como eu vou atuar dentro da sala de aula, como eu vou proceder nas minhas aulas, a forma de lidar com eles, a metodologia, procurarem uma coisa inovada e diferente” (20- E I).

“Sim, com certeza, eu acho que o PIBID trouxe muita motivação em relação às varias mudanças, pois foi através do PIBID que a gente encara a realidade da licenciatura e que a gente tem certeza que é uma área que a gente quer realmente seguir e assim como o PIBID tem a área da pesquisa, da docência, da extensão. Isso pode concretizar muito mais através do PIBID como área da licenciatura” (31- O J).

 

A chegada do acadêmico à universidade, período de grandes mudanças, devido a diferenças entre o ensino médio o acadêmico se depara com o conhecimento teórico, ou seja, a explicação da realidade por meio de pesquisas. A relação entre teoria e prática torna-se um fator confuso para o estudante necessitando de vivências reais, em que se analisa verdadeiramente o que poderá acontecer no âmbito profissional.

Como referenciado por vários acadêmicos entrevistados, essa vivência é muito bem mantida na atuação do programa. Esse conhecimento vai sendo construído pela ação constante durante a inserção no programa, pedagogicamente, os acadêmicos têm a possibilidade de um aprendizado mais eficaz devido o seu grande meio de experiência.

Lopes et al (2011)10 percebem, através de relatos dos acadêmicos, que o PIBID/ Unimontes incentiva a pesquisa no processo de formação, promove o aprimoramento profissional, bem como, a dialética entre teoria e prática. O programa propõe mudanças nos paradigmas de ensino, favorecendo a construção da prática docente, contribuindo para a construção da identidade profissional com foco na formação do professor/reflexivo.

A convivência entre aluno e professor, na qual consequentemente experimenta um processo de ensino aprendizagem, deve meramente ser tratada em experiências contidas dentro da universidade, e, o programa é um articulador de tais saberes, nessa visão, a tradição pedagógica insiste ainda hoje em limitar o pedagógico à sala de aula, à relação professor-aluno, educador-educando, ao diálogo singular ou plural entre duas ou várias pessoas.14

É importante deixar em destaque que muitos acadêmicos, também, relatam que houve mudança na formação e na motivação depois de ter ingressado no PIBID, pelo fato de ter melhorado suas vivências na elaboração de projetos, artigos, oficinas minicursos, baners, material didáticos nos aspectos metodológicos, na área da pesquisa, contribuindo como professor pesquisador. Com essa percepção, os acadêmicos retratam de maneira satisfatória as relevâncias contidas no decorrer de suas imersões no programa.

“Na formação ajudou bastante na hora de criar, minicursos, baner, imaginei ser bem mais complicado, e o PIBID me deu suporte pra fazer tudo e ajudou bastante no sentido de dar aula, ajudou na realidade da escola” (8- M1).

 

“Passei a ter uma visão maior no que é realmente ser professor, a realidade também me chocou, às vezes até penso que eu não quero ser professora, e uma das coisas que melhorou foi que eu era muito tímida e hoje eu não sou tanto [...] talvez eu não queira ser professora, mas sim pesquisadora [...]”33- C).

 

Alguns acadêmicos quando depararam com a realidade do seu meio de atuação tentam ou tentaram despertar a busca pela construção de sua identidade, levando em conta o atual contexto social em que vivemos e, de modo particular, as angústias, necessidades e descobertas experimentadas na área educacional, hoje voltada à busca para entender o sentido como um todo organizado, primando por um ensino interdisciplinar, podendo ter outras escolhas na área da licenciatura. 13,16

Em contrapartida, alguns acadêmicos concordam que houve mudanças na formação, mas se sentiram desmotivados pela falta de apoio do corpo pedagógico encontrado na escola, durante as atividades vivenciadas nesse meio.

“Em relação a motivação eu me senti meio desmotivada pela escola, pela estrutura, o que eles tinham para oferecer agente, pelo que foi feito eu me senti um pouco desmotivada, mas em relação a formação melhorou muito e agente ver como lhe dar com as crianças [...] ver como realmente é dar uma aula na escola” (62- D E).

