A Construção Social da Identidade Feminina na Periferia de Montes Claros
Resumo
A afirmação de que a mulher como sujeito social não é uma realidade homogênea, mas que
ela vive e se constitui como mulher nas diferenças sociais e culturais do grupo ao qual
pertence é, hoje, objeto de estudo da Sociologia, da Antropologia e da História, entre
outras. Numa tentativa de compreender a construção social da identidade feminina, a
academia tem percebido a importância de se pesquisar e estudar este fenômeno social.
A compreensão da mulher como construção social é um tema polêmico. No Brasil, como
em outras sociedades, o tema da desigualdade entre homens e mulheres passa pelas
representações que são transmitidas de geração em geração, que, constituída em “cultura”,
define o lugar do homem e da mulher como âmbitos diferenciados e antagônicos. Essa
definição restrita de “lugar” dá origem a relações de opressão, exploração e domínio.
Uma nova maneira de apreender as relações existentes entre homem e mulher é dada pela
categoria gênero. Segundo RAGO (1998), a análise relacional do gênero propõe a
superação da lógica binária - de um lado masculino, ativo e racional, e outro feminino,
passivo e emocional - para que se construa um novo olhar aberto às diferenças. Para
SCOTT (1990), os conceitos de gênero estabelecidos como um conjunto objetivo de
referências, estruturam a percepção e a organização concreta e simbólica de toda a vida
social. Utilizando o conceito de gênero, pretende-se fazer uma leitura da complexidade das
relações humanas.
Essa pesquisa tem como objeto de estudo a construção da identidade feminina no bairro
Maracanã e adjacentes, periferia de Montes Claros, cujos moradores são, em sua maioria,
de origem rural. Este espaço geográfico favorece o estudo da construção social da
identidade feminina em circunstâncias conflituosas, na passagem da vida rural para a vida
urbana, em tempos e espaços diferentes, com as respectivas tensões e conflitos entre velhos
valores e novas realidades materiais, com as formas de se relacionar com o homem nos
diferentes âmbitos: família, trabalho, sociedade/comunidade, utilizando a categoria de
gênero como perspectiva interpretativa.
O universo da pesquisa está formado especialmente por mulheres de origem rural que ainda
estão em processo de adaptação ao mundo urbano. O procedimento metodológico adotado é
o estudo de caso dado à flexibilidade que oferece a respeito dos métodos de coletas de
dados. Utiliza-se como técnicas de coleta de dados a entrevista “semi-estruturada” e
“história de vida” . A entrevista semi-estruturada nos permite uma relação dinâmica entre
entrevistador e entrevistado. O objetivo desta é ampliar a possibilidade de comparar o
material coletado e auxiliar com outras técnicas. A história de vida tem como função
principal retratar as experiências vivenciadas. A contribuição fundamental é fornecer a
noção de “processo em movimento”, que requer uma compreensão íntima da vida dos
outros, assim como uma riqueza de detalhes sobre este processo. Na tentativa de reconstruir
através da “memória” as experiências vividas pelas mulheres, com o fim de auxiliar na
compreensão de como se construíam as relações de gênero antes da migração, serão
coletados depoimentos de homens e mulheres que vivenciaram a passagem da vida rural à
urbana.
Neste sentido, a pesquisa pretende documentar mais um capítulo das múltiplas
configurações que assumem as relações de gênero no Brasil, a partir da construção da
identidade feminina. Pretende ainda, oferecer subsídios que possam orientar políticas
públicas direcionadas às mulheres de baixa renda.
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Referências
Campinas: UNICAMP, 1998.
SCOTT, J. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Educação e realidade, v.16, p.
5-22, 1991.