As mulheres na fazenda: dois dedos de prosa sobre terra, trabalho, família, cor e valor-dissociação na Serra do Cabral
DOI:
10.46551/rvg2675239520211124150Palavras-chave:
Valor-Dissociação, Modernização, Norte de Minas GeraisResumo
Este artigo analisa, sob a égide marxista do teorema da crítica do valor-dissociação proposto por Roswitha Scholz, a participação de uma geração específica de mulheres expropriadas na territorialização da Serra do Cabral, ao norte de Minas Gerais, ao longo do século XX. Expropriadas tanto no garimpo de diamantes e na fazenda pecuária, bases daquele processo de ocupação e formação regional, quanto na posterior silvicultura, que introduziu relações de trabalho modernas com vias à abertura da região sob o discurso de modernização econômica. Com o suporte de entrevistas e pesquisas de campo, apresenta-se a dissociação do valor não restrita à questão de gênero, mas também conectada à cor, dada a condição periférica de um país de recente passado escravista. Com isso, o presente trabalho expõe o sertão norte mineiro, desde o século XVII, no prelúdio de sua territorialização, como uma particularidade da abrangência da sociabilidade moderna capitalista, habitado por mulheres historicamente imiscuídas no processo de produção, seja na reprodução da família, na produção de excedente e no acesso à liberdade negativa.
Downloads
Referências
BALIBAR, Étienne. Le retour de la race. Mouvements, n. 50, p. 162-171, 2007. Disponível em: <https://www.cairn.info/revue-mouvements-2007-2-page-162.htm>. Acesso em: 1 fev. 2020.
BOLLE, Willi. Grandesertão.br: o romance de formação do Brasil. São Paulo: Editora 34, 2004.
BOLSANELLO, Maria Augusta. Darwinismo social, eugenia e racismo “científico”: sua repercussão na sociedade e na educação brasileiras. Educ. rev., Curitiba, n. 12, p. 153-165, Dec. 1996.
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2004.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2006.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: AnnaBlume, 2006.
HEIDEMANN, Heinz Dieter. Os migrantes e a crise da sociedade do trabalho: humilhação secundária, resistência e emancipação. In: Migrações: discriminação e alternativas. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 25-40.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
KRISIS, Grupo. Manifesto contra o trabalho. São Paulo: Coletivo Sabotagem, 1999.
KURZ, Robert. Fetichismo sexual: notas sobre a lógica de feminilidade e masculinidade. O Beco, 1992. Disponível em: . Acesso em: 24 jul. 2020.
LEITE, Ana Carolina Gonçalves. O campesinato no Vale do Jequitinhonha: da sua formação no processo de imposição do trabalho à crise da (sua) reprodução capitalista. Orientador: Heinz Dieter Heidemann. 2015. 785 p. Tese (Doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. São Paulo: Hucitec, 2004.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013. 3 v.
MENEGATTI, Jéssica C. L. Mulher sem Valor: o pensamento de Roswitha Scholz para a crítica radical do capitalismo e das relações de gênero. Orientador: Tales Afonso Muzfeldt Ab’Sáber. 2016. 104 p. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2019.
MORLEY, Helena. Minha vida de menina. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016.
OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gião: Sudene, Nordeste. Planejamentos e conflitos de classes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão Nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec; Edusp, 2002.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Global, 2015.
ROLIM, Leonardo Cândido. Projetos de colonização para os sertões do Norte no “Roteiro do Maranhão a Goiás pela Capitania do Piauí” (c. 1770-1790). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 28., 2015, Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: Anpuh, jul. 2015. p. 1-9.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
SCHOLZ, Roswitha. O sexo do capitalismo: teorias feministas e metamorfose pós-moderna no patriarcado. O Beco, 2000. Disponível em: <http://www.obeco-online.org/roswitha_scholz6.htm>. Acesso em: 27 ago. 2019.
______. O valor é o homem. Teses sobre a socialização pelo valor e a relação entre os sexos. O Beco, 1992. Disponível em: <http://www.obeco-online.org/rst1.htm>. Acesso em: 2 jul. 2019.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar. In: Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1992. p. 10-31.
SPIX, Johann Baptist von; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
TOLEDO, Carlos de Almeida. A região das lavras baianas. Orientador: Heinz Dieter Heidemann. 2008. 246 p. Tese (Doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
VIANNA, Oliveira. Populações meridionais do Brasil. Brasília, DF: Edições do Senado Federal, v. 27, 2005.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Suelen Rosa Pelissaro
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato
O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
NãoComercial — Você não pode usar o material para fins comerciais.
SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.
Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.