O ato da docência vai desde o domínio do conteúdo teórico aliado à vivência prática até a utilização satisfatória de recursos materiais explorados nas aulas, uma vez que estes recursos também definirão uma intervenção eficiente e objetiva. Porém, na escola, isso é mais difícil ocorrer se não tiver apoio da instituição escolar. A falta de estrutura dificulta no procedimento de atuação do acadêmico. 17

O PIBID, de certa forma, veio para preparar o acadêmico, amenizando tais problemas ou mostrando gradualmente as dimensões que permeiam a instituição escolar, dando suporte para necessidades futuras. Na próxima questão, foi feito o seguinte questionamento: Você concorda que o PIBID promove, de fato, a integração da educação superior com a educação básica? Os discentes afirmam que a falta de projetos que fortaleçam os vínculos entre a Educação Superior nas instituições formadoras de professores e as instituições de Educação Básica, para que haja trocas entre a universidade e a escola, parece tornar a formação inicial muito teórica e pouco realista.

De acordo com as respostas, 89,19% dos discentes, concordam que o PIBID promove a integração da educação básica com a educação superior, visto que a teoria vivenciada pelos acadêmicos na faculdade é pouco mantida pelo estágio nas escolas e o PIBID insere mais o acadêmico no contexto escolar.

“Em relação a essa integração acontece um pouco diferente do estágio, eu acho que no PIBID você percebe essa realidade de uma melhor forma porque dentro do PIBID você tem contato com a direção, com todos os professores, em geral com todos os alunos” [...] (21- E I).

 

Verifica-se a grande significância da articulação entre o acadêmico graduando em licenciatura e a escola onde se caracteriza como campo de sua formação profissional.

A atuação na escola, como campo de conhecimento, vislumbra a possibilidade de aprimoramento das atividades didático-pedagógicas de formação do professor, objetiva a compreensão da realidade da escola, consolida a ideia do professor como pesquisador, que investiga, reflete, julga e produz conhecimentos, provocando transformações, percebendo as implicações da sua ação docente na sua própria formação e na formação do aluno, situados em contextos sociais, históricos e culturais (VELOSO- SILVA; SANTOS, 2011, p. 54) 8.

            Ao indagar “Do seu ponto de vista este programa valoriza o espaço da escola pública como campo de experiência para sua formação?”a maioria dos acadêmicos (85,14 %) afirmaram que o programa valoriza o espaço da escola pública como campo de experiência para sua formação. O posicionamento que os acadêmicos mais levam em consideração é a própria inserção do acadêmico na escola, pois com a integração do ensino superior com a educação básica, questão anterior, de fato está valorizando o espaço da escola pública, podendo ajudar no processo de aprendizagem dos escolares. Nessa perspectiva, os acadêmicos enfatizam que:

 

“Valoriza. Até porque o PIBID trouxe muita coisa boa pra gente e também para a escola campo então os professores tem uma grande expectativa na gente e a escola também a partir do PIBID cresceu muito porque muitos professores buscam métodos em relação a gente com o nosso próprio grupo eles querem buscar alguns benefícios para a escola e para os alunos a partir da gente” (28- O J).

“Contribui sim, até porque é um dos objetivos do PIBID de matemática, trabalhar em cima da melhoria desses índices do governo e do município para elevar o nível da escola nesses índices, agente já pode perceber também que nas olimpíadas de matemática que as notas deles têm melhorado na parte de matemática e também na escola como um todo para elevar os níveis de coeficiência das escolas” (57- M 2).

“O projeto busca contemplar a escola como campo para nossa formação, mas a escola não da essa oportunidade. O PIBID valoriza a escola não” (17- E I).

A perspectiva atribuída na criação do projeto tem como plano a valorização da escola como campo de experiência para formação dos acadêmicos. No entanto, conforme dito em algumas entrevistas, o PIBID valoriza, mas a escola impõe certas restrições, não permitindo que os acadêmicos exponham seus conhecimentos, dificultando o processo de ensino aprendizagem e impedindo que os objetivos do projeto sejam colocados em prática.

O desenvolvimento de mudanças na formação de alunos necessita de uma práxis pedagógica inovadora, contribuindo para a valorização do ambiente educacional, mas para isso a preparação ou a busca pelos diversos saberes do docente precisa permear a todo o momento. Concomitante a isso, a maior parte dos acadêmicos leva como virtude essa integração na escola, deixando claro que além de passar conhecimento dos acadêmicos para o alunado, oportuniza aos escolares conhecimentos e trocas de experiências, valorizando o espaço escolar.

