As múltiplas faces da violência

Autores

  • Regina Célia Lima Caleiro Doutora em História, docente da Universidade Estadual de Monte Claros; organizadora do presente dossiê

Resumo

O século xx, recém findo, foi cenário de múltiplas
formas de violência cujas dimensões e complexidades deram origem à incontáveis debates efetuados
por representantes dos mais diversos setores sociais. Percebe-se nestes debates que as pessoas, quase sempre, deixam transparecer em suas falas o sentimento de nostalgia de um passado temporalmente
indefinido onde parecia reinar a paz, a lei e a ordem.
Acreditamos que esta nostalgia reflete o fato de que
as produções acadêmicas restringem-se a um público infinitamente pequeno em relação à população de
modo geral, o que acaba resultando na sensação de
que transitamos de uma sociedade pacífica e cordata
para um mundo novo, Mundo onde as múltiplas formas assumidas pela violência inquietam a sociedade
que clama por formas e fórmulas capazes de anular a
violência que permeia nosso dia a dia.
Entretanto, a violência não é e não foi apanágio de
momentos especiais da trajetória humana, tampouco
reflete comportamentos periféricos ou pitorescos

de mentes insanas ou de Estados excepcionalmente
motivados para seu emprego.
Com estes pressupostos pesquisadores das diversas
áreas do conhecimento debruçaram-se sobre o tema
“violência”, tão amplo que pela amplitude de seus
desdobramentos e abordagens, bem como pela sua
atualidade, definiu o tema do dossiê ora apresentado.
Contrariando uma pretensa tradição pacífica da nossa história as pesquisas demonstraram como as inúmeras formas assumidas pela violência foram incorporados à nossa formação social, terminando por
banalizar comportamentos inaceitáveis.
Colocar as questões nestes termos significa investigar as especificidades que informaram historicamente
nossas práticas cotidianas, institucionais e religiosas que subsidiam nossa forma peculiar de utilizar
diversas formas de violência contra todos aqueles a
quem consideramos como inferiores.

Há que se considerar que a agressão é própria de
todo ser vivente em função de fatores associados à
sobrevivência, portanto não é ação exclusiva dos seres
humanos. Por isso, o conceito de violência só adquire significado quando relacionado ao homem,
tendo em vista sua racionalidade. Esta constatação
talvez seja a mais difícil de encararmos, porquanto
aponta para a responsabilidade que todos os seres
racionais tem para com seus semelhantes e também
para com os que considera como inferiores.
Importa lembrar que a violência também se expressa
de formas sutis e não apenas em atos explícitos e
são, por vezes, geradoras de sofrimentos muito
amplos. Outro aspecto a se considerar é que a divulgação da violência que tanto apavora a população

desnuda um espaço físico cujo denominador comum
é quase sempre a pobreza, isso não significa que as
camadas da população mais privilegiadas economicamente estejam imunes às práticas violentas, significa apenas que nossa tradição cultural, social e histórica encontrou meios de retirar do cenário das classes perigosas os poderosos.
Tributária da violência é a negligência, a negação de
seus reflexos em todas as instâncias ocupadas pelo
ser humano. Felizmente a academia não se mantém
omissa, e as pesquisas desenvolvidas são, com certeza, um grande passo para assumirmos uma nova
postura, tanto pessoal como acadêmica, perante as
múltiplas faces assumidas pela violência.

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Publicado

2020-05-15

Como Citar

LIMA CALEIRO, R. C. . As múltiplas faces da violência. Revista Unimontes Científica, [S. l.], v. 6, n. 2, 2020. Disponível em: https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/2438. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

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