EDITORIAL
Resumo
Montes Claros é o principal centro urbano do
Norte de Minas Gerais, e por esse motivo apresenta
características de capital regional. Seu raio de
influência abrange todo o norte de Minas e parte
do sul da Bahia. Com uma população de 361.971
habitantes, representa o sexto município mais
populoso de Minas Gerais e o 62º de todo o Brasil.
Trata-se de uma região essencialmente pobre, mas
com uma população alegre e rica culturalmente.
Embora eu não seja natural desse município, desde
a minha mudança para cá, há mais de três décadas,
muito me identifiquei com a região, da qual me sinto
pertencente e cúmplice.
Como Cirurgiã Dentista do Serviço
Municipal de Saúde e como professora do Curso de
Odontologia da Universidade Estadual de Montes
Claros – Unimontes tive a oportunidade de conviver
com a população do município. Meu vínculo com
Montes Claros firmou-se de forma intensa, o que me
motivou a buscar algum modo de dar um retorno a
sua população. “Como um mais um é sempre mais
que dois” logo me envolvi com outros que também
compartilhavam dos mesmos anseios e inquietações.
Juntos desenvolvemos trabalhos menores até ousarmos
conhecer a complexa realidade das condições de saúde
bucal da população de Montes Claros. Então, em
2006, eu e um grupo de competentes pesquisadores,
professores e acadêmicos da Unimontes apoiados
pela Prefeitura Municipal do município, propusemonos a conduzir o “Levantamento Epidemiológico das
Condições de Saúde Bucal da População de Montes
Claros, Projeto SBMOC”.
Esse projeto foi fruto da parceria entre a
Prefeitura Municipal de Montes Claros, onde foi
inicialmente concebido, e a Unimontes. Foi também
apoiado e fomentado pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG. A
metodologia adotada foi baseada no Levantamento
Epidemiológico das Condições de Saúde Bucal da
População brasileira “Projeto SB Brasil 2002/2003”.
Entrevistas e exames foram conduzidos conforme
códigos e critérios propostos pela OMS, em uma
amostra constituída por 4509 indivíduos, distribuídos
de forma que representassem as idades índices (5
e 12 anos) e as faixas etárias (18-36 meses, 15-19
anos, 35-44 anos, 65-74 anos) preconizadas para
levantamentos epidemiológicos em saúde bucal. A
coleta de dados foi encerrada em dezembro de 2009.
O “projeto SBMOC” foi um marco na
epidemiologia em saúde bucal no município, tanto
pelo ineditismo, como pela complexidade de sua
condução. Sua realização foi de grande relevância,
permitindo grandes benefícios sociais, científicos
e de capacitação de recursos humanos. Dentre os
principais ganhos destacam-se, até o momento, o
incremento da aproximação da Universidade com
o Serviço Municipal de Saúde, a capacitação de
trinta e três Cirurgiões Dentistas desse serviço em
levantamentos epidemiológicos e em diagnóstico/
tratamento de lesões de mucosa, colaborando ainda
na capacitação de professores. Alguns professores
que ingressaram em programas de pós-graduação
doutorado e mestrado utilizaram ou estão utilizando
a base de dados do projeto SBMOC. Durante a sua
realização, foi possível a condução de iniciação
científica e a concessão de bolsas de pesquisa, via
FAPEMIG e CNPQ. Foi viabilizada a implantação do
Núcleo de Estudos do Grupo de Pesquisa Vigilância da
Saúde e o desenvolvimento e registro de propriedade
intelectual do software utilizado na coleta de dados
com direitos autorais registrado em nome de seus
idealizadores, da Unimontes e da FAPEMIG. O
projeto permitiu ainda, estímulo à capacidade crítica
dos acadêmicos de graduação, dos pós-graduandos,
professores e dos profissionais inseridos no serviço
público de saúde do município.
Foram muitos os percalços até chegarmos
aqui. Parcerias feitas e desfeitas, contatos, acordos,
dificuldades, mas também muitas amizades e alegrias
vivenciadas em todo o processo. A finalização da
coleta de dados não diminuiu os desafios a serem
enfrentados, pois estamos agora diante de um banco
de dados extenso e complexo, que possivelmente
permitirá a redação de outros trabalhos acadêmicos
e científicos. Por tudo isso, é com satisfação que
apresentamos, em primeira mão, à comunidade
acadêmica, os principais resultados do “Projeto
SBMOC”. Nosso compromisso primordial, de
“devolver” tais dados à Unimontes à população
do município, e a seus gestores, não é somente
importante, mas eticamente necessária. Esperamos
que diante do reconhecimento da realidade, muito se
possa planejar e efetivamente se fazer.
Aproveito o momento para agradecer aos
que contribuíram na concretização do projeto,
especialmente à população que nos acolheu em seus
domicílios, abrindo suas portas e suas vidas aos nossos
entrevistadores; à FAPEMIG, pela credibilidade;
à Prefeitura Municipal de Montes Claros e à
Unimontes, pelo apoio logístico. Um trabalho dessa
magnitude exigiu esforço e dedicação de muitos,
tanto de pessoal ligado ao serviço ou à universidade,
quanto daqueles que, sem nenhuma vinculação direta,
apoiaram simplesmente por idealismo. Foram tantas
as contribuições, que se torna inviável a menção a
todos. A esses, nosso grande reconhecimento e nosso
muito obrigado, pois sabemos que a força motriz de
todo o processo, foi a confiança de que chegaríamos
a um resultado fidedigno e cientificamente confiável,
que efetivamente retratasse a realidade da saúde bucal
dos munícipes. Espero que possamos e saibamos
utilizar de forma consistente esses dados, contribuindo
efetivamente com a melhoria das condições bucais da
população, minimizando os reais problemas de saúde
bucal que a afligem, colaborando no estabelecimento
de prioridades, alocação de recursos e orientação de
programas para prevenção e controle das doenças
bucais, representando a base para a estruturação de
um sistema de vigilância epidemiológica em saúde
bucal em Montes Claros.