Essa questão teve uma grande repercussão entre os acadêmicos, uma vez que 14,85% dos entrevistados não a responderam. O que pode explicar esse fator é que como a técnica utilizada (grupo focal) dá a oportunidade de expressão sem induzir as respostas, muitos acadêmicos simplesmente se negaram a responder, deixando algumas lacunas nas perguntas.

O Programa Institucional de Bolsa de Incentivo a Docência - PIBID vem proporcionar um ganho para as licenciaturas, pois além de permitir uma maior aproximação da universidade com as escolas públicas, cria maiores oportunidades dos estudantes na permanência no curso, permitindo formar um maior número de professores e também, contribuir para a formação continuada daqueles que já exercem a docência.2

Se esses objetivos são tão favoráveis a área da licenciatura por que não aumentar a quantidade de acadêmicos nesse projeto de maneira que permita que uma maior quantidade de pessoas tenha essa oportunidade de conhecimento?

Para a última questão, os resultados foram relevantes devido às grandes mudanças ocorridas na vivência do projeto, alguns estão satisfeitos e outros encontraram algumas frustrações em termos de publicações. Com relação a essa questão, obtivemos algumas respostas, indicadas abaixo:

 

“Trabalhos em colóquio, 1 trabalho apresentado em Recife, trabalho escrito no encontro do PIBID, pôster e anais- oficinas de Biotemas. Trabalho em Fórum” (4- M 1).

“Eu acho que tem um bom resultado qualitativo e não muito quantitativo. Foram muitas produções feitas, mas poucas publicadas (23- E I).

“Foi ótimo, tentamos ao máximo fazer aquela produção, pesquisamos, escrevemos, ministramos oficinas, fizemos várias publicações, participamos bastante. Não fizemos de qualquer jeito” (27- O J).

“Tudo que foi produzido foi bastante relevante em termos de quantidade foi muito, mais pode se contar no dedo qualitativamente falando” (32- C).

“Quantitativamente, agente tem participado de todos os seminários e fóruns que tá tendo [...] Acadêmico não é tão incentivado a publicar nada não, eles vão por livre e espontânea vontade, não há esse incentivo” (43-A V).

“Em âmbito de pesquisa contribuiu muito para os acadêmicos [...]54- M2).

“Foi muito bom, agente produziu bastante coisa [...] então o currículo que agente formou é muito desejável” (60- D E).

 

CONCLUSÃO

 

Tendo como base no Programa Institucional da Unimontes (2009), além de objetivar a qualificação dos licenciandos, o programa visa também à articulação teoria e prática, conforme proposto nos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de licenciatura. Desta maneira, o que foi colocado no Projeto Institucional, de certa forma, foi evidenciado na prática e ao discutir as relevâncias qualitativas e quantitativas, muitos acadêmicos disseram que o currículo de um pibidiano não se compara com o de seus colegas de sala, percebendo uma grande gratificação com relação às publicações realizadas durante a permanência no PIBID.

 

REFERÊNCIAS

1 LIBÂNIO, José Carlos. Escola brasileira, um sonho frustrado: falharam as escolas ou as políticas educacionais?In: LIBÂNIO, José Carlos; SUANNO, Marilza Vanessa Rosa (Orgs). Didática e escola em uma sociedade complexa. Goiás: UFG.  p. 75- 95, 2011.

 

2 SOUZA, Jocival Santos; SANTOS, Luiz Henrique; COSTA, Fredson Sanjuan et al. Contribuições para formação inicial de professores de ciências: Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Manaus,2011. Disponível em: Anais. http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xix/sys/resumos/T0268-2.pdf acesso em: 2 de agosto de 2011.

 

3 MOURA, Eduardo Junior Santos. Ações e perspectivas pibidianas na formação inicial de professores de Artes Visuais.In: SILVA, Márcio Antônio; VELOSO- SILVA, Rosângela Ramos; FRANÇA, Silvana Diamantino (Orgs). Reflexões e contribuições da Unimontes na formação de professores para a educação básica. Montes Claros: UNIMONTES. p. 177- 191, 2011.

 

4 SILVA, Márcio Antônio; VELOSO-SILVA, Rosângela Ramos; FRANÇA, Silvana Diamantino. Apresentação. In: SILVA, Márcio Antônio; VELOSO-SILVA, Rosângela Ramos; FRANÇA, Silvana Diamantino (Orgs). Reflexões e contribuições da Unimontes na formação de professores para a educação básica. Montes Claros: UNIMONTES. p. 15- 16, 2011.

 

5 FRANÇA, Silvana Diamantino; NETO, José França; BENTO, María Imaculada. Incentivo a docência: Considerações sobre a implementação de um subprojeto interdisciplinar de educação inclusiva no PIBID-programa de incentivo e apoio a docência. In: SILVA, Márcio Antônio; VELOSO- SILVA, Rosângela Ramos; FRANÇA, Silvana Diamantino (Orgs). Reflexões e contribuições da Unimontes na formação de professores para a educação básica. Montes Claros: UNIMONTES. p. 147- 153, 2011.

 

6 PIRES, Regina Celi Machado. Formação inicial do professor pesquisador através do programa PIBIC/CNPq: o que nos diz a prática profissional de egressos? Avaliação (Campinas) [online]. 2009, vol.14, n.2, pp. 487-514. ISSN 1414-4077.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-40772009000200012.

 

7 RELATORIO DE GESTÃO DA UNIMONTES, disponível na Pró-reitoria de Ensino e Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, Montes Claros, 2011.

 

8 VELOSO- SILVA, Rosângela Ramos; SANTOS, Bruna Gracielly. Estágio curricular supervisionado no curso de licenciatura em educação física: dificuldades e contribuições. Rev. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 52- 68, jan./jun. 2011.

 

9 PAPI, Silmara de Oliveira Gomes; MARTINS, Pura Lúcia Oliver. As pesquisas sobre professores iniciantes: algumas aproximações. Educ. rev. [online]. 2010, vol.26, n.3, pp. 39-56. ISSN 0102-4698.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982010000300003. 

 

10 LOPES, Roberto Nunes; MOURA, Eduardo Junior Santos; VELOSO, LégioAlessio. O PIBID e a formação de professores de arte: o olhar do acadêmico/ bolsista do curso de artes visuais- UNIMONTES. In: SILVA, Márcio Antônio; VELOSO-SILVA, Rosângela Ramos; FRANÇA, Silvana Diamantino (Orgs). Reflexões e contribuições da Unimontes na formação de professores para a educação básica. Montes Claros: UNIMONTES. p. 193- 204, 2011.

 

11 Projeto Institucional de Incentivo e apoio à Docência-PIBID-UNIMONTES (2009). Disponível em: http://www.unimontes..br/

 

12 SILVA, Márcio Antônio; VELOSO- SILVA, Rosângela Ramos; FRANÇA, Silvana Diamantino. Apresentação. In: SILVA, Márcio Antônio; VELOSO-SILVA, Rosângela Ramos; FRANÇA, Silvana Diamantino (Orgs). Reflexões e contribuições da Unimontes na formação de professores para a educação básica. Montes Claros: UNIMONTES. p. 15- 16, 2011.

 

13 SOUZA, Jocival Santos; SANTOS, Luiz Henrique; COSTA, Fredson Sanjuan et al. Contribuições para formação inicial de professores de ciências: Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Manaus,2011. Disponível em: Anais. http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xix/sys/resumos/T0268-2.pdf acesso em: 2 de agosto de 2011.

 

14 MARTINS, G. A.; LINTZ, A. Guia para elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Atlas. 2000.

 

15 WITTKE, Cleide Inês. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. Rev. bras. linguist. apl. [online]. 2010, vol.10, n.3, pp. 807-814. ISSN 1984-6398.  http://dx.doi.org/10.1590/S1984-63982010000300016

 

16 BARCELOS, Nora Ney Santos and VILLANI, Alberto. Troca entre universidade e escola na formação docente: uma experiência de formação inicial e continuada. Revista Ciênc. educ. (Bauru). [online]. 2006, vol.12, n.1, pp. 73-97. ISSN 1516-7313.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132006000100007.

 

17 FREIRE, Paulo. Educação e mudança, 26.ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2002.

 

Recebido em 13/04/2016

Aceito em 06/01/2017

Publicado em 03/05/2020

 



[1]Doutora em Ciências da Saúde (Unimontes). Professora da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Minas Gerais. Brasil. * (rosaveloso9@gmail.com).  (https://orcid.org/0000-0003-3329-8133).

[2]Graduada em Educação Física (Unimontes). Professora de Educação Física da rede pública de ensino (SME/Montes Claros-MG)

[3]Graduada em Pedagogia (Unimontes). Professora da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Coordenadora Institucional do Residência Pedagógica da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES).